Ah, aquela canção conhecida em uma trilha sonora…
Você já parou para pensar no trabalhão que deve ser para um compositor criar uma trilha sonora original para um filme? Noites em claro em busca de um acorde e horas debruçado sobre as partituras. Mas tem muitos filmes por aí que preferem dar folga para os maestros, pegando canções já existentes para integrarem a trilha sonora de suas produções. Isto rende algumas surpresas na sala escura, já que não há nada mais divertido que ouvir sua música preferida tocando em um filme ou mesmo descobrir novas bandas e cantores por causa de um filme.
Com o lançamento de Guardiões da Galáxia Vol. 2, cuja trilha provocava especulações desde antes do anúncio do filme, nada melhor que lembrar canções que se encaixaram com perfeição em ótimas cenas. Quentin Tarantino e Martin Scorsese são dois rapazes que gostam de vasculhar a coleção de discos antes de definir a trilha de seus trabalhos (e eles estão neste balaio, é óbvio!), mas esta lista vai muito além, e pretende que o prezado leitor pare, olhe e escute as sugestões. De preferência, no volume máximo.
Confira!
1- Pulp Fiction (idem, 1994) – Never Can Tell, de Chuck Berry
A música que embala uma das cenas de dança mais lembradas do cinema não está na trilha de Pulp Fiction apenas por ser divertida. Dentro do contexto da lanchonete que Vincent Vega (John Travolta) leva a esposa do patrão, Mia Wallace (Uma Thurman), o rock requebrante (sei lá se este termo existe) interpretado por Chuck Berry caiu como uma luva. Ou seja, um momento icônico do cinema dos anos 90 é um clássico dos anos 60! Uma curiosidade: Berry compôs Never Can Tell quando estava preso e a lançou quatro anos depois, atingindo as paradas de sucesso. O cárcere rendeu um rock dos bons.
2 – Flashdance (Idem, 1983) – I Love Rock and Roll, de Joan Jett and The Blackhearts
Não, quem fez esta lista não é louco (?) nem surdo. A trilha sonora de Flashdance é sempre lembrada pela dançante What a feeling, interpretada por Irene Cara e vencedora do Oscar de melhor canção. Porém, a trilha também apresenta maravilhas quer nos deixam obrigados a arrastar os móveis, vestir as polainas (será?) e dançar até dizer chega. E uma delas é a versão da sensacional, linda e talentosa (sou fã, será?) Joan Jett, acompanhada da banda The Blackhearts.
Lançada originalmente em, 1975, I love rock and roll embala os papos da protagonista Alex com as amigas durante um treino na academia. As conversas giram em torno de homens que não ligam no dia seguinte. Uma ficção das brabas, mas esperada por um roteiro escrito por um homem. Feminismos à parte, o arranjo que Joan criou para a música dita o ritmo da árdua batalha de malhar o corpo, mas é recomendada também para os sedentários que gostam de canções de qualidade.
3- Os irmãos cara de pau (The Blues Brothers, 1980) – Think, de Aretha Franklin
A trilha sonora completa do filme merecia estar nesta lista. Afinal, Os irmãos Cara-de-Pau (que fez parte da pauta de um Formiga na Tela) é uma história simples que tem seu charme nas incríveis participações de músicos do naipe de Ray Charles, John Lee Hooker e James Brown. A diva Aretha Franklin arrasa na performance encarnando a dona de uma lanchonete dando uma lição no marido machista. A cena não faz a história andar, como muitas outras do filme, mas são mais que necessárias para este clássico que ainda conta com o talento de John Belushi e Dan Aykroyd, dirigidos por John Landis.
4- Quase famosos (Almost Famous, 2000) – Tiny Dancer, de Elton John
Outro filme difícil de escolher uma única canção. Até porque, a história gira em torno de um jovem apaixonado por rock, interpretado por Patrick Fugit, e que tem a chance de acompanhar uma banda e escrever uma matéria sobre ela para nada mais, nada menos, que a revista Rolling Stone. Com uma seleção que inclui The Band, Humble Pie e Led Zeppelin, a romântica canção de Elton John foi escolhida por fazer parte de um ponto de virada na trama, onde todo os integrantes do ônibus da fictícia banda Stillwater entoam os versos depois de uma noite muito louca que quase resultou na morte do vocalista.
5- Intocáveis (Intouchables, 2011) – Boogie Wonderland, de Earth, Wind and Fire
Em um filme feito para levar o espectador às lágrimas, parece um paradoxo que uma música da época de ouro das discotecas (sim, esta palavra existe) toque em um dos pontos altos da trama. O cuidador Driss (Omar Sy), entediado em uma festa “animada” por violinos, resolve dar o seu próprio jeito de se divertir e, por tabela, tornar o momento de Philippe (François Cluzet) algo que merece ser lembrado. Da cadeira de rodas, mesmo sem poder acompanhar os passos gingados de Driss, ele descobre que pode haver diversão mesmo sem haver movimentos. É a mensagem que percorre todo o filme, mas esta cena, além de simbólica, ainda permite que muitos pezinhos se movam, bem felizes, antes da parte trágica começar e as coreografias improvisadas darem lugar aos lencinhos.
6- Duro de Matar 3: A Vingança (Die Hard With a Vengeance, 1995) – Summer in The City, de Lovin’ Spoonful
Depois de uma sequência fraca, a franquia Duro de Matar (cujo primeiro filme foi pauta em um Formiga na Tela) apresentou seu terceiro capítulo com novo fôlego. Logo na cena de abertura, mostrando o amanhecer de mais um dia em Nova York, interrompido por uma explosão de parar o trânsito, literalmente nota-se o tom do que virá a seguir, com John McClane (Bruce Willis) encarando uma quadrilha de ladrões de banco tendo como parceiro o divertido Zeus Carver (Samuel L. Jackson). É verão na cidade e muita coisa ainda vai explodir.
7- Cassino (Casino, 1995) – House of The Rising Sun, de The Animals
Martin Scorsese tem bom gosto musical, isso não se pode negar. Não bastasse realizar documentários sobre Bob Dylan, Rolling Stones e The Band, o ítalo-americano ainda seleciona a dedo as músicas que entram para a trilha de seus longas de ficção. Ter como pano de fundo a voz marcante de Eric Burdon, ainda à frente da banda The Animals, para uma das cenas finais de Cassino triplica a força das imagens. E associa a máfia ao rock como nunca.
8- Os Infiltrados (The departed, 2006) – Comfortably Numb, de Pink Floyd
Olha o Scorsese aí outra vez! Pois bem, agora ele apela para mais um clássico que já esteve na telona antes. Parte da trilha de The Wall, de Alan Parker, a canção do Pink Floyd foi escolhida para integrar a cena de diálogo de alta tensão sexual entre Billy (Leonardo DiCaprio) e Madolyn (Vera Farmiga). Fugindo do clichê que adora colocar acordes água com açúcar para embalar cenas de sexo, Scorsese filma uma transa nada coreografada, mas impecável e sensual, muito graças a voz de David Gilmour e do baixo comandado por Roger Waters.
9- Jackie Brown (Idem, 1997) – Across 11th Street, de Bobby Womack
O filme-homenagem de Tarantino ao estilo blaxploitation já começa mostrando a que veio: em uma clara referência a cena de abertura de A Primeira Noite de Um Homem, de Mike Nichols, a atriz Pam Grier aparece na esteira de um aeroporto ao som de um ritmo soul bem ao gosto do gênero inspirador. A fonte dos créditos, os movimentos de câmera, os enquadramentos, absolutamente tudo lembra as produções que trouxeram os negros americanos para a posição de protagonistas fortes que caminham sem medo por seus bairros e não fogem da briga, seja com o vizinho preconceituoso ou com o chefão da máfia local. Para quem conhece e admira exemplares de blaxploitation, é pura nostalgia. Se você não sabe do que se trata, corra e descubra. Os filmes e as trilhas.
10- Sing Street (Idem, 2016) – Take on me, de A-ha
Anos 80. Haviam as ombreiras e as calças bag, mas ao ligar o rádio as coisas melhoravam. Uma das melhores produções com foco no público adolescente de 2016, Sing Street é sobre um garoto que monta uma banda para conquistar uma garota. Poderia ser a história de qualquer um de nós, mas isto é apenas a faísca para uma jornada de descoberta permeada por nomes como The Cure, Duran Duran, Genesis, Motorhead e The Clash.
Porém, tudo começa com um cantarolar de Take On Me do protagonista Conor (Ferdia Walsh-Peelo). Dirigido por John Carney (de Apenas Uma Vez, que esteve na pauta de outro Formiga na Tela), Sing Street segue o estilo, na trama e na trilha, dos filmes anteriores do diretor, como a comédia romântica (será?) Mesmo Se Nada Der Certo, onde Keira Knightley e Mark Ruffalo passeiam por Nova York ao som de For Once in My Life, de Stevie Wonder. Aliás, considere essa a décima primeira da lista, já que dez é um número bonitinho, mas nem sempre abrange tudo que a gente quer dizer.
Gostou? Então, da próxima vez que for ao cinema e não se conter com alguma canção, mantenha essa trilha sonora na cabeça e corra atrás depois. Se ela já não fizer parte da sua vida, vai ganhar novo significado e seus olhinhos vão brilhar quando ouvi-la por aí. Não esqueça de comentar quais são suas preferidas.