Esta belíssima e emocionante produção belga de 2012, mas que chegou às telas brasileiras somente em 2014, é sem dúvida uma das mais emocionalmente dilacerantes experiências cinematográficas que pude vivenciar em mais de três décadas de vida. Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown) machuca o espectador, ao mesmo tempo em que o mergulha em uma dramática jornada de imensurável valor humano.
A produção acompanha a apaixonada relação do casal formado pelo cantor country Didier (Johan Heldenbergh, de Moscou, Bélgica), e a tatuadora cheia de vida Elise (Veerle Baetens, de Loft), desde o momento em que se conhecem, até quando se casam e ganham um bebê, a pequena Maybelle. Apesar da mudança radical no modo de vida do casal com a chegada da criança, Didier e Elise revelam-se pais dedicados, e ainda apaixonados um pelo outro. Quando aos seis anos de idade, Maybelle é diagnosticada com uma terrível doença, Didier e Elise terão sua relação testada de maneira triste e implacável.
Dirigido por Felix van Groeningen (Steve + Sky), Alabama Monroe é baseado em uma peça de teatro/show musical, escrita pela dupla Johan Heldenbergh e Mieke Dobbels. Adaptado a seis mãos pelo próprio Groeningen, em parceria com Carl Joos (The Treatment) e Charlotte Vandermeersch, o roteiro do filme passa longe dos cenários estáticos de uma peça teatral, e embarca seu público em uma vibrante e profunda viagem repleta de muita música country, uma das forças motrizes da narrativa. Apesar de ser uma produção européia, está completamente imersa na musicalidade de raiz norte-americana, usando suas melodias para fortalecer o comovente desenvolvimento do filme, que discute a força do amor – e principalmente da fé – frente a insuportável dor da perda. Em diversos momentos musicais, Didier, Elise e sua excelente e fiel banda cantam as dores, paixões, medos e esperanças de seus personagens, quase que numa narração que transcende o didatismo e transforma-se em música emocionante.
Como não poderia deixar de ser, a trilha-sonora do filme é um arraso. Além das canções serem lindas por si só, a entrega de seus intérpretes adiciona uma carga dramática ainda maior às suas fortíssimas performances, que brilham em cada segundo da produção. Algumas sequências, como a cena em que o casal interpreta a canção “If I Needed You“, e a absurdamente poética sequência final da produção, são simplesmente dilacerantes, literalmente mastigando o coração do espectador.
Apesar de ser um dos maiores nomes da música negra de toda a história, o grande intérprete Ray Charles certa vez declarou que um de seus gêneros musicais favoritos, era o Country. “Porque as músicas country são as que contam as melhores histórias“, disse o genial cantor. Alabama Monroe é uma destas histórias, que merece ser vista (e ouvida) infinitas vezes, mesmo que machuque demais o coração.
