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A Forma Da Água – Nova história, mesmos erros!

A Forma Da Água é mais um filme irregular de Guillermo del Toro

A presença massiva de A Forma Da Água (The Shape Of Water) nas premiações cinematográficas e o clamor internacional podem dar a impressão de que o novo longa do diretor Guillermo del Toro (que já foi tema de um FormigaCast) é o melhor de sua carreira. Isso se torna evidente ao ler críticas dizendo que o filme é uma obra-prima irretocável, digna de ser consagrada com os principais prêmios da indústria. De uma maneira geral, é como se todas as produções do cineasta tivessem sido etapas de uma evolução que atinge o seu ápice no momento atual.

Crítica de A Forma da Água.

A Forma da Água

Pois bem, não tenho a pretensão de dizer que todas essas afirmações estão erradas, não obstante, aos meus olhos, este novo longa do diretor mexicano é tão irregular quanto qualquer outra realização de sua filmografia. Sem exceção, cada um dos seus filmes contém um número similar de acertos e erros. Entre os acertos, costumam estar monstros criativamente concebidos, design de produção inspirados e uma adesão total ao fantástico. Já entre os erros, histórias simplistas, personagens unidimensionais, abordagens maniqueístas e roteiros pobremente estruturados.

Com A Forma Da Água, isso não é diferente. Aliás, até pode-se dizer que, do ponto de vista estético, o novo longa é o mais deslumbrante. De fato, parece que del Toro e o diretor de fotografia Dan Laustsen, depois de explorarem competentemente as cores e o cinema de Mario Bava em A Colina Escarlate, decidiram recriar os filmes de monstros da Universal (O Monstro da Lagoa Negra é a inspiração mais óbvia), ao mesmo tempo que exploraram o potencial das aventuras B de Hollywood, com as suas paletas fortes e chamativas. Tudo, desde os azulejos marcados de sujeira até os aparatos físicos da instalação militar, passando pelos tons esverdeados, chama atenção e impressiona.

Crítica de A Forma da Água.

Além disso, a criatura interpretada por Doug Jones, embora claramente inspirada no monstro do mencionado longa de Jack Arnold e muito similar ao próprio Abe Sapien (personagem coadjuvante de Hellboy Hellboy II: O Exército Dourado), nunca deixa de parecer viva e verossímil. O mesmo pode ser dito do relacionamento amoroso entre ela e a protagonista de Sally Hawkins. Qualquer hesitação por parte de del Toro poderia transformar a relação das duas personagens em algo risível, o que só não acontece porque há uma imersão completa na situação, um enlace com o mágico (mesmo com a trilha sonora genérica de Alexandre Desplat), o possivelmente risível e os riscos que o envolvem (abrindo espaço até para um certo erotismo).

Nada de novo debaixo do sol

No entanto, como é comum nos filmes do diretor, a precariedade do roteiro coloca quase tudo a perder. Escrito pelo próprio del Toro ao lado de Vanessa Taylor, o texto de A Forma Da Água, no início, se destaca negativamente pelas suas falas ruins (o discurso sobre lavar as mãos antes ou depois de ir no banheiro proferido pelo personagem do Michael Shannon é de uma pobreza atroz) e pelo excesso de subtramas, as quais são desenvolvidas além do necessário (como a do pintor encarnado pelo Richard Jenkins) e prejudicam o desenvolvimento da história principal.

Crítica de A Forma da Água.

Posteriormente, quando se torna evidente a estrutura distinta do roteiro (é difícil afirmar que o filme possui três atos bem delineados) e as personagens consolidam as suas principais características, nota-se que a narrativa se transforma num jogo de gato e rato pouco interessante, no qual o ritmo é seriamente comprometido e não há novidades ou camadas a ser exploradas, restando nada mais do que ressaltar, de maneira extremamente exagerada (o vilão compartilha todos os preconceitos que existem), os aspectos já conhecidos de cada uma das personalidades.

Assim, o resultado obtido em A Forma Da Água é o mesmo de todas as outras obras de del Toro: a irregularidade. Até os dias de hoje, apesar de alguns filmes serem melhores que outros (como A Espinha Do Diabo, que talvez seja o seu longa mais bem resolvido), nenhum deles consegue sair ileso de uma análise mais sóbria e aprofundada. Infelizmente, todos sofrem dos mesmos problemas: roteiros ruins e narrativas problemáticas. E em relação ao último lançamento, não é enchendo-o de prêmios e elogios que essa impressão mudará.

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