Home > Quadrinhos > Artigos > ACESSÓRIOS DE SUPER-HERÓI: Verdade, Justiça , toda essa coisa (Parte 1)

ACESSÓRIOS DE SUPER-HERÓI: Verdade, Justiça , toda essa coisa (Parte 1)

Continuando a tradução da série de artigos de Lance Parkin, publicado no Sequartque iniciamos nos links abaixo:

Acessórios de Super-Heróis: Vigilantes Mascarados I

Acessórios de Super-Heróis: Vigilantes Mascarados II

Depois da polêmica relação entre Batman e a Ku Klux Klan, caindo no assunto sobre o tom das histórias modernas de super-heróis, o escritor continua sua análise em cima do primeiro deles, e discute a dificuldade que o Superman tem para agradar uma nova geração de leitores.

Confira:


A DC tem tido há muito tempo um problema em ajustar o Superman no mundo impiedoso que o Universo DC se tornou, agora que o grupo de leitores é constituído por adultos. Está claro que os editores sentem que a abordagem do “escoteiro azulão” é irremediavelmente ultrapassada, mas entendem que uma abordagem mais sombria não encaixa no personagem. Em início de carreira, Alan Moore já havia encarado a questão de um “Superman realista”, com sua reformulação de Marvelman/Miracleman, que apresentava um personagem  estilo Superman que matava seu arqui-inimigo – seu parceiro juvenil convertido ao mal – antes de tomar o controle do mundo derrubando os sistemas militares, políticos e econômicos em quadros sucessivos. Mesmo que a DC quisesse isso, não teria como ser um modelo para o próprio Superman, que está preso em um universo compartilhado com dezenas de outros títulos em andamento, e por isso protegido de quaisquer mudanças globais duradouras. Moore chegou a escrever histórias oficiais do Superman, mas todas as três (“Para o Homem que Tem Tudo”, “ A Linha Da Selva” e “O que aconteceu ao Homem do Amanhã?”)foram riffs*  na extensa mitologia  da versão da Era de Prata do personagem. Quando ele foi colocado no comando de Supremo, personagem com apenas alguns anos de existência e elaborado como um Superman sombrio, Moore mudou a direção e fez do título um pretexto para homenagear a Era de Prata. Enquanto outras renovações de super-heróis foram reinícios, removendo a velha continuidade como se fosse sujeira grudada, Moore alegremente moldou o Supremo com um cenário de super-animais de estimação, ambiente jocoso e universos paralelos.

Miracleman, a primeira grande desconstrução do Superman!

Miracleman, a primeira grande desconstrução do Superman!

(*Um riff é uma progressão de acordes, intervalos ou notas musicais, que são repetidas no contexto de uma música, formando a base ou acompanhamento. Riffs, geralmente, formam a base harmônica de músicas de jazz, blues e rock. Riffs são, na maioria das vezes, frases compostas para guitarra elétrica, mas, muitas vezes, podemos encontrar músicas com riffs compostos para outros instrumentos como baixo, piano, teclados, órgão etc. Basicamente, qualquer instrumento pode tocar um riff. Fonte: Wikipédia)

Supremo e a homenagem à mitologia do Superman!

Supremo e a homenagem à mitologia do Superman!

Dez anos depois, Grandes Astros: Supeman, de Grant Morrison e Frank Quitely, mostrou uma forma de inverter o conceito. Ao invés de começar do zero ou divertindo-se com os absurdos acumulados, Morrison recriou o espírito da Era de Prata, mas projetou-o para frente criando um novo elenco de personagens coadjuvantes, retornando o Superman às suas origens como um personagem do folclore. A arte de Quitely garantiu que se parecesse como um produto do século XXI, ao invés de um pastiche dos quadrinhos da década de 1950. Enquanto Grandes Astros: Superman superou as vendas dos títulos regulares do Superman, provou ser uma fórmula mais difícil de replicar ou prosseguir do que a de Alan Moore ou o que Frank Miller fez com Batman na década de 1980. O trailer de O Homem de Aço citou Grandes Astros: Superman, e Morrison foi contratado para escrever Action Comics na reformulação da DC Novos 52, mas o Superman adulto em ambos os casos foi uma figura mais sisuda e perturbada que aquela de Grandes Astros: Superman.

Na Era de Prata, Superman tinha uma consciência profunda de que seu grande poder poderia literalmente destruir o mundo, se tomasse a decisão errada ou fosse descuidado por um momento que fosse. Sua missão era manter e restaurar o status quo –literalmente corrigindo erros. Os escritores do Superman sempre compreenderam o que Moore tornou explícito em Marvelman e Watchmen: o simples conhecimento de que um ser como Marvelman ou Dr. Manhattan existe mudaria o mundo. Watchmen foi fortemente baseado em uma proposta para os Desafiadores do Desconhecido que Moore e Dave Gibbons apresentaram à editora, uma exploração da história do Universo DC que trazia à tona a influência da chegada do Superman na política global. Um mundo com o Superman não se pareceria com o nosso mundo com apenas alguns super-heróis por aí – a existência de alienígenas, deuses e vida artificial nos transformaria radicalmente. Mas o apelo do Superman não é apenas uns poucos desenhos exibindo sua força. Alan Moore declarou em uma entrevista:

“Minha moral veio mais do Superman do que meus professores e colegas . Porque o Superman não era real – ele era incorruptível. Era ver a moral em sua forma mais pura. Você não vê o Superman mentindo e matando pelas costas,  o que, naturalmente, a maioria dos heróis da vida real tende a fazer”

Grandes Astros: Superman é um dos grandes acertos com o personagem em toda sua existência!

Grandes Astros: Superman é um dos grandes acertos com o personagem em toda sua existência!

As regras seguidas pelo Superman da Era de Prata eram simples: Não minta, não trapaceie, não roube nem machuque pessoas, impeça pessoas de incomodarem a outros, seja generoso ajudando e elogiando, e seja um bom amigo. O filme de 1978 reinventou Lois Lane como personagem mais cínica, cuja função era apontar como essas regras pareciam tolas a uma plateia adulta… Enquanto a mostrava vitoriosa sobre a visão de mundo de Clark. Foi uma forma esperta de disfarçar, pois as posições revolucionárias na geração anterior se tornariam conservadoras na seguinte. A Lois Lane da década de 1930 não parecia mais um baluarte feminista, mas quase uma portadora da Síndrome de Borderline. Veja esse exercício de associação de palavras:

…ao mesmo tempo, Lois Lane já foi capaz de liderar o mercado de vendas de quadrinhos (não houve um mês em que Mulher-Maravilha a tenha superado). Ela fez sucesso na série de TV da década de 1990, Lois e Clark: As Novas Aventuras do Superman. Teve uma participação central em Grandes Astros: Superman. Apesar disso, existem evidências de que os todo-poderosos da DC a vêem como desatualizada, um pouco como Raiado (Streaky), o super-gato. Em Os Novos 52, seu casamento com Clark foi apagado, e ela foi chutada pelo Superman, trocada pela Mulher-Maravilha.

O Homem de Aço

O Homem de Aço

A mudança de Jonathan Kent é talvez a mais instrutiva. O pai dotivo de Clark era originalmente um homem que instilou no Superman seu código moral. Quando o Superman foi criado, a crença de que os fazendeiros eram uma fonte de honestidade e decência era tomado como regra. Clark levou esses valores com ele para Metropolis, e a simplicidade das regras que ele seguia fizeram sua travessia no mundo surpreendemente fácil. A vida em uma pequena fazenda provavelmente nunca foi livre de preocupações ,  e certamente não é agora. Smallville (a série) encontrou uma maneira elegante para fazer uma inversão irônica – Os Luthors vão à Smallville para desenvolver seu vasto agronegócio. A questão subjacente da ideia de valores “americanos verdadeiros” somente encontrados em áreas rurais é certamente um objeto de polarização agora, ao invés de um conceito unânime. Toda noção do que é, na definição de Sarah Palin, a “Verdadeira América”  carrega conotações raciais e políticas. Como Philip Sandifer coloca quando discute o filme O Homem de Aço:

“Dado que os valores Americanos, dos que trabalham duro, na área rural do Kansas são, sem simplificar demais, responsáveis por quase tudo de errado no planeta, eu não sou avesso a interrogarem um pouco este ser. O ponto é que um Superman criado por fazendeiros que dão duro no Kansas, que adotou completamente seus valores – e podemos aceitar o fato baseado em seus padrões de voto – seria muito provavelmente misógino, racista, religioso fundamentalista que apoiaria ativamente políticas regressivas que levam o pobre a morrer de fome para que o rico fique um pouco mais rico. Talvez os Kents estejam entre o punhado de progressistas  que existem no Kansas rural, mas com municípios que deram 85% a Mitt Romney ano passado, bem, você sabe. O Pai Kent do filme, no entanto, abraça o problema. Ele não passa nenhum senso de que o Superman tem uma responsabilidade com o mundo, ou alguém, mas consigo mesmo. Ele ensina o Superman a se esconder e sugere que talvez ele nunca deva revelar-se ou ajudar pessoas. Ele ensina egoísmo e individualismo.”

O resultado é esse Superman que perdeu seu centro moral, mas não exatamente o substituiu com alguma outra coisa.

[su_youtube url=”https://www.youtube.com/watch?v=T6DJcgm3wNY”]

Continua AQUI!

Já leu essas?
Alan Moore e suas lições de roteiro - FormigaCast
Alan Moore e suas lições de roteiro no FormigaCast!
Alan Moore - Roteiro de Quadrinhos
Alan Moore e suas dicas de roteiro na pauta do Formiga na Tela!
Os Bons Quadrinhos dos anos 90 - FormigaCast
Os bons Quadrinhos dos anos 90 no FormigaCast!
FormigaCast 200
Não tem pauta no FormigaCast 200!