Confesso que nunca vi nenhum filme da franquia Anjos da Noite. Nem durante a adolescência essa franquia me chamou a atenção, só sabendo que era sobre um romance proibido entre uma vampira e um lobisomem. Pois bem, após ver esse novo capítulo, intitulado Guerras de Sangue (Underworld: Blood Wars), sinto que não perdi absolutamente nada enquanto estive longe dessa história.
Esse quinto filme mostra a vampira Selene (Kate Beckinsale), que após perder o contato com a sua filha e seu marido, é caçada pelos dois lados: pelo clã de vampiros, ao qual era fiel e traiu e pelos lobisomens, chamados de Lycans. Quando os vampiros descobrem que o terrível Marius (Tobias Menzies) é o novo líder dos Lycans, decidem fazer um pacto com Selene para que contenha essa ameaça e acabe de vez com a guerra entre os clãs.
Se a trama já soa genérica e desinteressante na sinopse, na prática ela consegue se superar: se torna genérica, desinteressante, clichê, previsível e estúpida. O roteirista da tal trama é Cory Goodman, que tem no currículo obras como O Último Caçador de Bruxas, Apollo 18 e Padre. Ele mostra aqui o mesmo talento nulo apresentado nos outros trabalhos: o roteiro não tem ritmo; os personagens são desinteressantes, burros e clichês; os diálogos são horrorosos e as “reviravoltas” do texto são, no mínimo, risíveis. No fim, o maior mistério da história acaba sendo como chamam esse cara para escrever algo, pois esse roteiro tem erros típicos de estudante de cinema.
Se no campo da escrita já está infantil e imaturo, o que dizer da direção de Anna Foerster? Simples! Consegue ser tão ruim quanto o roteiro. A diretora não tem noção alguma de como filmar qualquer coisa, nem mesmo uma simples conversa entre dois personagens. Utiliza planos feios e desinteressantes, sem saber comandar atores. Para ela, parece que os intérpretes precisam apenas fazer caras e bocas para câmera, o que resume a “atuação” de todo o elenco. O único que se salva, em termos, é o veterano Charles Dance, que consegue ter uma presença poderosa quando está em cena. O resto é pose para a câmera.
A diretora mostra também não ter noção alguma de como dirigir sequencias de ação, que era pra o ponto mais importante de um filme como esse. Foerster erra no mesmo quesito que tems e tornado comum no cinema de ação norte-americano: excesso de cortes e quebra de eixo de câmera, impossibilitando o espectador de entender o que está acontecendo. Ninguém entende os golpes desferidos pelos personagens, pois quando um acontece, lá vem um corte em cima. Isso acaba tirando o impacto do golpe e o espectador não consegue compreender a coreografia da cena, além de se perder na relação espacial dos personagens. Piorando, a fotografia escura de Karl Walter Lindenlaud deixa tudo incompreensível.
A cineasta parece ser uma grande fã de videogames, pois a maioria das cenas de ação soa mais como cinematics (animações que acontecem entre as fases dos jogos) do que cinema. Os fãs de Mortal Kombat entenderão as referências. Ou seja, todos os elementos que deveriam ajudar a criar as cenas de ação, são os que acabam deixando-as incompreensíveis e genéricas.
O visual do filme é um dos mais feios que conferi nos últimos anos, absurdamente óbvio e de muito mau gosto. Exemplo: há dois clãs de vampiros, os do norte e os do sul. Os do sul são guerreiros, por conta disso acabam usando apenas roupas pretas e a casa do clã é toda cheia de espadas, enquanto os do norte são pacíficos e só utilizam roupas brancas e moram em um mosteiro. Tudo óbvio demais, além dos figurinos e penteados soarem como fantasias de carnaval por conta de sua artificialidade. Ah, o design dos lobisomens também é risível, parecendo mais como vilão de Power Rangers do que alguma criatura ameaçadora e monstruosa. Os efeitos especiais são péssimos, assim como a interação deles com os atores. Quando Selene enfrenta Marius, parece que a moça luta contra o ar.
Enfim, nada se salva nesse Anjos da Noite: Guerras de Sangue. Talvez a única única coisa boa é que ele é um filme que não necessita que o espectador tenha visto os outros, já que o começo traz um resumo dos acontecimentos anteriores. De resto, é um longa que falha em praticamente tudo que pretende, tornando-se uma comédia involuntária. Depois disso, acho que é melhor evitar ver os outros filmes da franquia. De franquia trash encabeçada por uma heroína badass, fico com Resident Evil mesmo.