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A Visita – Shyamalan fez de novo!

A Visita foi comentado no Formiga na Cabine!

A Visita

M. Night Shyamalan ascendeu meteoricamente escrevendo e dirigindo O Sexto Sentido, seu terceiro filme, lançado em 1999. É um bocado de tempo até aqui, sem haver novamente emplacado um sucesso semelhante de público e crítica, portanto, melhor nem entrar nos méritos do restante da filmografia do cineasta e ficar somente nesta última empreitada. O anúncio e os trailers de A Visita (The Visit) trouxeram alguma expectativa de retomada de um tipo de suspense mais contido, na linha que o tornou conhecido, inciativa bem vinda em uma carreira que se arriscou em outros rumos sem agradar.

Infelizmente a boa intenção não basta – como diz o ditado popular – e nenhuma premissa, por mais interessante que seja, se segura se for construída em bases frágeis.  No caso, essa fragilidade tem um nome: found footage! Para quem não é familiarizado com o termo, consiste naquele tipo de narrativa contada com as imagens das câmeras dos personagens, uma moda em filmes de terror/suspense que se mantém desde A Bruxa de Blair, lançado no mesmo ano do estouro de Shyamalan.

Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) são dois irmãos adolescentes que vão sozinhos passar uma semana com os avós maternos (Deanna Dunagan e Peter McRobbie). O casal idoso não os conhece, pois não falam há muitos anos com a filha divorciada (Kathryn Hahn). A menina Becca insiste em filmar depoimentos e outros acontecimentos da viagem, com a ajuda do irmão, para depois montar uma espécie de documentário, o que “justifica” a estrutura narrativa.

A Visita

O suspense é gerado pelos hábitos estranhos dos avós, principalmente à noite, já que os garotos precisam ir para o quarto dormir às 21:30. A explicação, dada pelo próprio avô, é que sua esposa sofre de uma demência noturna chamada sundowning, uma condição clínica da vida real. Ninguém precisa de um diploma para perceber que a vida desses dois irmãos correrá perigo, certo? O problema é que não há muita sutileza nesses comportamentos bizarros, a partir de determinado momento, o que faz com que nos acostumemos a isso. Sendo um filme de Shyamalan, só resta esperar por uma virada espetacular em algum momento do terceiro ato, justificando o tempo que você passou assistindo. Talvez, lá pela metade dele, você consiga sacar o que é…

 

Novamente sobre o found footage, alguém ainda engole essas câmeras sempre ligadas em momentos chave, mesmo quando alguém precisa correr para salvar a vida? Pior do que isso são elas posicionadas ao acaso pelos personagens, mas de forma conveniente demais, até mesmo quando a cena precisa ocultar algum detalhe, sacrificando toda a verossimilhança da narrativa e dando um pretexto para qualquer enquadramento estranho. Além disso, o que deveria ser alívio cômico beira o ridículo, como a reação de adultos filmados por acaso pelos garotos.

É uma pena que a diretora de fotografia Maryse Alberti, que trabalhou em O Lutador, de Darren Aronofsky, fique limitada pela natureza do filme. Ainda assim, de uma forma geral ela resolve bem a luz e sombra da produção, mas a jogada é aceitarmos que tudo aquilo foi filmado por Becca e Tyler, adolescentes sem recursos, o que também acaba soando falso sem trabalhar a favor da história. Talvez isso nem incomodasse se o conjunto se sustentasse melhor.

A Visita

Até existem acertos, como a escalação de um elenco desconhecido, adequado para esse tipo de história, onde Deanna Dunagan se destaca como a avó surtada e tem alguns bons momentos do filme, conseguindo criar alguma tensão antes de cair para o exagero. Ed Oxenbould faz de seu Tyler um garoto bem chato, o que esperamos que tenha sido a intenção, mas seria bom consultar um fonoaudiólogo caso queira seguir na carreira de ator. Fora isso, com seus 94 minutos, em termo de ritmo ele não é um parto para o espectador, mas é preciso lembrar que o interesse para seguir até o final vem muito por lembrarmos quem o dirige, o que torna essa qualidade discutível.

A Visita, no fim das contas, não traz de volta o Shyamalan de O Sexto Sentido e Corpo Fechado, seu subestimado filme seguinte. Muito pelo contrário, estimula piadas sobre ele ter sido substituído por um sósia com muito menos talento que escreve roteiros que esbarram no caricato e no constrangedor. Falando em Corpo Fechado, não é de hoje que ele demonstra disposição em continuar a história, um perigo do qual apenas os maiores “vilões” da indústria – os produtores – podem nos salvar.

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