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O universo poético-psicodélico-sombrio-colorido-insano e belo de Jodorowsky!

Uma breve, mas intensa, viagem pelo mundo de Alejandro Jodorowsky

Definir um artista em uma única palavra não é nem um pouco recomendado. Se pessoas fora do mundo das artes se reinventam a vida toda, imagine quem vive da criação. Mas é irresistível não chamar o chileno Alejandro Jodorowsky de insaciável. Além de se autodenominar “psicomago” (seja isso o que for), ele ainda é cineasta, ator, poeta e escritor, com direito a uma passagem como roteirista de quadrinhos da série Bórgia, com arte de Milo Manara (que já foi tema do Formiga na Tela, lembra?).

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Alejandro Jodorowsky!

Há quem diga que ele atira para todos os lados, só que sua pontaria é mais certeira que muitas por aí. E por falar em tiros, Seu Jodorowsky já fez o seu passeio pelo oeste. El Topo, lançado em 1970, já na abertura, descaradamente inspirada nos créditos dos westerns spaghettis, deixa claro que, mesmo lidando com um dos gêneros mais estruturados do cinema, Jodorowsky não gosta de deixar de lado sua assinatura. O pistoleiro protagonista passa por coisas que até Sergio Leone duvida! Uma coleção de cenas psicodélicas num cenário árido, com direito a duelo entre pai e filho que faz lembrar o final de Sete Dólares para Matar, de Alberto Cardone, lançado quatro anos antes.

E depois foi a vez de A Montanha Sagrada, talvez sua obra mais conhecida pelo grande público. Lembrada mais pelas cenas de nudez que pelo forte teor psicodélico, o filme continua um norte para jovens realizadores que pensam que meia dúzia de corpos nus e uma paleta de cores contrastantes bastam para impressionar. É claro que, em 1973, ano de lançamento do filme, o mundo ainda estava em ebulição criativa, e a linguagem de Jodorowsky tinha o seu público, que incluía nomes como John Lennon. Sim, havia um beatle que admirava feliz o universo do chileno de gosto peculiar.

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Cinco anos depois de El Topo alcançar o título de cult nos Estados Unidos, Jodorowsky começa a jornada de adaptação de Duna, romance de ficção-científica escrito pelo americano Frank Hebert. Nos planos do cineasta estavam um elenco que incluía Orson Welles e Salvador Dalí e uma trilha sonora composta pela banda Pink Floyd.

Sensacional é pouco, mas o projeto nunca saiu do papel, mas os storyboards e anotações podem ser conferidos no documentário Duna de Jodorowsky, produzido pela HBO (que também já foi assunto do Formiga na Tela). Daqueles mistérios da vida onde não ter sido lançado foi o melhor para o filme, já que conferir a empolgação de Jodo na criação de cenários e sequências é tão divertido quanto ter assistido o resultado final na telona. David Lynch foi quem acabou levando Duna para o cinema. O final desta história…melhor deixar para lá.

Experimentalismo sem fim

Apreciador de uma boa mancha vermelha, e El Topo tem várias logo de chegada, Jodorowsky não poderia passar a vida sem fazer um filme de horror. E ele não só fez como conseguiu agradar até quem foge do gênero. Santa Sangre chegou aos cinemas em 1989 fazendo barulho dos grandes, muito por causa de seus personagens.

A mãe manipuladora, interpretada pela maravilhosa Blanca Guerra, sempre às voltas com o filho traumatizado que vive delírios que envolvem circo, sexo e música. Uma receita com altas doses de Luis Buñuel e pitadinhas singelas de problemas maternais à lá Psicose, de Alfred Hitchcock. Um prato delicioso? Menos para quem tem estômago fraco ou gosta da louça limpinha imediatamente após findado o almoço.

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Como nem sempre a liberdade impera, o artista também já foi podado. O Ladrão de Arco-Íris, um projeto por encomenda cujo roteiro foi escrito pela esposa do produtor, colocou Jodorowsky na posição de mero organizador de set de filmagem, sem direito de modificar uma linha sequer. O elenco, que reúne os icônicos Omar Sharif, Peter O’Toole e Christopher Lee, não parece nem um pouco à vontade e, dizem as más línguas, não suportavam o diretor.

Agora, com Poesia Sem Fim, Jodorowsky parece ter voltado ao normal. Ou pelo menos ao seu normal. O trailer já dá uma ideia de que os anos não modificaram sua sede pelo diferente, pelas cores inesperadas e por histórias surpreendentes. Nesse mundo cheio de regras, horários a serem cumpridos, prazos estourando e imagem a zelar, um pouco de loucura é necessário. Se for a de Jodorowsky, melhor ainda. Deixa ele entrar.

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