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Yuri Boyka, o lutador mais completo do mundo!

Yuri Boyka é o cara!

Você pode nunca ter ouvido esse nome até agora, mas já deve ter imaginado que se trata do personagem de algum filme, certo? Bem, na verdade, são três filmes. Até agora, pelo menos. A franquia O Imbatível (Undisputed) deu vida a um dos lutadores mais legais da ficção, saciando muito bem o espectador faminto por pancadaria de qualidade. Sim, os “roteiros” são apenas meras desculpas para colocar gente trocando socos e chutes no ringue, mas as performances de Yuri Boyka e seus oponentes compensam o tempo gasto entre uma luta e outra.

Yuri Boyka

Deus deu apenas um dom a Yuri Boyka…

Essa história de “lutador mais completo do mundo” é repetida pelo próprio Boyka algumas vezes. Mais ou menos como acontecia com Wolverine nas HQ’s, quando dizia “eu sou o melhor no que faço…”. O russo é vivido pelo inglês Scott Adkins, cuja dedicação de uma vida às artes marciais é evidente na tela.  Alguns devem lembrar que houve um burburinho de fãs para que ele interpretasse Batman, antes de Ben Affleck ser oficializado. Seria interessante, mas, infelizmente, Hollywood não se interessa por atores principais com grandes capacidades físicas.

Exatamente por isso, Adkins só aparece mesmo em produções (bem)baratas, como Soldado Universal 4 e O Alvo 2. Quando arruma algum filme de porte, é uma participação de merda em que não aproveita uma fração de seu potencial. Por exemplo, ele esteve em Doutor Estranho como um capanga descartável. No caso de Yuri Boyka, o personagem genérico e estereotipado se beneficia do carisma e da destreza do ator, criando um ícone para os fãs de porrada.

Já ficou claro não estamos falando de clássicos da Sétima Arte, ou mesmo de produções estilosas como Operação: Invasão e sua continuação. São filmes produzidos diretamente para home video, o que já indica a pegada. No entanto, quem curte lutas e pira em coreografias bacanas, sem aquela farsa de edição picotada, precisa conferir. Sem qualquer compromisso com o realismo, nem mesmo na parte sonora, os atores mandam combos que lembram videogame, sem exagerar na câmera lenta (sim, eu pensei no Zack Snyder agora…).

Antes de partirmos para o que interessa, um detalhe importante. Embora Boyka tenha surgido no home video, esse não é o caso do filme que iniciou a série. Este era um tipo de produção diferente e se pretendia mais sério do que apenas um filme de luta. É sobre isso que precisamos falar antes do nosso assunto principal.

Yuri Boyka

A capoeira do Brasil não foi capaz de deter o lutador mais completo do mundo!

 

SPOILER A DAR COM PAU A PARTIR DAQUI, MAS ALGUÉM LIGA PARA ISSO NESTES FILMES?

O Imbatível (Undisputed, 2002)

Walter Hill, que dispensa apresentações, dirigiu isso. A ideia até tinha potencial. George “The Iceman” Chambers (Ving Rhames) é o campeão de boxe peso-pesado que acaba cumprindo pena por estupro (referência inútil a Mike Tyson). Encarcerado, descobre que o pugilismo rola solto na cadeia, com regras profissionais. O presídio tem até seu próprio campeão: Monroe Hutchens (Wesley Snipes), que já teve uma carreira brilhante e está invicto ali há dez anos. Ah, ele é a serenidade em pessoa.

Chambers é uma pessoa intragável. Precisa ser libertado o quanto antes e retomar a carreira, já que o tempo é inexorável no esporte. Vai rolar um acordo escuso nos bastidores e ele é o cara “do mal” que vai enfrentar o “do bem”, que é Hutchens, no apoteótico (?) final.

Confesso que só vi esse filme há muito tempo por conta do diretor, mas é preciso ser justo. O Waltão já não tinha um bom roteiro nas mãos e parece não ter se esforçado muito. Sobrecarregou a narrativa com informações que não acrescentam, listando os crimes de alguns detentos na tela quando estes aparecem. Piorando a firula, isso rola com um filtro p&b granulado na imagem, como se ele gritasse para o espectador: “Pare e leia isso!”.

Não só isso, o comportamento de Chambers na cadeia derruba qualquer boa vontade do espectador. O cara desce a pancada em qualquer um que venha falar com ele e se comporta como o rei do lugar, sem que sofra qualquer tipo de consequência por isso. Chega ao ponto de outros presos reclamarem com ele com uma choradeira do tipo: “Você trata a gente como lixo…”. Será que em Oz ele seria tão marrento?

Tem mais problemas. Ving Rhames já não convencia como boxeador profissional invicto, mas isso até passa. A luta final tem aquele detalhe incômodo que já comentei por cima. Rhames não é lutador e, claramente, não teve uma preparação cuidadosa para essa filmagem. O resultado é insosso, com corte em cima de corte durante as sequências. Nem comento que é quase impossível torcer pelo personagem de Wesley Snipes, tamanha sua inexpressividade. E o roteiro não ajuda, claro.

O malvado perde e sai da cadeia. Retoma a carreira como se nada tivesse acontecido e assim termina. Como fazer uma continuação disso? Alguém teve uma ideia inusitada. Que tal o vilão perdedor se tornar o herói no próximo?

E o Boyka? Calma…

 

O Lutador (Undisputed II: Last Man Standing, 2006)

Deveria se chamar O Imbatível II, mas a galera aqui sempre prefere o genérico. Saindo do cinemão endinheirado e chegando ao direct home vídeo, esta continuação custou 25% do orçamento do filme de Walter Hill. Como são ambições claramente diversas, nem há como reclamar dos absurdos da história, pois as cenas de lutas são sua razão de ser. Mesmo com essa proposta descompromissada e as evidentes limitações, é muito melhor do que o primeiro.

Vamos lá! George Chambers é o nosso herói agora, mas substituído por um ator mais fisicamente apto, já que a exigência aqui é grande. Sai Ving Rhames e entra Michael Jai White (que já foi Spawn e gângster em O Cavaleiro das Trevas). O karma deste protagonista parece ser lutar em prisões, pois acaba envolvido em uma tramoia e preso na Rússia. Tem coisa mais casca-grossa que uma prisão russa que promove lutas entre os internos?

O boxeador americano está no país para gravar um comercial, enquanto o crime organizado, que controla o circuito de lutas no presídio, procura um oponente interessante para o invicto campeão do local. Quem? Yuri Boyka! Arma-se um esquema, Chambers é pego com drogas e a casa cai para ele. Aos poucos, ele percebe que a ajuda legal não vai livrá-lo e sua liberdade depende que ele enfrente o rei da cadeia.

Undisputed II tem a particularidade de ter Boaz Davidson como autor do argumento. O israelense é ninguém menos que o diretor e roteirista do sucesso oitentista O Último Americano Virgem (que comentamos neste vídeo), mantendo-se ativo no ramo até hoje. Isaac Florentine, profissional com experiência como dublê, dirigiu e entregou exatamente o que se esperaria da produção. Pancadaria caprichada, utilizando o máximo que os intérpretes têm a oferecer, mas sem exagerar e entediar o espectador. A “história” que recheia o espaço entre as lutas não atrapalha a diversão, mesmo com toda previsibilidade e soluções absurdas.

O antagonista rouba a cena. Boyka tem suas características bem definidas no filme. Com um estilo acrobático, agressivo e super veloz de kickboxing, ele também se vira bem no grappling. Preso por assassinato, o cara é obcecado por lutas, religioso (uma contradição que esses filmes adoram) e ético de uma forma particular. Tanto que mata com as mãos nuas os colegas que drogaram seu oponente sem seu conhecimento.Típico vilão que esperaríamos encontrar neste ambiente.

Enfim, Chambers aprende rápido a ser um lutador mais completo, graças a um mentor de última hora, e vence quebrando o joelho de Boyka. Libertado, ele se torna um ser humano melhor e a vida segue. Foi o fim da jornada do americano, mas o perdedor tem que assumir a continuação, mesmo com uma fratura que inutilizaria para sempre qualquer outra pessoa.

 

O Imbatível III: Redenção (Undisputed III: Redemption,2010)

Yuri Boyka perdeu sua razão de viver longe das lutas. Barbudo, cabeludo e manco, ele passa os dias limpando os corredores da prisão e rezando. Não é fácil ver seu lugar nos ringues ocupado por outro, mas, como milagre é comum na ficção, ele recupera seu joelho com uma fisioterapia improvisada com um balde. Corta o cabelo e faz a barba exatamente igual ao filme anterior, sozinho e com meia lâmina de barbear, e tudo está resolvido.

Retomando seu posto, ele acaba levado a um torneio interprisões. Lutadores de todo canto, cada um patrocinado por um gângster diferente, são reunidos em um presídio com uma pedreira. Tem até um brasileiro, mas feito por um gringo, que fará os fãs dos games lembrarem do Eddy Gordo, da franquia Tekken. Enquanto quebram pedras ao sol, esperam os dias das lutas eliminatórias. O malvadão local é o colombiano Dolor, papel de Marko Zaror, que já foi super-herói no indigesto Mirageman.

Falando diretamente, O Imbatível III agrada bastante quem gostou do segundo. As subtramas são esdrúxulas, como matar os perdedores ao invés de devolvê-los às suas respectivas cadeias. Além disso, colocar os caras para pegar no pesado enquanto Dolor fica na vida mansa diminui a ameaça deste vilão. Claro que existe uma mutreta para que ele ganhe no final por conta das apostas, mas esses gângsteres nunca pensaram em ameaçar diretamente a vida dos outros competidores? Bom, o que importa é que a pancadaria não decepciona, principalmente no final. Isaac Florentine repete o bom trabalho anterior.

Boyka até aceita a amizade do americano Turbo, que manja de ervas medicinais(!) e dá uma força para ele curar o joelho. Sabemos que é arriscado ser amigo do herói em filme de luta, mas esse clichê eles evitam. Apesar das graves lesões e todo resto, Boyka vence e foge com a ajuda do gângster de bom coração(!!) que o patrocinava. Contrariando a lógica da franquia, Dolor não assumiu a continuação. Ainda bem, já que o russo é um personagem muito mais legal.

 

Boyka: O Imbatível (Boyka: Undisputed, 2016)

Sai Florentine, entra Todor Chapkanov na direção, que, felizmente, não tenta reinventar a identidade visual. Não nas lutas, pelo menos. Yuri Boyka vive agora na Ucrânia, perto de realizar seu sonho de entrar para o circuito oficial de lutas. Enquanto isso, faz caridade para a igreja local. O conflito entre religião e violência é agravado quando ele mata um oponente em uma eliminatória para um grande torneio. A partir disso, ele resolve voltar para a Rússia, na condição de foragido, e ajudar a viúva. O fato dela estar endividada com a máfia complica a situação.

Ainda bem que não é o drama que importa. Boyka tem problemas de consciência por ter matado um adversário, mas não liga de ameaçar fisicamente seu empresário para conseguir um passaporte falso. Enfim, na Rússia, o mafioso que atormenta a viúva, por acaso, também comanda um esquema de lutas. Conveniente, não?

Óbvio que ele precisa lutar para salvar a moça. Ainda bem que o quarto exemplar procura trazer alguma novidade nesse quesito, com o mafioso modificando as regras para complicar a vida do herói. Lutar com dois ao mesmo tempo, por exemplo. Mas o exagero que adoramos nestes filmes já dá as caras logo no começo, quando Koshmar, O Pesadelo é apresentado. Parece uma mistura de Hannibal Lecter com algum gigante do WWE, saído de algum filme do Roger Corman.

Resultado geral bem satisfatório, mas a luta final é comprometida justamente pela envergadura do vilão. Não existe a mesma agilidade que nos acostumamos a ver. Fora que é bem manjado mostrar um lutador muito maior e mais forte levando golpes sem se importar. O confronto é finalizado de um jeito que lembra filmes bem mais baratos dos anos 1980. Uma pena.

Nem vale comentar a resolução da “trama” no final. Basta dizer que Yuri Boyka completou sua missão, mas foi em cana de novo e segue lutando na cadeia, como quando foi apresentado. Na verdade, isso nem parece final, não é? Será que ele ainda volta?

 

Hollywood e sua teimosia imbatível

Concluindo, se você curte ação/lutas e assistir a, pelo menos, um desses filmes com o personagem, vai ser difícil não se lembrar destas belas coreografias quando assistir a outros filmes ocidentais do gênero. Possivelmente, vai lamentar o fato de Hollywood não utilizar decentemente talentos como os de Scott Adkins.

Provável que também tenha vontade de adquirir uma action figure de Yuri Boyka…

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