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Bingo: O Rei das Manhãs – Enfim, um filme para sorrir!

Bingo: O Rei das Manhãs é pura matemática

Um filme de Daniel Rezende já chamaria a atenção normalmente. O diretor/montador é responsável pela montagem dos maiores filmes do cinema brasileiro da retomada (Cidade de Deus e os dois da franquia Tropa de Elite). Também não é preciso muito esforço para reconhecer a competência de Luiz Bolognesi, roteirista já consolidado no cinema nacional e com obras premiadas no currículo como Bicho de Sete Cabeças, Uma História de Amor e Fúria e As Melhores Coisas do Mundo. A soma de dois grandes do cinema já seria suficiente para criar um bom filme. Mas Bingo: O Rei das Manhãs tem um fator exponencial: Vladimir Brichta. O mineiro rouba o filme!

Crítica de Bingo: O Rei das Manhãs

Bingo: O Rei das Manhãs

No papel de Augusto Mendes, o primeiro intérprete do palhaço Bingo, que originalmente havia sido escrito para Wagner Moura (comprometido com Narcos naquele momento), Brichta encontrou o personagem de sua vida. O ator, naturalmente expansivo, trouxe toda a malandragem que o personagem precisava sem perder o olhar meigo de um pai que ama um filho e de um filho que idolatra a mãe.

Inspirado na vida de Arlindo Barreto, a história cobre a trajetória do ator desde seu início no mundo da pornochanchada até o estrelato e queda como o palhaço Bozo, nome trocado, evidentemente, por conta dos direitos sobre a marca norte-americana . Hoje, pastor evangélico, o filho da falecida atriz Márcia de Windsor tinha uma vida desregrada e um comportamento errático e autodestrutivo, regado a drogas, álcool e mulheres, que o tornam um personagem ideal para ser adaptado ao cinema. Óbvio que houve muita liberdade criativa na adaptação.

No filme, a relação entre o palhaço de Brichta e sua mãe (interpretada lindamente pela atriz Ana Lucia Torres) é muito bem explorada e com uma química de encher os olhos (a relação edipiana é colocada de uma maneira emocionante numa cena em que o dois encenam em italiano). A vida da mãe parece ser contada sempre de maneira teatral, o que trouxe uma beleza a mais ao filme.

Crítica de Bingo: O Rei das Manhãs

O elenco tem altos e baixos. Augusto Madeira faz um ótimo coadjuvante e Leandra Leal (de O Rastro) fez o que pôde com uma personagem que precisava se manter discreta para mostrar oposição ao protagonista, mas outros papeis parecem um tanto soltos demais, como os de Emanuelle Araújo e Tainá Miller.Um certo ar nostálgico entra em cena com a participação de Domingos Montagner. Nesse momento o filme parece homenagear o falecido ator, que amava ser palhaço. Soren Hellerup, ator dinamarquês veterano, cujo currículo inclui séries americanas como Alias e Scrubs, interpreta um figurão norte-americano e é uma boa surpresa.

O bom roteiro de Bolognesi é maduro e cheio de bons momentos, além de apresentar um domínio técnico e um ritmo que poucos têm no Brasil, mas assim mesmo comete um erro ou outro ao enfatizar demais certas cenas com a mesma função narrativa. Em alguns momentos, o filme parece redundante como no arco entre o protagonista e o filho.

Direção e outros aspectos técnicos

A estreia de Rezende na direção de um longa também foi boa, mas é possível perceber alguns abusos estéticos que poderiam ser deixados de lado. Não dá para negar sua competência como cineasta, seu uso de signos, o preciosismo com detalhes é evidente, mas seu trabalho nesta função ainda carece de um pouco de refinamento. Felizmente, a trilha sonora foi muito bem escolhida e é relevante na narrativa, tanto para trazer o clima “oitentista” quanto para acrescentar camadas ao filme.

Crítica de Bingo: O Rei das Manhãs

Tecnicamente, também é interessante destacar o uso das luzes e do clima de palco de teatro e circo, em oposição ao clima de televisão para mostrar o estado psicológico do protagonista. A direção de arte se faz notar sutilmente como deve ser, mas trazendo muita riqueza ao filme. No entanto, o tratamento de cor não parecia ter muita unidade. Não desabona o filme, mas me incomodou.

Enfim, Bingo: O Rei das Manhãs é uma soma de grandes profissionais com uma boa história, o que só poderia resultar em algo positivo. Há tempos que o cinema nacional precisava de algo assim, dando motivo para o público sorrir.

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