Todo feito em sequência, novo filme de Alejandro Iñárritu é original, mas não voa alto, mesmo tendo o nome que tem e colocando Michael Keaton novamente em um uniforme! Mas calma; o ator sessentão não vai viver novamente o Cavaleiro das Trevas. Agora você pode chama-lo de Birdman! Lançado em águas internacionais em outubro do ano passado, o novo filme da Fox Searchlight (a divisão artística da Fox) chegou ”voando” no Brasil somente este mês, e acredite você vai querer ver este último vôo do homem-pássaro.
A produção acompanha a busca do decadente ator Riggam Thomson, vivido por Michael Keaton, em se firmar novamente nos anais da atuação. Grande astro do cinema no passado, por ter interpretado o super-herói Birdman em três filmes, o ator, agora esquecido (ou quase), se vê com os pés nos palcos da Broadway. Divorciado e com uma filha recém-saída de uma clínica de reabilitação, Riggam luta para que o seu espetáculo, uma adaptação do conto What We Talk About When We Talk About Love do escritor Raymond Carter e seu grande ídolo, dê certo. Até aí tudo bem, isso se Thomson não fosse assombrado pelo próprio Birdman, em uma espécie de segunda consciência que confere ao falido ator poderes de levitação e telecinese. Subjetivo ou não, aí vai de cada um…
Escrito e dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu, responsável pela elogiada Trilogia da Morte e Biutiful, seu novo filme é uma sátira inteligente, disfarçada de drama e temperado com pitadas de humor negro. Birdman proporciona um sentimento muito pessoal de crueldade ao nos deliciarmos internamente com cada pequena tragédia que compõe as figuras decadentes de todos os personagens que vemos em cena. E acredite, a sensação é boa! Além da história do protagonista, a película coloca em sua mira a Hollywood contemporânea com seus excessivos filmes de super-heróis, seus atores que são modinha e os próprios críticos metidos a intelectuais. Entre os alvos de Iñárritu estão nomes como Robert Downey Jr., Jeremy Renner e Ryan Gosling.
A produção faz bom uso do seu protagonista, Keaton, o eterno Batman de Tim Burton. Claramente a figura de Birdman na vida de Thomson é uma versão trágica do que o grande herói de Gotham significou na carreira do ator. Além do ex-Batman, também estão no elenco Edward Norton, Naomi Watts, Zach Galifianakis, Emma Stone e Andrea Riseborough. Aqui, Norton rouba a cena diversas vezes das mãos de Keaton ao dar vida ao egocêntrico Mike Shiner, ator hollywoodiano que veio para infernizar a vida de seus companheiros de palco. Dos atores citados, a interpretação de Norton é de longe a mais genuína de todas. Mesmo assim, cada um consegue ser original em seu papel e seu timing, se destacando em tela e se tornando interessante para o expectador, que dentro do ambiente do filme se depara com alguns estereótipos do ramo, desde o ator egocêntrico, passando pela atriz insegura até o produtor louco para vender ingressos.
Esteticamente falando, Birdman tem um trunfo melhor que qualquer super-herói poderia ter em seu cinto de utilidades. O filme é rodado em plano-sequência, a câmera passeando pelas entranhas do teatro atrás de cada personagem para compor sua narrativa. Claro que cortes existem, disfarçados em uma rara penumbra aqui e ali. A técnica, admirada por muitos, confere ao filme uma certa ousadia que merece admiração. Já a trilha sonora que tem o ritmo harmônico do jazz ficou a cargo do baterista mexicano, Antonio Sánchez. Por ser o único instrumento musical presente no filme, a bateria de Sánchez se torna parte da trama de um jeito muito característico, amarrando todo o pacote de emoções e “viagens” que é Birdman. A trilha está tão enraizada com o filme que além de cada batida da bateria de Sánchez condizer com as próprias batidas que o protagonista dá na parede em certa passagem do filme, não se surpreenda ao ver o músico e sua bateria fazendo breves pontas entre os atores.
Discreto mas estrondoso em seu próprio ínterim, Birdman (Ou A Inesperada Virtude da Ignorância) não tem nada de muito heróico. É um ótimo filme, uma boa crítica, valoroso esteticamente mas linear em termos de enredo. Calmo e até mais arrastado do que deveria, dá a impressão de que o roteirista e o diretor não queriam que o filme terminasse. Mesmo assim, todas as explosões desta obra, sejam elas dentro ou fora de seus personagens, merecem ser conferidas!
[su_youtube url=”https://www.youtube.com/watch?v=n7kPKVxuz6k&index=1&list=PLlYL4bivIOHnnlOqMzKTTUDoQSGavAy_8″]