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Orson Welles – Um prodígio em Hollywood!

Orson Welles e seu início brilhante

Em 1934, um órfão de 19 anos, que perdera o pai aos 15 e a mãe aos 9, se iniciava no teatro. Não era sua primeira iniciativa no mundo das artes, que havia acontecido através da pintura. Aos 22, este jovem criaria sua própria companhia de teatro, a Mercury Theatre, responsável por uma transmissão que entraria para a história pouco tempo depois. Aos 25, faria aquele que é considerado um dos melhores filmes de todos os tempos. Pode parecer exagero, ou até mesmo uma história fictícia, mas não. Orson Welles é, definitivamente, uma das mentes mais brilhantes que já passou pelo cinema!

Apesar do evidente brilhantismo, foi uma carreira marcada por polêmicas, problemas com estúdios, produtores, políticos e magnatas, entre outros. Vamos ao início:

Orson Welles

O gênio já em idade avançada.

A Guerra dos Mundos

O sucesso no teatro abriu novas portas, gerando o programa semanal The Mercury Theatre On The Air, na rádio norte-americana CBS. A premissa era a interpretação de trechos de clássicos da literatura, de maneira inteligente e original. O programa iniciava avisando que se tratava da interpretação de uma obra fictícia e seguia sua apresentação. Welles fazia isso da maneira mais verossímil possível, com efeitos sonoros e atores de sua companhia de teatro fazendo outras vozes. Uma curiosidade desta fase radiofônica do cineasta é que, por volta desta mesma época, ele também emprestou sua voz ao Sombra, o justiceiro que fazia um enorme sucesso nas páginas dos pulps.

Na véspera do Dia das Bruxas de 1938, The Mercury Theatre On The Air levou ao ar um trecho da obra do britânico H.G. Wells, A Guerra dos Mundos. A narração da invasão alienígena vinda de Marte, com detalhes contemporâneos que a distinguiram dos outros programas, como O Conde de Monte Cristo ou Dracula, entrou para a História pelo pânico e histeria coletiva que teria provocado. Houve relatos de suicídio e barricadas em frente a residências e outros comportamentos extremos. O caso apareceu nas manchetes dos jornais no dia seguinte, alavancando o programa.

Porém, a versão “oficial” do caso já foi contestada e aponta uma realidade menos contundente. Nem por isso menos bem sucedida, na verdade. O veículo britânico The Telegraph argumenta que não houve nada tão desesperador, até pela audiência relativamente baixa do programa. As notícias do dia seguinte e a atitude dos jornais daquele momento, criando factoides para denegrir a mídia concorrente, acusada de irresponsável, acabaram tendo o efeito inverso. O programa de Orson Welles ganhou mais público e um patrocínio da sopa Campbell.

Abaixo, você pode conferir a polêmica transmissão na íntegra:

Hollywood abre as portas

Algum tempo depois do incidente na rádio, Welles recebeu um convite de Hollywood, mais precisamente, do estúdio RKO. A proposta  era um contrato para alguns filmes, com liberdade artística total e o tempo que precisasse para se preparar. Era o sonho de muitos veteranos, aqui oferecido a um iniciante. Carta branca do estúdio, liberdade e uma boa estrutura.

O primeiro projeto foi Cidadão Kane (1941), baseado no grande magnata dos jornais da época, William Randolph Hearst. Só essa relação direta entre o protagonista do filme e Hearst já seria um fator problemático fora do set de filmagem. No entanto, independente de Kane ser uma grande figura da mídia, manipulador e excêntrico, caindo em desgraça e auto-exilado em um mundo de faz-de-conta criado pela sua fortuna, o filme de Orson Welles inovou. Na estrutura do roteiro, escrito em parceria com Herman J. Mankiewicz, em primeiro lugar.

Nos créditos como cineasta, Welles tinha três curtas entre 1933 e 39. Entre eles, em 1938, dirigiu seu primeiro longa sem muito destaque, Too Much Johnson.  Diz a lenda que, em preparação para as filmagens de Kane, ele se trancou em uma sala  e assistiu diversas vezes No Tempo Das Diligências (1939), dirigido por John Ford, anotando cada plano, técnica, recurso de linguagem e outros maneirismos de seu ídolo. Indagado uma vez sobre quem eram os três melhores cineastas de todos os tempos, Welles respondeu: John Ford, John Ford e John Ford.

Com um roteiro ambíguo apoiado em flashbacks revelando pontos de vista sobre um protagonista morto, Welles reutilizou todo tipo de termos e elementos narrativos conhecidos, mas, até então, ignorados pelo cinema.  Foi capaz, através de sua grande habilidade e inteligência, de colocar tudo em um único filme: o famoso Deep Focus (onde todo o quadro está em foco, dando uma distorção da noção de profundidade), usou e abusou do Contra Plongèe (câmera posicionada abaixo da linha de visão dos personagens), planos longos durante diálogos, planos-sequência inventivos e enquadramentos inusitados. Tudo isso, sem contar sua esplêndida atuação no papel principal, encarnando a juventude e a velhice do personagem.

Orson Welles

Cidadão Kane, sua maior realização.

Cidadão Kane foi produzido com certa rapidez, graças ao trabalho inteligente e preciso de Orson Welles, mas demorou anos para ganhar o alcance que merecia. O atrito com Hearst, que fez o que pôde para impedir que o filme fosse lançado. Contra a vontade do magnata e do próprio estúdio, Welles promoveu estreias limitadas em poucas cidades dos EUA. O resultado? Um fracasso de bilheteria e de crítica. O magnata, com todo seu poder e influência, havia conseguido boicotar o filme.

Como nem sempre é tão fácil reconhecer o vencedor, a justiça foi feita com o passar dos anos. Até hoje, diversos cineastas famosos assumem a inspiração na obra, além do reconhecimento geral sobre sua importância na História do Cinema. Algo facilmente conferido neste vídeo.

A vida continua…

Depois de tantos problemas, as coisas não ficaram mais fáceis. Orson Welles nunca mais teve liberdade sobre seus filmes, com produtores interferindo cada vez mais em suas obras. Ainda que nunca tenha conseguido repetir um feito como Kane, deixou obras muito relevantes como legado. Entre elas, A Marca da Maldade, Soberba, A Dama de Shanghai, O Processo, O Estranho e Macbeth. Produções que contaram com uma versatilidade rara, onde acumulava funções de diretor, roteirista, ator e produtor.

Falecido em 1985, aos 70 anos, a última década do lendário cineasta não foi de muito glamour. Narrações em comédias como A História do Mundo e séries de TV como Magnum P.I. (que popularizou o ator Tom Selleck) marcam o fim da carreira de alguém que merecia coisa melhor. Mesmo com a frustração de não conseguir agradar público e crítica em igual medida, neste momento, onde quer que esteja, tenho certeza de que Orson Welles está completamente feliz e realizado. Satisfeito por saber que é considerado uma das mentes mais brilhantes e um dos nomes mais importantes e aclamados a passar pela Sétima Arte.

O gênio se foi, mas o seu legado se eternizou, independente de qualquer boicote milionário.

 

Como curiosidade bônus, confira Orson Welles interpretando o Sombra no rádio:

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