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Filmes de gangues – 5 exemplares da “época de ouro”!

Que tal recordar a “época de ouro” dos filmes de gangues? Ou quase isso…

Entre as décadas de 70 e 80, uma tendência no cinema, que até poderíamos classificar como filmes de ação dramática, parecia querer conquistar seu espaço. Obras que revelavam a desordem da vida urbana em territórios específicos e disseminavam, implícita ou explicitamente, críticas sociais, sem negar o propósito de entreter os queridos cinéfilos. Era a hora dos filmes de gangues!

Os subúrbios das grandes cidades estavam agitados com o crescimento destes grupos e o cinema entendeu o recado. O ritmo de produções com este tema ficou intenso. Longas marcantes e cultuados até hoje despontaram neste período (já já vamos chegar lá!). Mesmo assim, a “moda” não emplacou como um subgênero de ação ou drama e perdeu força nas décadas seguintes, sendo explorado com menor frequência.

Cinco filmes de gangues

Nossa seleção de filmes de gangues: 1990: Os Guerreiros do Bronx, A Gangue da Pesada, Ruas de Fogo, O Selvagem da Motocicleta e Warriors.

Mas porque estes grupos existem?

Geralmente composta por jovens, a formação de uma gangue pode ter, no fundo, uma razão de descontentamento com o sistema. Desfavorecidos, com famílias disfuncionais e com dificuldades de integração social, encontram alívio através da organização de grupos com interesses em comum, mesmo que não tenham um grande objetivo definido.

Muitos criam uma estrutura quase formal, com liderança definida, hierarquia, identificação com um território, engajamento e desenvolvem uma espécie de “família”, defendendo seus interesses em boa parte através de comportamento violento.

Esta conexão é uma válvula de escape para que estes jovens encontrem sentido na vida, mesmo que os objetivos de uma gangue, estruturada ou não, no final das contas pode não ter sentido algum. Disputa de territórios, preconceito racial, ideologias radicais, defesa de integrantes ameaçados por gangues rivais ou simplesmente a busca por respeito, são fatores que, colocados em xeque, podem fazer o bicho pegar!

Bom, após esta breve e singela introdução ao tema, vamos ao que realmente interessa no momento. É hora de encarar um ranking com 5 exemplos de filmes de gangues que desenvolveram suas narrativas dentro desta temática, durante esta época, e ajudaram a ferver este “quase” subgênero.

Vamos abrir nossa lista dos filmes de gangues de forma leve e bem por baixo…

1990: Os Guerreiros do Bronx (The Bronx Warriors), de 1982

Iniciando a lista com uma pérola trash, ou melhor, uma bijuteria de quinta categoria. Aquele exemplo de filme que nem deveria existir, mas, já que existe, pode até divertir… Quem sabe?

Sem a pretensão de ser uma crítica social, 1990: Os Guerreiros do Bronx não deve e não pode ser levado a sério. Por isso, deixe de lado o seu preconceito e encare apenas como folia de carnaval (claro que os defeitos são as partes que realmente divertem).

Antes, vale contextuar: o cinema italiano, historicamente tão marcante para a sétima arte, adentrava nos anos 80 com um grupo de diretores questionáveis (Enzo G Castellari, o pai deste longa citado, é um grande exemplo). Eles se espelhavam em fórmulas de sucesso americanas, como O Exterminador do Futuro, Conan e Rambo (somente para citar alguns), e nos traziam risíveis produções como Keruak: O Exterminador de Aço, Thunder: Um Homem Chamado Trovão, Ator: O Invencível e por aí vai. Uma cacetada de filmes a toque de caixa em que 1990: Os Guerreiros do Bronx também estava inserido.

A história futurista deste longa é uma mistura picareta de Fuga de Nova York e The Warriors (dividido quase em iguais proporções). Parte do princípio de que o distrito americano do Bronx é declarado oficialmente uma “terra de ninguém” e é dominado por gangues que vivem em pé de guerra. O resto do enredo você nem precisa saber.

O bom é que você encontrará diversão por vários lados. Tanto pelas atuações horrorosas, como a do protagonista Marco Di Gregorio (que faz com que Nicolas Cage seja o novo Marlon Brando), quanto o roteiro porcamente escrito. Sem contar o total descaso com a ambientação (há cenas em que o fundo de filmagem destoa completamente da história) e a edição pavorosa. Ou seja, diversão garantida!

Aproveite para depois assistir à continuação, Fuga do Bronx (pois é, fizeram até uma sequência!). Após isso, não deixe utensílios cortantes próximos a sua mão, para que não faça nada que não deveria…

 

A Gangue da Pesada (The Wanderers), de 1979

E agora, tentando esquentar este ranking, vamos de um exemplar lançado em 1979. Mais conhecido no circuito alternativo, tem como pano de fundo a delinquência juvenil dos anos 60, representada por gangues de negros, italianos, orientais, etc…

The Wanderers é na realidade um filme interessante, mas peca em sua estrutura. Primeiro porque é difícil definir a sua proposta. É por essência um drama, porém flerta com comédia e ainda o gênero musical. A mistura parece que não dá muita liga e o roteiro também não ajuda muito.

O longa segue a gangue do título (Wanderers). Formada por rapazes italianos em NY que vivem em confronto com gangues rivais, ao mesmo tempo que curtem as festas com a mulherada, cantam músicas e ainda jogam futebol americano (?).

O ritmo da narrativa, que passa do drama para a comédia sem muito equilíbrio, confunde o espectador, que não sabe se foca nos duelos entre as gangues, no romance dos jovens, nos dilemas da rebeldia juvenil ou nas disputas esportivas. Uma salada que, mesmo assim descobre seu lado positivo.

O elenco tem bons valores entre os jovens e há personagens carismáticos. O interessante desfecho reforça o período de transição dos jovens desta época ao mostrar o par romântico do protagonista em um momento de reflexão, quando assiste Bob Dylan cantando The Times They Are a-Changin’, música símbolo de protesto. Poderia ter explorado mais este lado, mas tudo bem. No final das contas o filme acaba agradando…

 

Ruas de Fogo (Streets of Fire), de 1984

Com Walter Hill na direção (será novamente mencionado mais à frente neste artigo), Ruas de Fogo nos oferece certas decepções como um protagonista canastrão ao extremo, um arco de vingança não muito inovador e personagens dispensáveis (qual a real função do papel do Bill Paxton mesmo?). Mas, ainda assim, suas qualidades farão você desconsiderar esses erros de percurso.

A começar pela estética que traz um clima de conto de fadas moderno e urbano muito bem definido. O roteiro, aparentemente simples, nada mais é do que uma transposição de uma história de amor para o mundo das gangues. O príncipe urbano precisa resgatar sua princesa das mãos do vilão.

Ela (Diane Lane) é sequestrada por uma gangue conhecida como os Bombardeiros, liderada pelo personagem de Willem Dafoe. Seu atual namorado e empresário (Rick Moranis, o melhor do elenco) se junta ao bad boy heroico interpretado por Michael Paré, e uma ex-soldado do exército.

A trama, como podemos ver, é bem simples, mas a proposta de Hill é trabalhar bem mais outros pontos. A ambientação suburbana é bem atraente e é complementada com o destaque maior, a ótima musicalidade. Desconsiderando algumas falhas de Hill, Ruas de Fogo é uma boa diversão.

 

O Selvagem da Motocicleta (Rumble Fish), de 1983

Coppola também entrou com os dois pés na abordagem sobre delinquência juvenil na década de 80. No mesmo ano que fazia Vidas sem Rumo, trama que apresentava a rivalidade de duas gangues locais, os Greasers e os Socs, acertou em cheio com O Selvagem da Motocicleta (confira a resenha do livro), outra obra que explorava o mesmo tema e se destaca no balaio dos filmes de gangues.

Estes dois filmes examinam o assunto carregando no drama, mas é com O Selvagem da Motocicleta que Coppola passeia mais nos simbolismos e provoca o espectador a ver o longa mais de uma vez, para que as camadas mais profundas apareçam na superfície. Belissimamente filmado em preto e branco (há um motivo para isso e Coppola não esconde na narrativa), o filme tem praticamente dois personagens centrais muito bem interpretados pela dupla Matt Dillon e Mickey Rourke.

Filho de uma família disfuncional, Rusty James (Dillon) é o líder de uma pequena gangue decadente e vive na sombra de seu violento irmão mais velho conhecido como Motorcycle Boy (Rourke). Ele é uma espécie de lenda local e também antigo líder que desapareceu da cidade sem explicações. A gangue, liderada provisoriamente por Rusty James, continua sua jornada sem grandes propósitos de existência até que o Motocycle Boy resolve retornar. A diferença é que ele volta de uma forma bem serena e despejando frases abstratas.

Coppola ilustra, através destes dois personagens, o estereótipo de um jovem perdido, que perambula exatamente em uma transição de fases, e o “regenerado” cheio de diálogos reflexivos que não encontra sentido no que vê ao redor.

A metáfora dos peixes é a que melhor define o drama dos dois. Assim como os peixes (o nome original Rumble Fish não é à toa), confinados num aquário, os irmãos se encontram presos ao passado e com um futuro nada animador. A experiência de assistir O Selvagem da Motocicleta é quase contemplativa, mesmo que um ato violento ou outro coloque o seu pé no chão. Grande trabalho de Coppola!

 

Os Selvagens da Noite (The Warriors), de 1979

E agora chegamos ao topo da lista dos filmes de gangues com o fenômeno cult The Warriors (mais um filme de Walter Hill) que merece o status de referência quando o assunto é filmes de gangues.

A trama parte de um encontro de gangues no Bronx. Cyrus, o líder da maior gangue da cidade e responsável pela ideia de unificar estes delinquentes contra tudo e contra todos é assassinado durante este encontro. Injustamente acusados deste crime, os Warriors, gangue de Coney Island, deverão cruzar Manhattan para chegar a seu bairro de origem. No caminho dos nossos anti-heróis estarão todas as outras gangues…

Grande sucesso na época de seu lançamento nos cinemas, teve até uma repercussão polêmica naqueles dias, afinal em seu lançamento foram noticiados atos de vandalismo incluindo homicídios após algumas exibições. Mesmo com um conteúdo que mais entretém do que faz apologia à violência, o filme inflamou membros de gangues verdadeiras que assistiam ao longa e replicavam nas ruas os confrontos que viam na telona.

Acontece que The Warriors, descontando alguns erros no percurso que não comprometem e diálogos preguiçosos, entrega uma competentíssima diversão cinematográfica. Aposta muito na estética de história em quadrinhos (o próprio diretor deixa isso bem claro em seu Director’s Cut lançado em 2005) e abusa dos figurinos coloridos e vibrantes que o dão o tom fantasioso do longa, mesmo que não deixe de apresentar sua visão caótica de uma Nova York distópica dominada por gangues.

A ação é bem coreografada, a fotografia noturna de Nova York é atraente e a jornada da gangue se desenvolve muito bem. A narrativa é leve, mesmo que nos traga uma violência que foi considerada abusiva naquele período (hoje em dia, é água com açúcar).

Outro grande destaque é a espetacular trilha sonora. Além da belíssima composição de Joe Walsh “In the City” que encaixa perfeitamente com o desfecho do filme, há outras canções que dialogam diretamente com o longa e ajudam a contar a história. A música instrumental também aparece com força nos momentos certos.

E o roteiro? O argumento, baseado no romance de Sol Yurick, não replica a forte crítica social do livro e economiza seu lado mais sombrio. O estupro coletivo e as mortes a sangue frio apresentadas no romance, são ignorados no longa, que tem uma proposta distinta no geral. O filme não deixa também de oferecer um lado crítico, mas Hill vai para um lado bem mais palatável. Deixo claro que isso não é demérito para o filme, ok?

Uma curiosa diferença entre as duas obras é a multi etnicidade do filme, que é bem mais equilibrada. Boa parte dos embates no livro são entre grupos de negros e latinos. A gangue principal do romance, os Coney Island Dominators (grupo que representa os Warriors no longa), é formada somente por negros.

Vale recordar que este querido longa ficou conhecido pelo público brasileiro através das exaustivas exibições na telinha que nos traziam aquela dublagem questionável (“Guerreiros, venham aqui brigaaaar”) que hoje podemos dizer ser bem divertida…

Mesmo assim, com ares de memória afetiva e um “quê” de filme B, pode e deve ser levado a sério. É um divertimento de primeira e neste tema do artigo é uma referência sim senhor!

“Can you dig it?” (ou melhor, “Vocês sacaram?”)!

 

E aí? Curtiu nossa escolha para os representantes mais notáveis dos filmes de gangues? Faltou algum? Comente e deixe a gente saber…

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