Buscando… apresenta uma narrativa nada convencional
Buscando… (Searching) é um filme que subverte, de forma negativa, e ofende a linguagem cinematográfica. Dirigido pelo estreante Aneesh Chaganty, a história é um thriller policial sobre o desaparecimento repentino de uma adolescente chamada Margot (Michelle La) e a incessante procurade seu pai David Kim (John Cho, o Sulu de Star Trek: Sem Fronteiras), auxiliado pela detetive Vick (Debra Missing).
Valendo-se de uma narrativa não convencional, o diretor troca a linguagem cinematográfica pelo uso de imagens de redes sociais, câmeras de segurança, arquivos televisivos e até mesmo chamadas de vídeo de celular. Basicamente, é uma colcha de retalhos de serviços tecnológicos montados a partir da perspectiva de textos, fotos e vídeos de diversos personagens, sempre salientando todos esses aspectos através das ações e escolhas de David Kim e sua relação direta ou indireta com o restante das pessoas que cercam a vida de Margot.
Na tentativa de inovar, Chaganty desconsidera e anula tudo aquilo que, a priori, faz parte das noções básicas da gramática visual para compor um desserviço à Sétima Arte, destruindo todo e qualquer elemento considerado essencial para um filme.Primeiramente, não há planos. Isso se você, caro leitor, considerar que telas de Instagram e conferências realizadas por Facebook ou celular podem ser chamadas de planos e serem capazes de compor uma mise-en-scène.
Fuga das regras básicas
Em determinado momento da projeção, o uso destas imagens soa ridículo, já que o realizador tenta constituir uma composição fotográfica alicerçada por muitas janelas abertas de aplicativos diversos. Essa “inovação” acaba ainda por prejudicar o próprio ritmo do filme, tornando-o extremamente cansativo já em seus minutos iniciais. O que se segue é uma tortura audiovisual que dura quase duas horas. Se o intuito do diretor era dinamizar a narrativa e torná-la instigante, o tiro saiu pela culatra.
O desastre causado por Buscando… pelo menos nos apresenta um questionamento importante: existe algum limite para a linguagem cinematográfica? De fato, pensar em restrições para o desenvolvimento do cinema é impedir processos revolucionários para a arte. Entretanto,deve-se, primeiramente, respeitar alguns conceitos básicos. Destituir um filme de planos, ângulos e movimentos de câmera, por exemplo, não é algo revolucionário. Na verdade, tudo isso acaba sendo um retrocesso, colocando a própria obra à margem daquilo que entendemos hoje como dramaturgia cinematográfica.
E é exatamente isso que o filme provoca. A única salvação é o roteiro (que também peca por ser previsível em muitos momentos), mas que também é prejudicado pelas escolhas visuais do diretor. Buscando… não é e nunca será cinema. Ou talvez eu não esteja preparado para absorver uma transformação tão radical. E será que alguém está preparado para rupturas como essas? Torcemos para que esse dia nunca chegue.