Fato curioso a respeito das mulheres que fazem parte da vida de James Bond é o sentido de ambiguidade que muitas delas carregam em seus nomes. Um desses casos e por sinal um dos menos conhecidos ocorre com o nome da primeira das Bond girls. O nome Vesper Lynd é um trocadilho com as palavras West Berlin (Berlim Ocidental) em alusão à lealdade da personagem que é forçada a trabalhar como agente dupla para a Inteligência soviética. No segundo livro de Fleming, a personagem Solitaire somente é chamada assim por ser virgem e indiferente aos homens, entretanto seu nome de batismo é Simone Latrelle. Mas talvez o mais famoso nome entre as Bond girls seja o de Pussy Galore, que na época do lançamento do livro e também anos depois com a adaptação do romance para as telonas causou grande polêmica. Isso devido ao fato de a palavra pussy em inglês ser um termo chulo para vagina e galore tem tradução de “aos montes”. Fora isso a personagem também era lésbica assumida então jamais um nome ficcional serviu tão bem ao seu personagem.
Nos filmes casos semelhantes também existem como em 007 os Diamantes são Eternos (Diamonds are Forever) de 1971, onde a personagem Plenty O’Toole vivida por Lana Wood apresenta-se a Bond com a seguinte frase: “Hi, I’m Plenty”, ao que 007 rebate: “But of course you are.” A palavra plenty em inglês quer dizer abundante, e como Bond percebe rapidamente, os seios dela também são.
No filme 007 contra GoldenEye (GoldenEye) de 1995, a Bond girl Xenia Onatopp é uma junção das palavras “on top”, e em 2002 no filme 007 Um Novo Dia para Morrer (Die Another Day), a vilã Miranda Frost interpretada pela atriz inglesa Rosamund Pike recebe esse nome por ser completamente avessa as investidas de Bond e morar em um castelo de gelo. Curiosamente a personagem de Pike seria batizada de Gala Brand. Este nome pertence a Bond girl do romance Moonraker (007 contra o Foguete da Morte) e que ficou de fora da adaptação de 1979 deste para o cinema. O nome somente foi alterado de última hora por revolta dos fãs que não queriam que o nome de uma Bond girl das clássicas histórias de Fleming fosse usado fora de contexto.
Em 007 Quantum of Solace (Quantum of Solace) a Bond girl conhecida apenas por agente Fields e vivida por Gemma Arterton, em parte alguma do filme revela seu nome de batismo a Bond. Posteriormente descobre-se que o nome da personagem é Strawberry, o que junto de seu sobrenome Fields tem a tradução livre de “campos de morango”, dai a relutância da moça em revelar o seu nome por inteiro. Apesar disso muitas Bond girls apresentam nomes comuns como Mary Ann Russell, Judy Havelock, Vivienne Michel e a falecida esposa de James Bond, condessa Tereza di Vicenzo.
DIFERENÇAS ENTRE OS LIVROS E OS FILMES
A primeira diferença entre as aventuras originais do espião escritas por Ian Fleming e suas adaptações para o cinema é a ordem cronológica em que ocorrem. O maior exemplo disso se dá com Cassino Royale que foi lançado no ano de 1953 mas somente ganhou uma adaptação oficial em 2006. Com um intervalo de tempo tão grande entre a obra original e o filme, mudanças significativas tiveram de ser feitas em matéria de costumes de sociedade como, por exemplo, uma maior liberdade sexual e a presença da independência feminina que veio ganhando espaço através das décadas foram inseridas no filme.
Apesar de cronologicamente os livros e os filmes do espião se distanciarem, a essência das histórias, mesmo com o passar dos anos continuaram sendo originais e até mesmo atuais. Outra distinção entre as obras literárias e as películas, isso principalmente nos anos 60 é o fato de que enquanto muitas das Bond girls eram traumatizadas sexualmente nos livros, nos filmes tal aspecto era na maioria das vezes pouco explorado ou simplesmente ignorado.
Em qualquer adaptação de um livro para o cinema já é de esperar que os atores selecionados nem sempre correspondam fisicamente à descrição de seus personagens, mas é curioso de se ver até meados dos anos 60 o fascínio exercido pela indústria cinematográfica, principalmente Hollywood, por cabelos loiros. Apesar de no primeiro filme de James Bond a atriz Ursula Andress realmente se parecer com sua personagem Honey Rider, em 007 contra o Satânico Dr.No, as atrizes Daniela Bianchi e Honor Blackman que apareceram nos dois filmes seguintes como Tatiana Romanova e Pussy Galore em Moscou contra 007 e 007 contra Goldfinger, não se parecem com sua versão literária, já que as duas atrizes são loiras e suas personagens nos livros são morenas. A própria esquadrilha de pilotos formada somente por mulheres sob o comando de Pussy Galore tem como integrantes apenas mulheres de cabelos tão claros que chegam a ter um tom platinado.
Ainda na década de 60 as Bond girls eram tratadas, como já dito antes, como enfeites. Isso porque suas personagens não eram tão bem desenvolvidas nos filmes como eram nos livros. Mesmo se um filme do espião feito 50 anos atrás não contasse com a presença de Bond girls, não era impossível para ele cumprir sua missão, apenas entediante. Com a franquia de James Bond entrando na década de 70, os produtores Harry Saltzman e Albert Broccolli e o roteirista Richard Maibaum começaram a desenvolver tramas onde o papel das Bond girls fosse indispensável. Sem o seu auxílio, James Bond jamais seria capaz de alcançar seus objetivos e poderia até morrer se não fosse pela intervenção de alguma de suas garotas.
Já nos anos 80 as Bond girls tornaram-se mulheres de ação que não temiam enfrentar o perigo ao lado de 007, e em determinados momentos chegavam a ser tão letais quanto ele. Um exemplo inesquecível disso aconteceu em 1985 no filme 007 na Mira dos Assassinos (A View To a Kill) quando May Day, encarnada por Grace Jones resolve mostrar ao espião que ela podia ser tão durona quanto ele e isso não só fora dos lençóis…
Em meados dos anos 90 a cinessérie ressurgiu depois de um hiato de seis anos com o filme 007 contra GoldenEye. O nome havia sido tirado da morada de Ian Fleming na Jamaica, onde o jornalista se refugiava para dar vida às histórias fantásticas de seu personagem, e que curiosamente o próprio Fleming se apropriou do nome GoldenEye de uma operação da qual fizera parte em seus tempos na Inteligência Naval.
Na película de 1995 James Bond encontra mulheres ainda mais independentes do que as que haviam se deparado na década anterior. A parceira do vilão era sem dúvida a mais psicopata e ninfomaníaca das Bond Girls que haviam entrado na vida do espião; e talvez o motivo pelo qual 007 não tenha ido para cama com a beldade, tenha sido o fato de que a perversa Xenia só era capaz de atingir o orgasmo no momento em que conseguia tirar a vida de quem estivesse entre suas pernas. Nem mesmo Natalya Simonova na pele da polonesa Izabella Scorupco, como principal interesse romântico do agente, deu-lhe uma colher de chá, o que rendeu ao espião alguns hematomas à mais.
Dos anos 90 para frente o papel das Bond girls tornou-se tão grande quanto o do próprio James Bond. De certo modo, as personagens estavam mais parecidas com as que haviam aparecido nos romances originais de Ian Fleming, quase quarenta anos antes.