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José Luiz García-López – Falando de influências, carreira e mercado (PARTE 2)

García-López:…não acho que um Superman alcóolatra ou um Homem-Aranha drogado são necessários neste gênero…

Você se importaria de dar aos nossos leitores um pequeno vislumbre dos seus hábitos de trabalho comuns? Você passa quantas horas por dia na prancheta? Como você constrói uma página?

García-López: Eu nunca fui muito produtivo na verdade. Hoje em dia, eu tento trabalhar pelo menos seis horas por dia.

Para uma capa, normalmente eu tento três rascunhos ou mais, caso não fique feliz com os primeiros. Páginas internas são o melhor, eu faço rascunhos para visualizar a história, buscando primeiro a continuidade e então a composição para os quadros individuais e a página inteira. Depois eu vou para o que chamo de pré-lápis, onde ajusto tudo antes de ampliar as páginas para traçar tudo com uma mesa de luz. Aí a diversão começa.

Você é um artista tradicional que usa lápis, caneta, nanquim e pincel ou Photoshop e Cintiq dominaram seus métodos de trabalho? Você alterna entre conjuntos de ferramentas?

García-López: Ainda tradicional. Photoshop apenas para ajustes e tablets apenas para diversão.

García-López

Capa de um dos trabalhos mais lembrados!

Nós temos visto nossos heróis dos quadrinhos tornando-se alcoólatras e assassinos. Alguns dizem que os super-heróis se perderam. Você concorda com essa avaliação? O conteúdo dos quadrinhos amadureceu desde as décadas de 60 e 70?

García-López: Da forma como vejo, o formato dos quadrinhos pode ser usado para qualquer coisa. Entreter é uma necessidade, então você pode educar, gerar propaganda política e religiosa, iniciar(os leitores) em literatura ou história, opinar sobre atualidades e apresentar seu ponto de vista, etc. Quero dizer, você pode fazer todas as coisas que a literatura, filmes, TV e jornais fazem.

Então, não acho que um Superman alcóolatra ou um Homem-Aranha drogado são necessários neste gênero… Algumas pessoas dizem que as crianças não leem mais quadrinhos. Bem, além disso, todas as coisas que conhecemos estão competindo com os quadrinhos por atenção, e por razões econômicas você tem super-heróis com problemas adultos que uma criança não se importa. Os que mantém a indústria viva são crianças no coração, mesmo que tenham oitenta anos de idade, e se não fisgarmos novas gerações, quadrinhos serão algo que teremos que visitar um museu para ver.

Eu acho, de alguma forma, que isso também responde sua próxima pergunta.

García-López

Esquadrão Atari

Quais mudanças, se existir alguma, são necessárias para que o mercado de quadrinhos assegure sua existência por mais vinte anos?

García-López: […]

Você trabalhou praticamente com todos os personagens da biblioteca da DC, é amado por fãs ao redor do mundo e ainda assim permaneceu bastante humilde. Houve algum momento em que teve que fazer um esforço especial para resistir à notoriedade, que às vezes vem com a popularidade, ou sua modéstia o acompanha constantemente ao longo de sua carreira?

García-López: Creio que seja uma questão de personalidade, que nada tem a ver com o trabalho que você faz. Eu me vejo naturalmente modesto, porque o que faço não é um dom, mas algo que trabalho duro todo dia para fazer do jeito que eu quero, e eu nunca me sinto feliz com os resultados quando comparo com aquilo que outro artista melhor faz.

Eu acho que se eu não fosse modesto, seria estúpido.

Há algum momento em sua carreira em que, se pudesse, voltaria e mudaria ou que gostaria de ter feito diferente do que realmente fez?

García-López: Não, não mesmo. Lembre-se do que aconteceu à esposa de Lot quando ela olhou para trás.*

*(O artista se refere à história bíblica de Sodoma e Gomorra)

García-López

Página da mini-série Cinder e Ashe

 Há arte-finalistas e escritores que você particularmente gostou de trabalhar?

García-López: Tive sorte de trabalhar com escritores muito bons, mas com (Gerry) Conway eu tive o relacionamento mais longo e produtivo, era uma alegria interpretar suas tramas e roteiros.

Mas o mesmo pode ser dito sobre (Marv)Wolfman, (Len)Wein, (Andrew) Helfer, (Max Allan) Collins, (Howard) Chaykin e alguns mais que não me lembro agora. Eu disse, tive sorte.

Sobre arte-finalistas, os primeiros nomes que me vem à cabeça são (Dick) Giordano, (Kevin) Nowlan, (Ricardo) Villagran, (Josef) Rubinstein, Bob Smith…

Eu me vejo naturalmente modesto, porque o que faço não é um dom, mas algo que trabalho duro todo dia para fazer do jeito que eu quero…

 

Se lhe dessem carta branca para produzir qualquer tipo de quadrinho ou graphic novel que você quisesse, continuaria trabalhando com super-heróis ou tentaria um tipo completamente diferente de personagens?

García-López: Eu quero acreditar que ainda existe vida lá fora além de super-heróis. Houve um tempo em que você tinha mais opções, montes delas em tiras ou mesmo revistas em quadrinhos. Hoje em dia nos vemos condenados a apenas um gênero, como se sempre comêssemos no McDonald’s ou tomássemos Coca-Cola. Usei esses exemplos de marca porque Superman e Homem-Aranha também são consumidos ao redor do mundo. Ao mesmo tempo que gosto de super-heróis, também gosto de variedade.

Pessoalmente eu tentaria fantasia, ficção científica ou personagens de outras épocas, dos tempos pré-históricos até o presente. Nada de novo como você pode ver.

Além de quadrinhos e arte, como você descreve  José Luiz, o homem?

García-López: É melhor deixar isso para qualquer um que não seja eu.

PARTE UM

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