Digamos que pouco depois do início da febre de adaptações de quadrinhos, por volta de 2000, com o primeiro X-Men, alguém tivesse a ideia de adaptar para as telonas um gibi semi-desconhecido da Marvel, chamado Guardiões da Galáxia. O autor da ideia seria chamado de louco por produtores e fãs, afinal, era um grupo bem pouco popular surgido no fim da década de 1960, sumido no início de 1980 e ressuscitado em plena era Image – os anos 1990 – porém, esquecido logo depois.
Em 2008, os Guardiões foram reformulados em meio à saga cósmica Aniquilação, ganhando uma nova formação. Essa equipe repaginada é a base do novo filme da Marvel Studios, e mesmo que ela tenha voltado com um novo apelo visual para o público leitor, continuou longe dos medalhões da editora. O anúncio da adaptação para o cinema pegou todo mundo de surpresa, embora fosse uma maneira de explorar o lado cósmico do Universo Cinemático Marvel, expandindo ainda mais os conceitos compartilhados dos filmes.
O diretor James Gunn topou o desafio, inclusive co-roteirizando o filme, utilizando a HQ de Dan Abnett e Andy Lanning como base. O cineasta não é um completo estranho ao universo dos super-heróis, pois dirigiu em 2010 Super, onde Rainn Wilson (The Office) interpretou uma pessoa comum que resolve combater o crime. Guardiões da Galáxia é um salto e tanto em sua carreira e Gunn não faz feio, entregando um filme bastante divertido, ágil e coerente do início ao fim com sua proposta.
A história mostra o saqueador terráqueo Peter Quill (Chris Pratt), que insiste em ser chamado de “Senhor das Estrelas”, se apossando de um artefato valioso cobiçado por Ronan, O Acusador (Lee Pace), um alienígena fanático da raça Kree, auxiliado por Gamora (Zoe Saldana) e Nebulosa (Karen Gillan), enviadas pelo verdadeiro interessado no artefato, Thanos (voz não-creditada de Josh Brolin) , que os não-iniciados nos quadrinhos devem lembrar-se da cena pós créditos de Os Vingadores. Por conta do objeto que carrega -e da recompensa oferecida por sua captura – Quill é caçado por seu mentor Yondu (Michael Rooker), por Gamora, pelo guaxinim Rocket e seu companheiro Groot (respectivamente as vozes de Bradley Cooper e Vin Diesel) e, com exceção de Yondu, todos acabam em uma prisão, onde encontrarão Drax (Dave Bautista), que tem motivações muito pessoais para matar Ronan.
Pronto! Evidentemente, eles fogem e se juntam para deter um genocídio galáctico, cujos detalhes não precisam ser descritos aqui. Existem muitos personagens, é verdade, mas não fica confuso em momento algum, nem prejudica a diversão. Mesmo que você esteja começando agora a conhecer os personagens da Marvel no cinema, não há o que temer em termos de compreensão de um modo geral. Uma das coisas que garante a leveza e a fluidez é o carisma dos personagens, mesmo os digitais, com todos muito à vontade e desempenhando funções na medida certa, sem que um ofusque outro ou apareça demais.
Além da ação dosada para que não chegue a cansar o espectador, os efeitos especiais e a direção de arte, de um modo geral, estão a serviço da história. Chegando ao calcanhar de Aquiles da maioria dos blockbusters, até nisso Guardiões da Galáxia se sai bem, e não poderíamos estar falando de outra coisa, senão o famigerado 3D. Não é que conseguiram aplicar o recurso de uma forma a valorizar a profundidade e aumentar a experiência de imersão, especialmente nas cenas no espaço? Mais um ponto positivo.
Tem coisa ruim para falar? Não! Guardiões da Galáxia é um filme honesto e comprometido com sua proposta, o que garante uma coesão rara em produções contemporâneas deste tipo. Roteiro enxuto, um diretor que sabe o que quer, atores à vontade em seus papéis, fidelidade ao material original e um orçamento bem aproveitado. O lado cósmico da Marvel nos cinemas está bem representado.