O sucesso mundial do jogo Angry Birds pode ser uma consequência de sua simplicidade. Despretensioso quanto a qualquer tipo de narrativa, o game consiste, basicamente, em derrubar fortalezas e castelos arremessando pássaros – cada um com seu poder – diretamente em seus alvos. Mas como transformar algo que foi concebido de tal forma em um filme onde haja, no mínimo, um roteiro com protagonista, antagonista e uma narrativa em três atos? A velha receita da jornada do herói, claro! Fórmula simples, porém eficiente em termos de desenvolvimento de personagens, mas neste caso específico, infelizmente, o mesmo não confere carisma algum a eles, ou funciona em outros aspectos, como a criação deste universo diegético.
Em Angry Birds: O Filme (The Angry Birds Movie), acompanhamos a jornada de Red (dublado por Marcelo Adnet), que após um incidente desagradável, desconta toda sua raiva em outra família de pássaros. A partir daí, o protagonista é condenado a fazer terapia para controlar sua fúria e lá conhece Matilda (Dani Calabresa), Chuck (Fábio Porchat) e Bomba. Quando um bando de porcos verdes chega à ilha onde eles moram, Red começa a desconfiar das verdadeiras intenções dos animais, cabendo a ele e a seus amigos convencer os outros habitantes que seus visitantes não são tão amistosos como parecem.
O estilo de animação é extremamente funcional, contando com uma construção visual de personagens que faz com que o espectador identifique-se com as aves: Olhos grandes e expressivos para os protagonistas, bocas tortas e desdentadas para os antagonistas. O maior problema talvez seja a ambientação, completamente desinteressante. Tanto o roteirista Jon Vitti – cujos créditos incluem episódios de Os Simpsons – quanto os diretores estreantes Clay Kaytis (veterano presente em produções como Detona Ralph e Frozen) e Fergal Reilly (profissional dos departamentos de arte de Homem-Aranha 2 e Hotel Transilvânia, entre outros), poderiam seguir o exemplo do ótimo Zootopia e investir em algo semelhante. Diferente da cidade onde diversas espécies vivem juntas, a ilha desses pássaros é completamente desinteressante, já que não vemos a fundo como o lugar funciona, além da interação entre as aves ser muito rasa. A falta de carisma dos personagens também é notória. Se em outras animações – podemos considerar Divertida Mente aqui – os protagonistas transbordam emoções e complexidade, em Angry Birds eles limitam-se a apenas um sentimento e dancinhas para conquistar o espectador.
Pelo menos, a dublagem nacional funciona muito bem. Adnet, Calabresa, e Porchat conseguem dar um sopro de vida a seus desinteressantes personagens e em momento algum o espectador lembra quem são os donos daquelas vozes, contribuindo para a imersão total no filme. O problema é que o marketing excessivo em cima das figuras dos irmãos Piologo, e Pathy dos Reis não se justifica, já que a participação dos mesmos é muito pequena, podendo frustrar os fãs dos youtubers.
A montagem do filme tem alguns problemas, principalmente no primeiro ato. Existe uma espécie de retrospectiva do passado de Red em flashbacks, para entendermos um pouco mais sobre o perfil do personagem. O grande inconveniente é que essa retrospectiva é feita de maneira completamente não linear, que até poderia funcionar se não estivéssemos falando de um filme infantil. Um ponto positivo a ser ressaltado é a trilha sonora, que conta com diversos clássicos da música pop.
Por fim, ao término do terceiro ato – que é concluído de uma forma que apenas tenta justificar a adaptação do game – fica uma impressão de que o filme poderia ser muito melhor, caso fosse como os famosos curtas-metragens que a Pixar produz, já que nem essa história ou seus personagens justificam uma hora e meia de projeção.