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Big Jake – Duke e seus meninos!

Faroeste crepuscular, Big Jake é muito mais que um belo cinemascope

O cinema pode ser eterno, mas alguns gêneros já foram mortos e enterrados. Mais de uma vez, em alguns casos. No fim dos anos 60, o faroeste, aquele que o crítico André Bazin afirmou ser “o gênero americano por excelência”, anunciava o seu crepúsculo com bilheterias cada vez menores e comentários que questionavam se era possível haver sangue novo no velho oeste. Eis que, em 1971, a lenda das telas John Wayne resolve chamar o veterano, porém pouco louvado, diretor George Sherman para realizar uma história com todos os ingredientes que costumam lotar as salas de exibição. Humor, drama e ação iriam passear pelas cenas e garantir que, dos 8 aos 80, a diversão fosse garantida. O clássico “filme para toda a família”. E se há uma coisa que impera em Big Jake é a complexa e inesgotável relação pai e filho.

John Wayne, que chegou a dirigir algumas cenas mas não foi creditado, interpreta mais uma vez o típico cowboy. Só que, ao invés do fôlego e da ânsia por aventura dos tempos de juventude, o protagonista Jacob McCandles quer é sossego. Tanto que, há quase 20 anos, deixou a esposa Martha e os filhos para seguir pelas pradarias tendo como companheiro apenas seu cavalo e seu cachorro, com o objetivo nome de Cão. Poderíamos dedicar muitas linhas para discutir a situação de Martha, interpretada por Maureen O’Hara, e o abandono parental de Jake. Mas estamos em um faroeste, várias cenas deixam claro que a vida da “esposa abandonada” não é nenhum calvário e ela vive rodeada de empregados, dos filhos e de boas espingardas. Logo, vamos voltar ao Jake Grandão (Título comédia que o filme ganhou aqui no Brasil).

(Se você curte não apenas o Western clássico, confira também a resenha do livro Era Uma Vez No Spaghetti Western)

Quando a quadrilha liderada por John Faine (Richard Boone) promove um tiroteio na fazenda de Martha e sequestra seu neto, ela chama o marido (que de tão sumido era tido como morto por muitos conhecidos) para fazer a entrega do resgate ao lado dos dois filhos, James e Michael. E assim Jake parte com milhão de dólares no lombo de uma mula, a proteção do amigo índio Sam (Bruce Cabot) e o desafio de trazer o neto que não conhece de volta para casa. Isso é a sinopse para quem quer entender de onde virão os tiros e para quem se deve torcer nessa pequena batalha. Mas é apenas um véu que cobre um outro filme, com diálogo dúbios e que nos coloca para pensar o que o homem do oeste esconde no coldre além das balas.

Big Jake

Pai e filho em cena: Patrick e John Wayne

Homens em dúvida

Para começar, James é interpretado por Patrick Wayne, filho de John e também um dos produtores do longa. Seu pai é um ícone do faroeste clássico americano e você precisa atuar junto com ele. Poderia ser um prato cheio para comparações, mas James é um personagem errante, com pose de valente mas que ainda precisa aprender a hora certa de puxar o gatilho. É o rebelde que bate de frente com o pai que não o viu crescer e sequer sabe o rosto do neto que ganhou seu nome. O sequestro parece um pretexto para James tentar uma aproximação. Como ser pai do pequeno Jake se o Jake que devia ter guiado seus passos caiu no mundo sem olhar para trás? Homens em dúvida é o que não faltam em Big Jake.

Christopher Mithum (sim, ele é filho do Robert Mitchum!) é o moderninho que trocou o cavalo pela motocicleta e questiona o desejo de matar do pai. Esta em cena para render momentos cômicos e colocar um pouco de jovialidade num filme onde John Wayne já não tem o mesmo brilho no olho na hora dos duelos. As rugas estão visíveis, o andar característico já não é tão ágil, mas ele faz disso tudo um elemento motivador de seu Jake. É racional para organizar o plano de resgate do neto, mas entre um tiro e uma trincheira, questiona os filhos e é questionado por eles. Por que abandonar tudo? Medo da responsabilidade? Pânico de ouvir perguntas as quais não sabe a resposta? Estaria Jake acuado por ter ao seu lado uma mulher tão forte e corajosa, que torna inútil sua função de homem protetor e provedor? E assim este faroeste realizado em um cinemascope de cores vivas e pradarias encantadoras vai seguindo seu caminho, ganhando múltiplos significados para os espectadores mais atentos.

É provável que George Sherman não esteja nas listas de grandes realizadores cinematográficos. Foi um dos tantos operários dos grandes estúdios e das séries de TV, que produziram muito, mas tiveram poucas chances de serem autorais. Mas Big Jake não apenas merece um destaque entre as produções derradeiras da era de ouro dos westerns como também pode ser trazida para os nossos tempos e render bons debates. Se no meio acadêmico ou na mesa de bar, pouco importa. O velho Duke e os dois rapazes que o acompanham, mesmo com munição pesada nas mãos, não passam de meninos. Atirar pode ser estratégia de defesa ou pedido de socorro. Depende de que ângulo você observa.

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