A impressão que havia antes de conferir o drama Cake: Uma Razão para Viver (Cake), era de tratar-se de um filme onde a atuação de sua protagonista seria o melhor – e talvez o único – motivo para conferir a produção. Para minha surpresa isso não acontece, e o filme revela-se um relevante retrato dos devastadores efeitos da depressão no cotidiano do indivíduo, além de, sim, trazer uma performance arrasadora de sua protagonista, a bela Jennifer Aniston.
A atriz, aqui completamente fora de sua zona de conforto e do estereótipo, que cansou de repetir em diversas comédias ao longo da carreira, dá um verdadeiro show de atuação no papel de Claire, uma advogada que nos últimos seis meses, está entregue à depressão após se envolver em um terrível acidente de trânsito. Quando Nina (a gracinha Anna Kendrick de Marcados Para Morrer), uma das companheiras de Claire em um grupo de apoio, se suicida, Claire decide tentar entender melhor os motivos que levaram Nina ao suicídio, e no processo, acaba descobrindo muito mais sobre si mesma do que imagina.
Dirigido por Daniel Barnz (do fraco A Fera), Cake: Uma Razão para Viver marca uma reabilitação na carreira do diretor, que arranca da atriz principal, sem dúvida, a melhor performance de sua carreira. A produção é sensível, e o roteiro de Patrick Tobin (No Easy Way) emociona e coloca o público em uma dolorosa jornada de redenção ao lado de sua sofrida protagonista, cuja vontade de viver resiste por um fio cada vez mais frágil.
Além da impecável protagonista e da cada vez mais presente Anna Kendrick, o filme tem um elenco de apoio de respeito, todos com participações relevantes para o andamento da narrativa da produção. Nomes como Sam Worthington (Avatar), Felicity Huffman (Transamérica), Chris Messina (Argo), e principalmente a mexicana Adriana Barraza (Babel, Arraste-me para o Inferno), contribuem para o ótimo resultado da produção. Esta última, inclusive, no papel da governanta da protagonista, está excelente, e todas as sequências que trazem interação entre ela e Jennifer Aniston são sensacionais, surpreendendo pelo humor em meio à narrativa de forte base dramática. Atenção à sequência em que a dupla viaja ao México, em busca de medicação sem receita. Toda a sequência é simplesmente impagável!
Cake: Uma Razão Para Viver discute de maneira delicada, temas que falam profundamente com a alma do ser-humano. A dor da perda é tratada aqui com honestidade e extrema relevância dentro do contexto da produção, que não ludibria o público com saídas fáceis ou artifícios de catarse mentirosa. Além disso, a ex-Rachel da série Friends brilha mais do que nunca, em um papel triste, que repele o público, ao mesmo tempo em que exerce inegável atração sobre ele.
Sem rodeios, Cake mostra que a dor existe. Mostra também o duro caminho de pedras que é preciso encarar para superá-la.