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BLACK ANGEL – Uma parte obscura da história de STAR WARS

Que Star Wars é algo que todo mundo conhece e já viu de alguma forma, é fato. Que a franquia tem muitos fãs devotados que sabem tudo sobre os bastidores, também é fato. Que não havia mais nada de muito relevante para esses fãs descobrirem, após mais de 30 anos do lançamento do filme original, bem, aí é discutível. Qual a possibilidade de um produto audiovisual, atrelado a uma marca como Star Wars, sumir do mapa como se nunca tivesse existido e reaparecer agora, tanto tempo depois?

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Em 1979, dois anos depois da estreia do Episódio IV – Uma Nova Esperança, e durante a pós-produção do seguinte, O Império Contra-Ataca, Roger Christian já havia trabalhado na direção de arte de Alien – O Oitavo Passageiro e A Vida de Brian. O britânico Christian era bem relacionado com George Lucas pelo seu bom trabalho como cenógrafo no episódio IV, cujo orçamento apertado o obrigou a pensar fora do convencional. Uma de suas boas ideias foi comprar sucata de avião para equipar o interior da Millenium Falcon, o tipo de iniciativa que agradava o patrão, e o Oscar conquistado só aumentou o prestígio que veio com o sucesso de bilheteria e expansão da marca.

Interessado em assumir o comando de uma produção, Roger Christian voltou a estudar cinema. Chegou a elaborar um roteiro sobre um cavaleiro que volta das Cruzadas, apenas para ser transportado para um mundo de fantasia, onde tem que salvar a princesa de um tal “anjo negro”. Durante as sessões de mixagem de som na pós-produção de Alien, na Abbey Road Studios em Londres, ele ficou ao lado de Ridley Scott tanto quanto pôde, interessado em aprender o máximo do ofício. Sua sorte mudou quando o chefão da Fox Studios em Londres, Sandy Lieberson, apareceu e perguntou o que ele andava fazendo, e então foi explicada a nova ambição e as linhas gerais do novo roteiro. O executivo pediu que um fax com o texto fosse enviado a ele, e o aspirante a cineasta o mandou no mesmo dia. À noite, o telefone de Christian toca e ao atender, Lieberson pergunta: “Posso mostrar a George Lucas?” “Claro!” foi a resposta imediata.

Christian ficou sabendo naquele telefonema que Lucas havia pedido à Fox um curta-metragem de 25 minutos para ser exibido antes de o Império Contra-Ataca, algo que não tivesse a ver diretamente com sua saga espacial, mas que de alguma forma estivesse relacionado ao tom de fantasia e aos contos que lhe serviram de inspiração. Lucas aprovou o roteiro com duas condições; deveria ser o primeiro a ver o corte final e que ninguém do estúdio interferisse no trabalho de seu protegido. Black Angel entra em produção.

Roger Christian (à direita) dirigindo BLACK ANGEL

Roger Christian (à direita) dirigindo BLACK ANGEL

Filmando na Escócia, a experiência com orçamentos apertados não ajudou muito e quase tudo foi gasto com cavalos, nas palavras do próprio realizador. Sua sorte foi a ajuda do estúdio, que fornecia restos de rolos de 35 mm que sobraram de O Império… e ainda foi-lhe dado acesso a locais belíssimos como o castelo Eilean Donan. O problema é que de volta a Londres, seu editor informou que não havia material para honrar o compromisso de 25 minutos de duração, então a solução para alongar foi utilizar uma técnica chamada step-printing, que apenas pela repetição dos quadros acaba criando um efeito slow-motion interessante. Lucas gostou tanto das cenas de luta esticadas que ordenou a utilização do recurso na cena da caverna em O Império… Black Angel conseguiu o clima de fantasia arturiana esperado desde o início.

Nervoso durante a exibição para Lucas, Irvin Kershner – diretor de O Império… – e os executivos da Fox, Christian respirou aliviado quando o filme foi aprovado, e com louvor, relatando que  “George me ligou mais tarde e disse que havia mostrado a Steven Spielberg, e ele disse que era um dos filmes mais enigmáticos que ele havia visto. É exatamente o que George tenta fazer com os mitos, por isso se encaixa”. O curta foi exibido em partes da Europa e Austrália, mas nos EUA, essa prática de exibição antes dos filmes em cartaz já havia sido deixada de lado na época.

Como algo assim foi perdido e reencontrado depois de décadas, é uma história mal contada. Christian diz que havia um negativo original e uma cópia mantidos pelo London’s Boss Film Studios, que faliu na decada de 1990, jogando tudo fora enquanto Christian estava fora da cidade filmando. Após descobrir o ocorrido, perguntou à Fox se eles não tinham mais cópias restantes, mas descobriu que também haviam sido jogadas fora, pois o depósito naquele caso, o UK Studio Rank, havia fechado na mesma década. Nem a Lucasfilm foi capaz de recuperar sua cópia. Sobrou ao diretor somente a resignação quanto ao seu filme perdido para sempre.

Eis que em dezembro de 2011, ele recebe uma ligação de um arquivista da Universal Studios, em Los Angeles. “Foi de repente. Tive que confirmar quem eu era e que eu fui o diretor, e então o homem disse ‘ Bem, eu tenho um negativo’” declarou Christian, que se diz confuso – como todo mundo – sobre como sua propriedade, sendo um produto distribuído pela Fox, acabou nas mãos da concorrente Universal. Ele ainda recebeu outro telefonema no ano passado, desta vez de David Tanaka, editor de efeitos especiais da Pixar, e Brice Parker, produtor na Athena Studios. Os dois ouviram falar do caso e queriam restaurar digitalmente o curta para ser exibido no 36th Mill Valley Film Festival. A Skywalker Sound, divisão da Lucasfilm também se ofereceu para digitalizar toda a parte de som.

Depois de 33 anos, em outubro passado, Black Angel retornou aos cinemas fechando o Mill Valley festival. Também teve exibições na Escócia, durante o Glasgow Film Festival. A distribuição do curta-metragem está na pauta. Roger Christian diz que sua intenção é relança-lo oficialmente ainda este ano, possivelmente através do iTunes ou Netflix, talvez com direito a fazer parte de alguma nova edição de O Império Contra-Ataca em DVD e Blu-Ray. O cineasta ainda afirma que simplesmente gostaria de encontrar uma forma de que isso chegasse às mãos dos fãs o mais rápido possível. “Eu gostaria que fosse com Star Wars, pois isso é história. Seu lugar é lá.”

Bateu a curiosidade? Veja um vídeo com dois clips de Black Angel, só para ter uma ideia do visual e fotografia:

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