O ranking do boxeador mais famoso do cinema
Não tem jeito… todo mundo gosta de Sylvester Stallone e, consequentemente, de Rocky Balboa (a saga até já ganhou um FormigaCast). Pudera, já que a história do criador e da criatura se confundem de um jeito que chega a ser metalinguístico. Pois bem, talvez você já saiba que o surgimento do Garanhão Italiano foi inspirado pelo lutador da vida real Chuck Wepner, cuja cinebiografia Punhos de Sangue acaba de estrear no Brasil. Inspirados por esse belo filme, resolvemos revisitar o tema de boxe no cinema. Publicamos há pouco uma lista com dez boxeadores icônicos da Sétima Arte, deixando Rocky de fora por ele merecer uma postagem à parte.
A seguir, um ranking de toda franquia Rocky, do pior ao melhor. Ordenamos os seis filmes da série (Creed não entrou por ele não ser o protagonista) pelos seus méritos cinematográficos, procurando deixar de lado a memória afetiva que muita gente compartilha. Com o filme sobre Wepner em cartaz, é um bom momento para rever essa trajetória antes de conferir a atuação de Liev Schreiber, não acha?
Confira!
6 – Rocky IV (Sylvester Stallone, 1985)
Um clássico da era Reagan que fez muita gente gritar nas salas de cinema, como uma torcida em uma luta real. Este é o exemplar que mais descaracterizou o bruto simpático e boa praça do filme original. Stallone encarou roteiro (como em toda série) e direção (algo que só não aconteceu em duas ocasiões), trazendo inúmeros clichês daquela década.
Apollo morto no ringue pelo russo do Mal, Ivan Drago, motiva Rocky a defender o American Way of Life em plena Moscou, fazendo até os soviéticos torcerem por ele no final. Além disso, os absurdos físicos que o filme propõe chegam às raias da ficção científica. Esta colagem de videoclipes faz parte da minha memória afetiva (comentado até em um Formiga na Tela), mas nem por isso é possível ignorar sua (falta de) qualidade.
5 – Rocky V (John G. Avildsen, 1990)
Uma tentativa fracassada de retorno às origens, cinco anos depois do sucesso comercial do quarto filme. Trazendo de volta o diretor que comandou a estreia do personagem em 1976, Rocky V o leva de volta à pobreza e incapacitado de lutar. Servindo como mentor de Tommy Gunn (Tommy Morrison, pugilista na vida real), ele encontra um novo propósito na vida, até que o pupilo é corrompido por um empresário inescrupuloso. Além disso, o conflito do protagonista envolve a dúvida em voltar aos ringues ou não, apesar das graves lesões. Ah, tem também os problemas com o filho negligenciado (aqui vivido pelo próprio rebento de Sly), cuja idade mudou sensivelmente de um filme para outro.
Primeiro, a explicação para a perda da fortuna é forçadíssima e nada justifica ninguém procurá-lo para investir em publicidade. Rocky, que desde o terceiro filme havia perdido o jeitão meio bronco, recupera os trejeitos. A parada é resolvida em uma briga de rua e fica a lição tosca de que pobre também pode ser feliz. Um páreo duro como pior da lista, mas ganha um ponto pelo personagem do empresário George Washington Duke, uma crítica clara à figuras reais do esporte, como Don King. Pena que o ditado popular é sábio sobre boas intenções…
4- Rocky III (Sylvester Stallone, 1982)
Conforme eu já citei, nosso querido Garanhão Italiano não perdeu apenas o Olho de Tigre aqui. Já aclimatado à vida de milionário, este Rocky é um personagem bem diferente dos dois primeiros filmes. Considerando uma aposentadoria e amolecido por uma série de defesas de título fáceis, precisa encarar a brutalidade do monstro Clubber Lang, vivido pelo ótimo Mr. T, além de seus próprios medos. Ok, poderia ser um filme bem pior, mas tem suas belas sacadas.
A morte de Mick não é o estopim da coisa, como foi a de Apollo no quarto filme, mas um elemento dramático a mais. A amizade com o ex-rival, transformado em treinador, e o comecinho da luta do desempate entre eles a portas fechadas, terminando o filme, são bons exemplos de que Stallone poderia ter investido mais na carreira por trás das câmeras. Apesar de tudo, a coreografia das lutas começou a piorar sensivelmente aqui. Curiosamente, Rocky III também aproveita outro detalhe obscuro da vida de Chuck Wepner, que também se envolveu em uma “luta” contra um gigante da Luta-Livre. Este filme até mereceu um Formiga na Tela especial.
3 – Rocky II (Sylvester Stallone, 1979)
Difícil negar que Rocky II tem a cena de treinamento mais legal de todos os filmes. Tem seus problemas, é claro, mas muitos defeitos são atenuados pelo carisma de seu ator principal. Na verdade, a necessidade comercial de estender a trajetória do personagem já sacrifica muito da mensagem do filme original, mas tudo bem. A coisa continuou e temos que separar o joio do trigo.
Ao desistir da vida nos ringues, até por conta de um problema nos olhos em decorrência do castigo imposto por Apollo Creed, Rocky não cogita aceitar a revanche com o campeão. Isso muda com a campanha de humilhação contra ele, mas existe o conflito com Adrian, naquele momento grávida. De um momento para outro, o tal problema físico é ignorado pelo roteiro e a coisa se resolve até a grande luta final. Diferente da vitória moral anterior, o protagonista leva o cinturão para casa e dá mais uma lição de resiliência. É como se fosse o primeiro filme, só que inferior e vencendo a luta. Ainda assim, muito, mas muito melhor do que os anteriormente citados.
2- Rocky Balboa (Sylvester Stallone, 2006)
O sexto filme da série, dezesseis anos após o fiasco de Rocky V, é um feito e tanto. Resgatou a série do ridículo e encerra dignamente a trajetória do icônico personagem. Citando novamente um tipo de metalinguagem que permeia a vida de Stallone e seu personagem, o próprio filme começou sua produção desacreditado, assim como o envelhecido boxeador fictício. Uma lição em ambos os lados da tela.
Começa pela feliz ideia de ignorar o que houve de descartável até ali. Não só isso, a lógica interna do filme é crível, já que se apropria de vários detalhes da carreira de George Foreman, que voltou a lutar em uma idade avançada, saindo-se bem por conta de um estilo mais agressivo que técnico. Com Adrian já falecida, as próprias motivações para a volta do velho Rocky são bastante convincentes. Acertou também na escalação do pugilista profissional Antonio Tarver (contribuindo para uma boa coreografia de luta) como o jovem antagonista, que não tem nenhum traço incômodo de vilania, apenas uma arrogância verossímil. Emocionante e de uma importância imensurável para uma geração que cresceu vendo e revendo os filmes da série, que nem precisa de seu miolo, apenas de seu início.
1 – Rocky (John G. Avildsen, 1976)
Na maioria das vezes, o primeiro é o melhor. Aqui não foi diferente. Com um roteiro sincero, iniciado na mesma noite em que testemunhou Chuck Wepner surpreender o mundo, Sly injetou um pouco mais de esperança em um momento de temáticas pessimistas no cinema. O sucesso mostra a sintonia com o que o público precisava naquele momento. A imagem clássica deste boxeador pouco inteligente com o qual ninguém se importa, de bom coração e castigado pela vida, bebe muito do Terry Malloy de Marlon Brando, em Sindicato de Ladrões. A oportunidade de enfrentar o campeão era muito mais uma busca pela auto-estima do que pelo título, algo que ele mesmo percebe antes da luta.
Atire a primeira pedra quem não se emociona com a simplicidade de um sujeito que, com o rosto massacrado por 15 rounds, encontra a namorada e a primeira coisa que pergunta é sobre o chapéu que ela perdeu. Originalmente pensado com um final mais pessimista, onde Rocky e Adrian se afastavam daquele mundo de mãos dadas de volta à insignificância, o final mais feliz sensibilizou a Academia. Rocky levou o Oscar de Melhor filme em 1977, derrotando nada menos que Taxi Driver e Rede de Intrigas. O resto é História…
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