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Liberdade! – Grandes filmes sobre rebeldes e rebeliões!

As primeiras civilizações humanas, lá no final do Neolítico, na distante Mesopotâmia, se formaram em torno de impérios e monarquias. Esse modelo de organização hierárquica, que persiste até hoje, é quase tão antigo quanto a própria versão atual da nossa espécie. E se existe uma constante na história humana, conforme pensadores como Aristóteles já haviam afirmado milhares de anos atrás, é a de que onde existe poder, existe o abuso dele. Às vezes, como nas democracias civilizadas, nós conseguimos no blindar contra ele. Na maior parte das vezes, não. É aí que acontecem as revoltas. É aí que surgem os rebeldes – e sua luta pela liberdade.

Seja na vida real, seja na ficção, rebeldes conquistam a emoção e a afeição do público. Normalmente defasados de recursos e munidos apenas de seus ideais de liberdade e justiça para o povo, rebeldes são o maior símbolo da luta contra os alienados ou malignos que estão no poder em qualquer lugar ou momento da história do mundo. São um estandarte de esperança que lembra a todos de que, com dedicação, uma pessoa pode sim mudar o rumo da sua sociedade, trazendo a igualdade necessária para que seres humanos – todos eles – possam desfrutar da liberdade e da justiça inerentes a qualquer organização humana racional e ética.

Por que esse tema agora? Ora, é óbvio, amigo leitor! Estamos aproveitando o lançamento de Rogue One: Uma História Star Wars, que nós sabemos que você já assistiu – seu nerd fanático – para trazer para uma lista de sugestões aqui do Formigueiro de filmes sobre rebeldes e/ou rebeliões. Filmes clássicos, alguns já um tanto esquecidos, outros até mesmo relativamente desconhecidos, mas que são muito interessantes para imergirmos na mente de um rebelde, ou compreendermos, com menos ingenuidade, as motivações de uma rebelião.

Os rebeldes de Rogue One que inspiraram essa lista!

Os rebeldes de Rogue One que inspiraram essa lista!

Gostaríamos de lembrar que essa não é uma lista de “melhores” qualquer coisa, mas sim uma lista com sugestões para você expandir seu universo cinematográfico e talvez curtir, ainda mais, esse filme bacana que é Rogue One. A ordem, portanto, é irrelevante. Esperamos que você se divirta!

1 – Fortaleza Escondida, de Akira Kurosawa (Kakushi toride no san akunin – 1958)

Começamos nossa lista com esse clássico absoluto de Kurosawa por um motivo simples e objetivo: sem Fortaleza Escondida, sem Star Wars. O criador da saga espacial George Lucas nunca escondeu sua paixão e inspiração pelos filmes do diretor japonês, e o primeiro episódio da franquia, Uma Nova Esperança, tem sua estrutura narrativa totalmente baseada no filme de 58. Portanto, se você quer curtir ainda mais as aventuras de Luke e companhia, não pode deixar de assistir o filme que trouxe Lucas para o lado do Força. Não fosse esse motivo o bastante, Fortaleza ainda é um dos melhores filmes de Kurosawa, o que significa muita coisa.

Na trama, temos dois camponeses (Minoru Chiaki e Kamatari Fujiwara) que retornam para suas casas após uma nada louvável participação na guerra. Miseráveis, eles acabam encontrando um tesouro pertencente ao clã dos Akizuki, e após conhecerem o general Rokurota (Toshiro Mifune), ajudam-no a transportar todo o tesouro – os camponeses não fazem ideia de que o verdadeiro objetivo da expedição é fazer passar a princesa Yuki (Misa Uehara) pelas terras inimigas até chegar ao seu clã de origem.

O filme que inspirou George Lucas a criar Uma Nova Esperança!

O filme que inspirou George Lucas a criar Uma Nova Esperança!

Uma clássica trama jidaigeki, onde os homens comuns são manipulados por pessoas poderosas para estas atingirem seus objetivos. Entretanto, quando o véu da dissimulação cai, como sempre, os poderosos se veem em maus lençóis. Um clássico sobre como os poderosos cavam suas próprias covas e incentivam o povo a rebelar-se contra seus desmandos.

Kurosawa está na sua época áurea aqui, e ainda tem ao seu lado o duo Toshiro Mifune e Takashi Shimura, que colaboram com ele em inúmeros outros filmes – notadamente, Os Sete Samurais – e formam aquela que é talvez a melhor equipe cinematográfica da história da sétima arte. Embora tenha sido um sucesso estrondoso na época, hoje é um tanto eclipsado por outras obras do diretor. Por isso, vale a pena conferir.

2 – Spartacus, de Stanley Kubrick (Idem, 1960)

Pois bem, na segunda colocação temos não apenas outro imenso sucesso de crítica e público na época em que foi lançado, mas também o primeiro a ser baseado, como diria o outro, em “fatos reais”. Spartacus, se lançado hoje, seria o mais puro creme do milho de blockbuster: com um roteiro adaptado por Dalton Trumbo, teve na direção ninguém menos do que Stanley Kubrick e foi estrelado por atores do porte de Kirk Douglas, Peter Ustinov, Tony Curtis e a lenda Laurence Olivier. Tá bom ou quer mais?

E, é claro, não precisamos justificar a presença desse aqui na lista. Mesmo que você não tenha assistido ao filme, você ao menos já deve ter ouvido falar da rebelião do gladiador Spartacus contra o Império Romano, pois ela é tão simbolicamente relevante para a história do ocidente que está presente em praticamente todas as apostilas escolares desse hemisfério. Mas sendo um filme uma romantização dos eventos, vamos à trama:

Spartacus (Kirk Douglas), um homem que nasceu escravo, labuta para o Império Romano enquanto sonha com o fim da escravidão. Ele, por sua vez, não tem muito com o que sonhar, pois foi condenado à morte por morder um guarda em uma mina na Líbia. Mas seu destino foi mudado por um lanista (negociante e treinador de gladiadores, interpretado por Ustinov), que o comprou para ser treinado nas artes de combate e se tornar um gladiador. Até que um dia, dois poderosos patrícios (um deles, Laurence Olivier) chegam de Roma, um com a esposa e o outro com a noiva. As mulheres pedem para serem entretidas com dois combates até à morte e Spartacus é escolhido para enfrentar um gladiador negro, que vence a luta mas se recusa a matar seu opositor, atirando seu tridente contra a tribuna onde estavam os romanos.

Kirk Douglas tocou o terror no Império Romano!

Kirk Douglas tocou o terror no Império Romano!

Este nobre gesto custa a vida do gladiador negro e enfurece Spartacus de tal maneira que ele acaba liderando uma revolta de escravos, que atinge metade da Itália. Inicialmente, as legiões romanas subestimaram seus adversários e foram todas massacradas, por homens que não queriam nada de Roma, além de sua própria liberdade. Até que, quando o Senado Romano toma consciência da gravidade da situação, decide reagir com todo o seu poderio militar. Spartacus, inadvertidamente, se tornou um símbolo da história da liberdade no ocidente ao desafiar um dos maiores impérios que o mundo já viu. Os rebeldes de um certa galáxia muito, muito distante, teriam muito a aprender com esse cara.

Entretanto, mesmo com esse time de super-estrelas da época, o filme não resistiu bem ao teste do tempo, e Spartacus – que, por ser um épico, é muito calcado em cenários, figurinos e efeitos visuais – acabou se tornando datado com o passar dos anos. Muita gente esquece que essa obra grandiosa até mesmo pertence ao cânone do genial Kubrick, relegando o filme a um segundo patamar em comparação a outras obras do diretor, como Laranja Mecânica ou 2001. O que é absolutamente injusto, pois o filme é primorosamente bem executado, e rendeu até mesmo a Ustinov o Oscar por Ator Coadjuvante.

Não obstante, extra-filme, vem a nota mais curiosa e que justifica a própria produção da obra nessa lista: quando anunciado por Douglas como o roteirista de um filme desse porte, Trumbo foi retirado da famosa lista de negra de Hollywood por ninguém menos que o presidente JFK. É muita rebelião em um filme só!

3 – Asas do Desejo, de Wim Wenders (Der Himmel übber Berlin – 1987)

Voltamos para o reino da ficção com essa belíssima obra do exótico diretor Wim Wenders. Entretanto, Asas do Desejo está nessa lista por um motivo mais sutil. Não se trata de uma rebelião contra um poder externo ou opressor. Trata-se de uma rebelião contra a própria condição do nosso ser. Afinal, muito filósofos, como Sartre, entendem que os humanos estão, inexoravelmente, presos a si mesmos. De muitas formas, como diria o francês, “condenados a serem livres”. Pois é essa liberdade de existir – de ser – que discute essa belíssima obra.

Bruno Ganz e Otto Sander encarnam (e existe aqui uma ironia na minha escolha de palavras que o amigo leitor só entenderá assistindo o filme), respectivamente, Damiel e Cassiel, dois anjos que perambulam sobre a Berlim Ocidental pré-queda do Muro, executando a tarefa para a qual foram divinamente criados – consolar e aliviar a dura existência humana nessa Terra. Essa tarefa é executada pelos anjos com profunda diligência, mas não sem total descontentamento.

Existe uma espécie de paradoxo na existência angelical: eles devem ser distantes, para que sua presença não interfira na continuidade da vida das pessoas, mas, ao mesmo tempo, devem ser empáticos o bastante para estarem ao lado das pessoas durante suas dificuldades e, assim, aliviar seu sofrimento. E é a existência dessa empatia que provoca o paradoxo: os anjos devem compreender as emoções humanas para realizar sua tarefa, mas estão, por condição de sua criação e existências, proibidos de vivenciá-las.

Uma das maiores atuações do lendário Bruno Ganz!

Uma das maiores atuações do lendário Bruno Ganz!

Então, ao conhecer a bela trapezista Marion (Solveig Dommartin), Damiel decide se “rebelar”. Não contra as hostes celestiais ou mesmo contra Deus, mas contra sua própria condição. Sua “prisão de si”, como ele menciona no filme. O grande valor de Asas do Desejo está justamente aí – nos proporcionar uma reflexão de que, da mesma forma que estamos presos à nossa condição existencial, subvertê-la, em um nível apenas conceitual ou mesmo um literal, cabe a nós mesmos. Pois, mesmo que designados para uma tarefa na existência, nós somos, a posteriori, um produto da nossa própria consciência e definidos, mas não determinados, por ela.

Esse embate existencial é muito bem demonstrado no filme por Wenders, na sua escolha de mostrar a visão dos anjos em branco e preto, ou seja, dualista e pragmática – de certa forma, até melancólica – enquanto a visão dos humanos é colorida, mais abrangente e vívida. O que constitui uma clara ironia – os anjos, seres perfeitos e imortais que não conhecem a dor ou o sofrimento, veem o mundo de forma mais melancólica, enquanto os humanos, falhos e imperfeitos, fadados a uma vida limitada permeada por experiências ruins, enxergam o mundo com mais liberdade em seu campo de visão. Asas do Desejo é um ótimo filme esquecido, que nos proporciona a forma suprema de rebelião: o questionamento.

4 – Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade (1972)

Tem representante tupiniquim na lista? Tem sim! E um dos bons!

Um clássico relativamente esquecido do cinema nacional, Os Inconfidentes tem motivos, assim como Spartacus, auto-explicativos para estar aqui. Afinal, ele retrata a rebelião que, por pouco, não tornou o Brasil uma das primeiras democracias da história do mundo. Exatamente, amigo leitor, faça as contas. Se o movimento, de 1789, tivesse sido bem sucedido, nós teríamos saído na frente de inúmeros outros países na busca pela liberdade e representatividade do povo, certamente muito antes dos impérios europeus do período. Afinal, a Revolução Francesa, que inaugurou a era contemporânea do mundo, segundo é convenção entre historiadores, aconteceria somente em 14 de Julho do mesmo ano, quando a conspiração já existia a algum tempo, inspirada pela independência americana. Ou seja, é uma senhora rebelião para se falar sobre.

A trama é desnecessária ser mencionada (eu honestamente espero), afinal trata-se de um dos eventos mais estudados da história brasileira, mesmo em idade escolar (e se o amigo leitor não lembra, tome vergonha nessa cara e ao menos assista o filme para aprender). Ademais, o filme se foca principalmente nos bastidores dos inconfidentes, dado que a revolução nunca foi levada a cabo. Assim, Andrade faz um bom trabalho de imersão nos ideais iluministas dos revolucionários, mas fazendo questão de despir seus personagens de qualquer idealismo, representando-os como seres humanos concretos. Ajudado por um show de interpretação do falecido José Wilker, que encara o símbolo da revolução Tiradentes, Andrade constrói uma trama de suspense político muito interessante. Embora demore para engrenar, a conclusão do filme é de tirar o chapéu e o fôlego.

José Wilker não parece feliz de saber que vai ser esquartejado.

José Wilker não parece feliz de saber que vai ser esquartejado.

Andrade foi ajudado em grande parte pela participação no seu roteiro de ninguém menos do que a escritora Cecília Meireles. Um colosso da literatura nacional, Meireles ajuda Andrade a criar uma trama muito equilibrada entre questões de ideais políticos e drama humano. Os Inconfidentes não é apenas uma boa obra para compreender o contexto histórico em que a revolução aconteceu, mas também o que pensavam e sentiam as pessoas nela envolvida.

Incidentalmente, extra-filme, Os Inconfidentes também tem seu mérito rebelde: tendo sido realizado em plena ditadura, o filme é uma resposta a outro filme do mesmo ano, Independência ou Morte, uma bobagem ufanista que exaltava o aspecto mais militar da celebração de 150 anos da independência brasileira. Os Inconfidentes, ao contrário, mostrando a mão de ferro da Coroa portuguesa, acaba sendo uma metáfora para a opressão da ditadura militar. Andrade e Meireles fizeram questão de deixar claro, durante todo o texto, o cerceamento da liberdade realizado pelos militares. Para que o filme não fosse proibido, o diretor concordou em inserir propaganda pró-governo, e o que ficou foi um apêndice sarcástico e irônico (ao fundo, Aquarela do Brasil, do genial Ari Barroso), com o qual conseguiu exibir o filme. Um clássico para se reassistir com gosto!

5 – Rebelião, de Masaki Kobayashi (Joi-uchi: Hairyo Tsuma Shimaki – 1967)

Se fossemos mencionar todos os grandes filmes japoneses que falam sobre rebeldes ou rebeliões, teríamos que ter uma lista só para eles. E ela seria imensa. Entretanto, não dá para deixar esse de fora. A obra máxima deste grande diretor, também representante do período áureo do cinema japonês quando esse ainda era um dos melhores, senão o melhor, do mundo, Rebelião transpira anti-establishment do começo ao fim. O que parece redundante, visto que, no período, a maior parte dos inúmeros bons diretores que o Japão possuía fazia, ao menos em parte, algum tipo de trabalho revisionista ou desconstrucionista em cima da figura do samurai. Durante o Japão Feudal, um símbolo de heroísmo e disciplina, o samurai se torna uma figura controversa no pós-guerra do Japão, simbolizando um regime de castas opressor e anacrônico.

Entretanto, Kobayashi ficou conhecido como um dos diretores que mais “detestava”, por assim dizer, a figura dos samurais. Sua obra é permeada ela ideia de que samurais eram soldados armados e bem treinados com um profundo desprezo pelas pessoas comuns e, quando contrariados, podiam ser um perigo até mesmo para aqueles que tanto valorizam sua disciplina. O que não deixa de ser uma percepção irônica da parte de Kobayashi, que exaltava o fato de que, mesmo parte de uma elite, eles eram apenas servos descartáveis e sem liberdade, como qualquer uma das pessoas comuns que muitos deles desprezavam.

Precisa ter muita coragem para enfrentar Toshiro Mifune com uma cara dessas.

Precisa ter muita coragem para enfrentar Toshiro Mifune com uma cara dessas.

Na trama, pouco depois de cumprir mais uma de suas obrigações com o clã Matsudaira, Isaburo Sasahara (Toshiro Mifune), recebe um comunicado para que aceite a garota Ichi (Yoko Tsukasa) como noiva de seu filho, Yogoro (Go Kato). Mas se a princípio eles temem a ideia, pois Ichi é mãe de um dos filhos do lorde e está sendo dispensada por ter agredido o senhor, após o casamento a situação se inverte. Ichi é uma esposa honrada e amável. E um acontecimento inesperado irá complicar toda a situação, pois o senhor Matsudaira (Tatsuo Matsumura) requisita a jovem de volta, criando um impasse que envolve muito mais que decisões políticas, envolve todo um caso de amor.

A mensagem de Kobayashi é clara – a lealdade de muita gente só vai até onde ela entrar em conflito com seus valores pessoais, e é basicamente por isso que regimes opressores jamais se sustentam. O poder só defendido com vigor por aqueles que desfrutam dele, e quem quer que compartilhe dessa ideia sempre viverá à sombra daqueles que um dia terão a coragem de se erguer para desafiá-los. Não fosse apenas narrativamente brilhante, Rebelião ainda é uma aula de direção dramática pois, com poucos cenários e valorizando takes internos e closes nas fortes expressões dos atores, o diretor consegue nos dar uma noção de um contexto macro encenando um contexto micro. Somente gênios tem a habilidade de fazer isso.

E falando em gênio, é mais um filme com Toshiro Mifune. Precisa de mais motivo para assistir?

6 – Lawrence da Arábia, de David Lean (Lawrence of Arabia – 1962)

Ok, esse não é um filme esquecido ou pouco conhecido. Pelo contrário, é considerado uma das maiores obras da história da sétima arte, ganhou um caminhão de Oscars, foi dirigido por David Lean e estrelado por uma galera do naipe de Peter O’Toole, Jack Hawkins, Anthony Quinn e Omar Shariff. Não fosse isso o bastante, o filme ainda foi um sucesso cretino de bilheteria, faturando 70 milhões de dólares, o que em 62 era o bastante para fazer qualquer executivo enfartar de alegria. Lawrence da Arábia é, sem dúvida alguma, um daqueles filmes para ser mandado para o espaço para os aliens nos conhecerem antes de chegar aqui. Por que a menção, então?

Justamente por tudo isso. Este é provavelmente o maior filme já feito sobre um rebelde. E se os feitos extra-filme já não fossem o bastante, tudo que envolve a lenda de T. E. Lawrence, o sujeito no qual a película foi baseada, é no mínimo instigante. Baseado na autobiografia de Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria, o filme se passa em 1916, em plena I Guerra Mundial, quando o então jovem tenente do exército britânico estacionado no Cairo pede transferência para a península arábica.

Lá, ele se torna o oficial de ligação entre os rebeldes árabes e o exército britânico, aliados contra os turcos, que desejavam anexar ao seu Império Otomano a Península Arábica. Lawrence, admirador confesso do deserto e do estilo de vida beduíno, oferece-se para ajudar os árabes a se libertarem dos turcos. O filme mostra quatro episódios principais da vida de Lawrence durante a sua estada na Arábia: a conquista de Aqaba; o seu rapto e tortura pelos turcos em Deraa; o massacre de Tafas; e o fim do sonho árabe de Damasco.

Anthony Quinn, Peter O'Toole e Omar Sharif. Só isso.

Anthony Quinn, Peter O’Toole e Omar Sharif. Só isso.

O filme é uma coisa majestosa do começo ao fim, e só se você estiver completamente morto por dentro você não irá aderir à causa de Lawrence. Como já dissemos, é desnecessário exaltar a envergadura dos protagonistas e dos realizadores do filme, então basta para nós nos focarmos na própria figura de T. E. Lawrence. Carismático, ele consegue unir tribos conflitantes e sublimar séculos de tensões étnicas apenas com sua fervorosa crença na liberdade e na beleza dos hábitos dos povos beduínos.

É fácil se deixar levar, afinal de contas, pouquíssimos filmes constroem uma situação em que o lado mais fraco é tão mais fraco – trata-se, afinal de um evento que se desenrola na Primeira Guerra. Ou seja, enquanto os impérios europeus lutavam com aviões e metralhadoras, os beduínos tinham cavalos e velhos fuzis. Uma luta tão desigual, que quase termina com uma vitória do lado mais fraco, é algo que permanece atual e empolgante até hoje, e talvez por isso, mesmo 50 anos depois, Lawrence da Árabia ainda seja um dos filmes mais exaltados da história.

Assim, cada vitória, cada avanço de Lawrence na direção da união dos povos e das vitórias na guerra é comemorado pelo espectador como se estivéssemos lutando ao lado dele. Mais interessante ainda, é saber que essa figura quase surreal foi de carne e osso, tão real quando se poderia ser. Mesmo que não tenha sido bem sucedido, a história deixada para trás por Lawrence é algo para ser revisto e celebrado por toda a história!

7 – O Encouraçado Potemkin, de Serguei Eisenstein (Bronenosets Potyomkin – 1925)

Com o perdão do trocadilho, vamos embarcar no caso mais controverso dessa lista. É desnecessário apontar o fato de que estamos vivendo um dos períodos ideológicos mais estúpidos da história do nosso país. Chega a ser inacreditável, em pleno ano de 2016, ainda vermos pessoas se estapeando na rua por conta de debates exaltados sobre o falso e anacrônico dualismo “capitalismo x socialismo”. E exatamente por isso, é sempre delicado resgatar obras como O Encouraçado Potemkin, afinal, trata-se de um filme realizado após a Revolução Russa de 1917, em plena ascensão do regime stalinista. Mas nós não nos privaremos.

Os ignorantes militantes ideológicos dirão então que se trata obviamente de uma obra panfletária comunista, porque foi, como todas as outras do período, patrocinado pelo governo russo. Esqueça esses idiotas. Esse filme não só é narrativamente belo, mas revolucionário em muitos sentidos. Antes de fazer parte de qualquer movimento, Eisenstein era um artista dos bons. Potemkin, assim como outros de seus filmes, foi um marco na história da sétima arte por conta das suas inovações em técnicas de efeitos visuais, algo obviamente ainda complexo em 1925, e também por seu estilo de montagem, arrojado e inovador mesmo para os padrões americanos. Assim, se o amigo leitor se considera um cinéfilo, essa peça é necessária para se aprofundar na arte e na sua história.

Mas afinal, por que a controvérsia em torno do filme? Sua trama. Em 1905, na Rússia czarista, ocorre um levante que pressagiou a Revolução de 1917. Tudo começa no navio de guerra Potemkin, um poderoso encouraçado (tecnologia de ponta na época) da marinha russa, quando os marinheiros estavam cansados de serem maltratados. Mas maus-tratos mesmo. É icônica a história da carne estragada lhes era dada, com a total indulgência do médico de bordo que insiste que ela era perfeitamente comestível.

Assim, alguns marinheiros se recusam em comer esta carne, o que leva, na estúpida ordem marcial, aos oficiais do navio ordenarem a execução deles. A tensão aumenta e, gradativamente, a situação vai saindo do controle. Logo depois dos gatilhos serem apertados, Vakulinchuk (Aleksandr Antonov), um marinheiro, grita para os soldados e pede para eles pensarem e decidirem se estão com os oficiais ou com os marinheiros. Os soldados hesitam e então abaixam suas armas. Louco de ódio, um oficial tenta agarrar um dos rifles e provoca uma revolta no navio, na qual o marinheiro é vitimado. Mas isto seria apenas o início de uma grande tragédia.

A lendária cena da escadaria!

A lendária cena da escadaria!

Portanto, entenda, amigo leitor, que quando você ver Vakulinchuk gritando “Irmãos! Em quem estão atirando?!”, você não está vendo apenas um marinheiro amotinado. É um homem oprimido por uma disciplina marcial que lhe é imposta sem que se possa ser discutida, e que não é razoável. Daí o fato de que O Encouraçado Potemkin passa longe, mas muito longe, de ser reduzido a um mero “panfleto comunista”, como seus detratores ideológicos podem dizer. Trata-se de um filme libertário, sobre um grupo de pessoas que insurge contra uma ordem hierárquica – imperialista, opressora e injusta por definição. Sua defesa não é em nome “deste” ou “daquele” regime; sua defesa é em nome da justiça e da liberdade.

E, mesmo que não fosse, o amigo leitor deve lembrar que esse filme é de 1925, ainda nos primórdios da Revolução Russa, quando a memória da Rússia czarista ainda estava bastante fresca na mente do povo russo. E quando se estuda sobre o período, se sabe que aquilo não era nem de longe um passeio no parque. Embora isso, obviamente (eu espero) não justifique o que se seguiu, principalmente com Stálin, se deve entender que a revolução não aconteceu porque aquelas pessoas não tinham coisa melhor para fazer no dia a não ser morrer sangrando na neve. De fato, nenhuma revolução ou rebelião acontece quando as pessoas estão felizes, tem teto sobre suas cabeças, comida todos os dias na mesa e liberdade para fazer o que quiserem de suas vidas. Ninguém sai de casa para enfrentar fuzis simplesmente porque quer.

Assim, O Encouraçado Potemkin, quase um século depois, ainda é uma obra artística e historicamente importante. Não apenas pelas suas qualidades artísticas – e como já dissemos, Eisenstein é um diretor a ser estudado – mas também pelo seu teor narrativo revolucionário. Talvez, um dos exemplos mais perfeitos a se encaixarem nessa lista.

8 – Fugindo do Inferno, de John Sturges (The Great Scape – 1963)

Baseado no livro de Paul Brickhill The Great Scape, nós temos aqui um bom exemplar de um filme que não necessariamente trata de uma grande rebelião ou com rebeldes famosos, mas que celebra o espírito indômito de um grupo de pessoas mesmo diante de uma situação extremamente desfavorável. Estrelado por ninguém menos que o lendário Steve McQueen, o filme rapidamente cativa sua audiência com a sagacidade e determinação de seus protagonistas. Se isso não bastasse, a trilha sonora é de autoria de Elmer Bernstein, ou seja: a emoção está garantida.

Quando nós mencionamos “situação desfavorável”, é uma para valer. Fugindo do Inferno foi pensado para ser um filme de ação de guerra bem feito, mas despretensioso. Acabou se tornando a epítome dos filmes de fuga de prisão. Por muito motivos. Hollywood sempre se calcou, em parte, em seus inúmeros heróis de ação unidimensionais. Alguns deles conhecidos por esse estereótipo marcam presença nesse filme, como James Coburn e Charles Bronson.

Entretanto, Fugindo do Inferno se destaca justamente porque, apesar de ser um filme de ação, seus personagens não pertencem a esse estereótipo unidimensional, nem seu roteiro é superficial. Incidentalmente, ele é bastante conhecido pela humanização de seus personagens – aí inclusos os seus captores nazistas, que não são apenas vilões malvados, mas seres humanos concretos, com sua própria agenda política.

Em 1943 os nazistas decidem transferir os prisioneiros de guerra militares, que têm maior incidência em tentativas de fugas, para o mesmo campo, que foi projetado para impedir qualquer tipo de fuga. Mas isto acaba se provando um grande erro, pois, na melhor tradição dos filmes de equipe, cada um possui habilidades específicas, e nenhum deles pretende ficar ali para sempre. Logo, idealizam um audacioso plano de fuga, que previa a construção de três túneis – um elaborado engenho para permitir que não apenas um punhado específico, mas todos os prisioneiros pudessem fugir.

“Big X” Bartlett (Richard Attenborough) é um soldado britânico que habilmente elabora todo o plano. Ele é auxiliado por Danny Willinski (Charles Bronson), um polonês que é especialista em fazer trincheiras. A equipe também conta com Blythe (Donald Pleasence), um mestre na falsificação e dois americanos: Hendley (James Garner), que tem um talento para furtos, e Hilts (Steve McQueen), que, com sua personalidade rebelde, não só tem idéias próprias de como fugir do lugar, como também é um recordista na tentativa de fugas. A justificativa para os três túneis é que se um deles for descoberto, os outros ainda podem realizar a missão. Além da fuga propriamente dita, há um esquema para, após saírem do campo, chegarem até a Inglaterra ou qualquer outro país neutro.

Você pode dizer muita coisa de Steve McQueen, mas não que ele não tinha estilo!

Você pode dizer muita coisa de Steve McQueen, mas não que ele não tinha estilo!

Ou seja, todas as bases estão cobertas. O plano é tão genial que somente a ficção poderia criar algo assim. E essa é a parte mais legal: todo o plano é baseado em uma história real, e os restos do túnel Harry ainda podem ser vistos. A tentativa de fuga foi tão audaz e o plano, tão elaborado, que o próprio filme termina com a mensagem “Este filme é dedicado aos 50”. Certamente, uma obra à altura do feito desses corajosos rebeldes.

A nota de curiosidade fica por conta do “remake” desse filme. Entre aspas, porque trata-se em parte de uma brincadeira: em inúmeras entrevistas, um dos diretores da animação stop-motion Fuga das Galinhas, Nick Park, admitiu publicamente que a estrutura narrativa do filme era totalmente baseada em Fugindo do Inferno, havendo até mesmo alguma semelhança em diálogos. Então, se você não estiver com pique para ver um filme de guerra mais denso, você pode assistir a “versão animada”. Steve McQueen deve se revirar no túmulo, mas o que está feito, está feito…

9 – A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo (La Battaglia di Algeri – 1966)

Junto com O Encouraçado Potemkin, é o outro grande soco no estômago dessa lista. Assistir a essa obra, 50 anos depois, pode ser uma experiência única – trata-se de um filme que se insere completamente no contexto do seu tempo, mas que permanece tão atual como nunca. Pois, embora tecnicamente datado, temática e narrativamente, o filme ainda provoca reflexões sérias e agudas sobre a natureza da guerra. Tão sérias, que ficou famosa a exibição desse filme em 2003 pelo Pentágono, nos EUA, evidentemente fascinados com as mesmas qualidades que chamaram a atenção das audiências ao redor do mundo: sua maneira paradoxalmente sutil e explícita de expor temas como contra-terrorismo, contra-insurgência e a importância suja da tortura para “provocar informações”.

Essas cenas de tortura, aliás, nos são impostas sem qualquer tipo de envolvimento emocional o dramatização; que incluem incendiar o torso de suspeitos, afogamento e choques nos lóbulos das orelhas para fritar a motivação dos presos – muitas vezes, até a morte. Curioso observar que essas cenas, como dito, são apresentadas de maneira crua, sem uma típica humanização ou dramatização que seriam essenciais para justificar uma cena assim em 2016. Ao contrário, elas parecem quase um filme de treinamento militar. Outros diretores, com mais escrúpulos convencionais ou sentimentos, talvez sentissem a necessidade de mostrar a dor interna do torturador ou seu passado oculto, talvez. Mas Pontecorvo prefere trabalhar isso do ponto de vista da estratégia.

O anti-herói Coronel Mathieu, interpretado por Jean Martin, é um paramilitar encarregado pelo governo francês de acabar com a revolta argelina. Ele é um austero e irritadiço soldado profissional, que carrega em si o típico cinismo francês em relação ao mundo a sua volta, mas aqui exponencialmente piorado por uma vida de cicatrizes de batalhas. Liderando suas tropas através do exemplo, Mathieu desfila pelas ruas reafirmando com firmeza inabalável aos seus cidadãos leais que a França irá esmagar os terroristas enfrentando-os de frente.

De semblante fatigado constantemente coberto pelos seus óculos escuros, Martin constrói uma típica figura de guerrilheiro profissional, o tipo de homem que suja as mãos em um espetáculo sangrento, para que seus mestres obesos, em seu distante continente pacífico, não precisem fazê-lo. O talento de Pontecorvo é vastamente demonstrado na construção da figura macabra de seu protagonista – usando a luz natural para jogar com as sombras do ambiente, a face de Martin flutua para dentro e para fora da luz, provocando uma espécie de efeito “jornalístico” bastante inovador.

Coronel Mathieu não era um sujeito muito discreto.

Coronel Mathieu não era um sujeito muito discreto.

As autoridades francesas permitem um primeiro bombardeio no casbah local – uma demonstração de “terrorismo estatal” antes que os americanos inventassem a expressão – mas então, sob o comando de Mathieu, eles embarcam em uma campanha extremamente inteligente, isolando células terroristas e torturando seus membros para chegar até as figuras mais importantes e, então, obliterá-las. Aqui não há espaço para debates éticos: é uma solução militar para um problema militar. Quando Mathieu simplesmente assume que os culpados são sempre muçulmanos e estarão escondidos em locais árabes, nossa sensibilidade contemporânea é destroçada.

Se isso parece chocante, e isso nem de longe é uma justificativa para nada, é importante lembrar que o filme foi feito em uma época em que a identidade muçulmana não era a mesma coisa que é hoje – não há mesquitas ou religião nesse filme. Assim, “árabe” era uma maneira prática de definir quem destruir. Se isso parece absurdo amigo leitor, lembre-se que essa é uma lista sobre filmes de rebeldes e rebeliões. Para que possa haver uma, é necessário haver um inimigo contra o qual se lutar. Pontecorvo e Martin nos demonstram o quão cruel esse inimigo pode ser.

A campanha de Mathieu acaba terminando com uma vitória pirrônica. Os terroristas são vencidos, mas posteriormente um levante popular termina o trabalho por eles iniciado, expulsando os franceses do território argelino. Mathieu havia, aparentemente, previsto essa situação, e mesmo que não houvesse, qualquer pessoa que se debruça sobre a história percebe algo muito simples: qualquer tipo de opressão ou ocupação, mais dia, menos dia, acaba. Naturalmente ou na marra. O que quer que tenha sido feito com A Batalha de Argel no Pentágono, é bom que eles tenham prestado muita atenção. Afinal, eles, a sua própria maneira, são império da vez.

10 – Brazil – O Filme, de Terry Gilliam (Brazil – 1985)

Para fechar nossa lista, não poderia faltar uma ficção científica – e uma daquelas de dar nó na cabeça. Esse insano clássico cult só poderia ter saído da mente perturbada de um dos Monty Python, e assim como outros filmes dessa lista, apesar de já completar 31 anos, ele permanece bizarramente atual. O devaneio orwelliano distópico de Gilliam parte da crítica àquele que talvez seja o maior método de opressão conhecido pelo homem contemporâneo – a burocracia. Os intermináveis mares de documentos e sistemas de registros e contabilidade impessoais tem o dom primário de fazer qualquer um perder a vontade de viver. Essa é a tese brilhantemente defendida pelo diretor nessa comédia que poderia ser chamada de nonsense; se não estivesse tão assustadoramente próxima da realidade.

Este pesadelo frio e burocrático, que é a metrópole distópica sem nome onde reside o protagonista Sam Lowry (Jonathan Pryce), deixaria até Kafka de cabelo em pé. Esse mundo exibe aquelas características clássicas que todos amamos em distopias: um mar sem sim fim de arranha-céus cinzentos, vigiados de perto por autocráticas agências governamentais de nome esdrúxulos como Information Retrieval and Department of Records: drones de escritórios detonados trabalhando com “sofisticadas” tecnologias em algum lugar entre máquinas de escrever e os antigos Commodore 64; e pequenos carros em formato de bala, que mais confinam do que transportam. O sufocante expressionismo tardio de Gilliam mostra um mundo obcecado com a conveniência da tecnologia ao ponto de entregarmos o funcionamento da sociedade a ela. Parece familiar?

O mundo de Brazil parece funcionar no automático, uma máquina que constantemente empaca, mas que ninguém consegue descobrir como consertar. Esses erros são demonstrados com uma frequência hilária durante o filme. O próprio incidente que põe o filme em movimento é tão simples e patético quanto assustador em suas consequências – quando uma mosca esmagada sobre um teclado muda o nome de um suspeito terrorista de “Tuttle” para “Buttle”. O protagonista Sam consegue perceber, mas somente quando já é tarde demais, pois a estúpida e engessada máquina burocrática já está em ação para corrigir um problema que não existe, em uma assustadora velocidade. Existe uma metáfora perene aqui, de uma vida em constante movimento, como se tivéssemos medo de em algum instante parar e permitir aos nossos erros nos alcançarem. De novo: parece 2016, mas é 1985.

Brazil nos lembra que existem muitas formas opressão!

Brazil nos lembra que existem muitas formas opressão!

A resistência a esse cenário é facilmente dispersa – não se dirigindo agressivamente contra as demandas dos revoltosos, mas minimizando e ridicularizando seus desejos e necessidades. A mídia local, insidiosa como somente ela poderia ser na realidade, nos esfrega na cara sua própria versão da realidade desde a primeira cena, reduzindo os chamados “terroristas” a uma “minoria implacável de pessoas que esqueceram os bons e velhos valores de outrora. Eles simplesmente não conseguem ver seus vizinhos vencerem e eles não.” Mesmo no meio de uma revolução, os poderes vigentes são descaradamente insolentes com o significado desses manifestos por mudanças – como na explosão que destrói uma TV que transmitia exatamente esse tipo de mensagem no momento, e uma das imagens mais poderosas criadas por Gilliam em Brazil.

A complicada história em torno do lançamento de Brazil é, por si só, um exercício do mesmo tipo de controle burocrático e desumanizador sob o qual os personagens do filme vivem. Quando Gilliam tentou lançar o filme nos EUA, a Universal, que cuidava da distribuição, julgou o filme em tão baixa conta ao ponto de tentar forçar Gilliam a exibir uma versão mais curta do filme, com um final mais feliz. No lugar de a fuga triunfante de Sam da cidade junto com Jill (Kim Greist) ser apenas um delírio derrotado e desesperado dentro da sua mente destruída, a versão “Love Conquers All” – como veio a ser popularmente conhecida – subvertia a essa condição limítrofe do final.

Gilliam, este eterno rebelde, se recusou a aceitar: ele aliciou estudantes de cinema e críticos profissionais em exibições secretas da sua versão original para o filme. Somente quando Brazil ganhou o prêmio de melhor filme da LA Film Critics Association é que a Universal concordou em lançar a versão original do diretor. Mas aí, o estrago já estava feito. Tal qual Sam Lowry, o filme foi destroçado pelo sistema e mal fez metade de seu orçamento. Mesmo assim, é no mínimo uma justiça poética. Se Lowry encontrou sua liberdade apenas nos seus sonhos, Gilliam, ao menos, conseguiu compartilhar os seus com o resto do mundo.

É isso aí, amigo leitor! Gostou da nossa lista? Se sim, curta e compartilhe. Mas não se preocupe; ninguém está te obrigando. Afinal, você é uma pessoa livre!

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