O patriotismo e a coragem em 12 Heróis
12 Heróis (12 Strong) é um filme anacrônico, mas não por causa de sua história — afinal, os eventos narrados acontecerem recentemente — e sim em razão da abordagem dos realizadores. É inegável que vivemos em tempos cínicos, nos quais o heroísmo humano se tornou uma característica tão rara aos olhos dos críticos que o único refúgio capaz de acolhê-la são os filmes de super-heróis. É como se as pessoas dos dias de hoje não pudessem realizar atos de grande coragem, com a memória que conservamos dessa honradez refugiando-se numa espécie de exacerbação fantasiosa.
Não é à toa que, apesar de terem recebido elogios pela parte técnica, longas como Até o Último Homem, O Destino de uma Nação e os mais recentes de Clint Eastwood não gozaram da estima de uma parcela da crítica. De acordo com algumas percepções, tanto os protagonistas quanto a maneira como as suas respectivas trajetórias são contadas soam inverossímeis. À subjetividade contemporânea, para um sujeito ser heroico, ele também precisa se mostrar ambíguo e possuir uma quantidade parecida de aspectos bons e ruins, de tal modo que a apresentação de qualidades negativas se tornou um recurso necessário e intrinsecamente positivo.
É claro que sob esse ponto de vista, os personagens principais de 12 Heróis, sobretudo o Capitão Mitch Nelson (Chris Hemsworth, de Thor: Ragnarok), parecem fantásticos. O mesmo pode ser dito acerca dos seus feitos impressionantes. Como é possível que alguém tenha realizado tais façanhas e que um diretor optara por mostrá-las através de uma forma congratulatória?! Um filme sobre a presença dos Estados Unidos no Afeganistão não pode ser nacionalista ou focar apenas na história de uma unidade especial, a qual poderia ter existido em qualquer confronto bélico! É necessário que ele seja crítico e revele algum defeito na conduta dos soldados!
Ou seja, julga-se o filme pelo que ele devia ser, o que é um comportamento crítico impróprio. Ora, narrativas destinadas a contar as peripécias de sujeitos heroicos existem há muito tempo. Elas sempre exerceram um papel motivacional na população. Bertolt Brecht costumava chamar de “infeliz” a nação que precisava de heróis, mas o poeta e dramaturgo alemão era um sujeito arrogante e minimizava o impacto das grandes histórias sobre as pessoas. Uma boa parte do cinema norte-americano, por exemplo, foi construída em cima de personagens de imensa coragem e envergadura moral. E é justamente nessa tradição que 12 Heróis busca se inserir (as constantes menções aos cavalos dos soldados é uma referência explícita ao western).
Em consequência, o que se tem é um filme curiosamente subversivo, que, em vez de tentar desmontar um discurso cinematográfico, o constrói. Nesse sentido, a subversão nasce da proposta de ir contra as tendências atuais e contar uma história sem meios termos. 12 Heróis é um filme desvergonhado (no melhor sentido da palavra). Ele não tem medo de abraçar a sua essência e se revelar ciente de que qualquer abordagem diferente daquela que é empregada resultaria numa postura inadequada. É inegável que os doze soldados foram heróis e os sujeitos contra quem lutaram, vilões.
Os valores de uma intenção
Assim, os próprios méritos cinematográficos do filme — como a mixagem de som que coloca o espectador dentro das batalhas, a montagem que estabelece visualmente a geografia de cena, a química entre os atores principais e o tom jornalístico-documental adotado nos momentos mais “calmos” — crescem diante dessa auto-resolução (da mesma maneira, os defeitos empalidecem). Não há nada de errado no heroísmo. E, ao contrário do que a sensibilidade moderna prega, pintá-lo com suas próprias cores não é, de maneira alguma, uma atividade desprovida de complexidade intelectual e artística.