Receita para um filme de terror: misturam-se conceitos de games como The Last of Us e Alan Wake com uma boa dose de folclore nativo, uma pitada de política ambiental, uma crítica ao imperialismo, uma boa parte de clichês do gênero e o resultado pode ser o nada com coisa alguma… com um gosto amargo. A Maldição na Floresta (The Hallow) não tem como defeito a ousadia de Colin Hardy, roteirista e diretor. É a sua prepotência que fez com que uma excelente ideia virasse uma mescla de elementos que não atingem alvo algum.
A narrativa apresenta uma família inglesa que se muda para a Irlanda. Daí já vemos a intenção de se utilizar o filme no engajamento político, denunciando o imperialismo britânico. Adam (Joseph Mawle) é um biólogo que, apesar do avisos do místico vizinho Colm (Michael McElhatton), continua a explorar a floresta para seus estudos, até que começam a aparecer criaturas a assombrar sua casa, no intuito de lhe roubarem o filho. Aqui, mais uma pitadinha de denúncia clichê do homem a invadir o meio ambiente e destruí-lo e blá, blá, blá. Clare (Bojana Novakovic, na incrível tarefa de contracenar, quase sempre, com um boneco na mão), a esposa, figura como a mãe assustada a fazer o contraponto ao marido, na construção da atmosfera conflituosa.
É um filme que tinha tudo para dar certo. A própria apresentação do Cordyceps, um fungo que faz insetos se transformarem em zumbis, visto em The Last of Us, mais o conceito de seres frágeis à luz, do game Alan Wake, demonstram um diretor antenado com a contemporaneidade. No entanto, a linguagem dos games raramente funciona dentro da linguagem cinematográfica, ainda mais quando aquela situa-se sem aprofundamento ou explicação alguma.
A narrativa também não apresenta uma organização coesa no seu desenrolar. O diretor falha infantilmente em apresentar as criaturas antes do próprio personagem do vizinho. Como se cria uma atmosfera de suspense quando já sabemos o que ocorre na floresta antes do aviso deste personagem? Dissipar o mistério logo de início é algo abaixo da ingenuidade.
A presença de um livro rústico com as histórias folclóricas sobre as criaturas também é pouco aproveitada. O casal lê o livro todo em poucas horas, mas quase nada ficamos a saber do livro e quando sabemos dá para notar uma forçação de barra para que os acontecimentos coincidam com os do livro, simplesmente para que se justifique sua existência no filme. Se o diretor alocasse o livro dentro da narrativa como um fator determinante, e o casal o utilizasse para formular estratégias para que a história ali não se repetisse, a atmosfera se demonstraria mais condensada e lógica. No entanto, há a insistência do filme em querer parecer inteligente, evitando mastigar as coisas ao espectador, só que o resultado é o contrário. Uma narrativa burra em si mesma, justamente por não localizar o espectador no eixo dos acontecimentos.
Fora isso, a sequência de fatos inverossímeis abusa da paciência. Um exemplo é um personagem-chave na trama que se recusa a ajudar um outro, pois se o ajudasse as criaturas invadiriam a casa. O problema é que o local todo é iluminado fortemente, como se fosse um forte apache. Isto dá a entender como o filme foi pensado porcamente.
A Maldição na Floresta é o tipo de filme que não agrega nada ao gênero de terror. Pior ainda, faz com que o público cada vez mais desconfie deste tipo de produção que, em seus trailers promete sustos, mas na prática, nos dá sensação de vergonha alheia. É subestimar muito o espectador em querer colocar profundidade na cena dos créditos finais e finalizada com um susto que mais produz raiva do que complacência com o filme.
Só não leva uma nota zero pela fotografia, que em nada ajuda no desenvolver da história.
P.S.: Temo pelo remake de O Corvo, que está em pré-produção nas mãos do mesmo diretor.