No dia 23 de Março, tivemos a oportunidade de prestigiar a coletiva de imprensa do festival de documentários É Tudo Verdade, que levará ao público, em várias capitais do Brasil, as mais destacadas produções do gênero, nacionais e estrangeiras. Coube ao seu idealizador, curador e jornalista, Amir Labaki, a tarefa de nos apresentar conceitualmente o festival e suas abordagens. Passado o desabafo, de que os estáveis 20 anos do evento, são uma marca surpreendente no Brasil de pouca valorização cultural, Amir nos situou de que essas duas décadas foram importantes para se acompanhar o desenvolvimento dos documentários pelo mundo. Comemorou ainda, o avanço da democratização do gênero pela revolução digital, que também permitiu formatos mais longos desse tipo de produção.
A mesa, integrada por representantes de patrocinadores em sua maioria, deu espaço também às vozes de Mariana Ribas, diretora comercial na RioFilme, e Nabil Bonduki, atual secretário municipal de cultura de São Paulo. Este por sua vez, relembrou um pouco de sua amizade e convivência com Amir na Folha, e nos destacou a importância da participação da SP Cine no evento. Inaugurada em Janeiro deste ano, a SP Cine é uma empresa que desenvolverá programas e políticas para o meio audiovisual em São Paulo, e sendo considerada a RioFilme da terra da garoa, o festival serve como campo para uma das primeiras parcerias conjuntas dessas empresas.
Amir Labaki nos confidenciou que o evento recebeu mais de 1.300 inscrições, das quais foram escolhidas 109 títulos de 31 países, entre eles Jordânia, Curdistão, Emirados Árabes, e outras localidades que o curador quis enfatizar. O festival É Tudo Verdade, tem sido por muito tempo, um trampolim para o público apreciar documentários diversificados, mas bem recentemente poderá impulsionar também os saltos dos cineastas. Abordado pela Academia (não a de Letras, a de Hollywood) em um festival de Amsterdã, houve o interesse de oficializar o evento tupiniquim como um evento de qualificação para selecionar documentários em curta-metragem concorrentes ao Oscar. O fato, comemorado por Amir, é uma tentativa da Academia de aprimorar seu olho clínico acerca de suas recentes escolhas para documentários, segundo ele.
Houve tempo ainda para o saudosismo, onde Amir nos recordou Eduardo Coutinho, o centenário de Orson Welles e sua parceria com Chico Albuquerque, sendo inclusive uma foto dessa produção que ilustra os cartazes do festival. As perguntas, não muito aprofundadas, abordaram o cenário atual dos documentários no mundo, e uma delas fez Amir comentar o episódio recente da produção The Jinx, onde o milionário e objeto de estudo, Robert Dust, foi preso por confessar crimes do passado, falando sozinho no banheiro com um microfone de lapela ligado. O curador ressaltou que por mais repercussão que o episódio dê aos filmes de documentário, há uma importante discussão sobre o uso da ética dentro do gênero.
Por fim, pudemos contemplar o ótimo documentário Nitrate Flames, que retrata o rumo caótico que a carreira da atriz Renée Falconetti tomou a partir de sua atuação no filme A Paixão de Joana D’Arc. A relação de Renée com o diretor Carl Dreyer é dissecada em todos seus capítulos de sadismo e exageros, e vemos que a partir daí os caminhos profissionais da atriz tomaram um rumo “Nicolas Cagiano”(Na verdade foi pior).
O filme vale muito a pena e nos traz a expectativa de podermos assistir a outras obras documentais de igual qualidade no É Tudo Verdade. São Paulo(09 a 19 de abril), Rio de Janeiro (10 a 19 de abril), Belo Horizonte (29 de abril a 04 de maio), Santos (07 a 10 de maio) e Brasília (27 de maio a 1º de junho) receberão o evento com entrada franca. Boa pedida cultural que vale a pena conferir!