Home > Quadrinhos > Retalhos – Corajoso e sincero!

Retalhos – Corajoso e sincero!

 

retalhos

Uma das HQs mais premiadas de todos os tempos, Retalhos (Blankets), foi publicada originalmente em 2003 pela Top Shelf. Vencedora de três Harvey (melhor artista, melhor graphic novel original e melhor cartunista), dois Eisner (melhor graphic novel e melhor escritor/artista), e, em 2005, recebeu o prêmio da crítica da Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos.

Escrita e ilustrada por Craig Thompson, a obra retrata a própria história do autor, que narra a infância e o início da vida adulta na cidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. Como a trama gira em torno do amor que ele sente por Raina, uma garota que conhece no acampamento da igreja (particularmente, não é o ponto forte da narrativa), poderia se dizer, erroneamente, que é apenas um romance.

Craig Thompson

Craig Thompson

Porém, o quadrinho consegue tocar profundamente porque além de descrever exatamente como um adolescente – e até alguns adultos – se sente quando se apaixona, também aborda religião, família, bullying e abuso sexual. A característica autobiográfica ajuda ainda mais a provocar uma certa emoção.

O crescimento de Craig Thompson foi marcado pelo temor a Deus. Desde que nasceu, seus pais transmitiram a fé para ele e seu irmão, Phil. Eles não tiveram escolha. Tudo o que faziam ou falavam era monitorado por seus pais, que sempre tinham uma palavra, digamos, não muito confortante para o que consideravam “errado”. Os irmãos, tão próximos quando pequenos, dividiam a mesma cama e, como é de se esperar de crianças, sempre brincavam fazendo bagunça antes de dormir e, claro, muitas vezes acabavam brigando.

retalhos 5

Quando a mãe ou o pai de Craig e Phil chegavam para ver o que estava acontecendo, explicavam que o que fizeram ou diziam não agradava a Deus, e por isso Jesus estava chorando. Não importava o que fosse, mesmo sendo brincadeiras inocentes de criança, eles sempre acabavam se sentindo “sujos” por serem reprimidos.

Os pais de Craig, o pastor e os membros da igreja que frequentava eram ignorantes e incômodos (como milhares de pessoas hoje em dia). Não aceitavam outras opiniões que divergissem do que eles consideravam “a verdade” e ao invés do autor escolher ser cristão por acreditar nisso, ele simplesmente era por medo; medo de ir para o inferno – hoje, o autor é agnóstico.

retalhos craig

Como dito anteriormente, em um acampamento da igreja, Craig se apaixona por Raina, – uma garota alegre e impulsiva, praticamente o oposto dele. Ao se relacionar com ela, suas opiniões (sobre família, religião, amor e futuro) começam a mudar. É a partir deste namoro adolescente, tão intenso, que Thompson por fim abre a mente. Desenvolve muito bem os sentimentos, deixando claro que nem sempre os finais felizes são o essencial.

Craig, como prova nesta graphic novel, tem um talento nato para desenhar. A arte do quadrinho é belíssima e bem detalhada. Descreve bem os sentimentos e os momentos ali retratados de forma dinâmica e bem decupada. Como era excluído na escola e até mesmo na igreja (atitude hipócrita dos frequentadores), ele desenhava. Com um lápis e uma folha de papel, expressava realmente o que pensava e sentia. Era o momento de refúgio, a liberdade, mesmo que muitas vezes fossem também confrontadas pela fé.

retalhos 1

A construção do personagem é muito bem desenvolvida e cadenciada. O autor – corajoso por se expor –, consegue envolver bem o leitor e levanta questões polêmicas pelos temas que aborda. Retalhos é reflexivo, denso e real. Com uma linguagem própria e ilustrações originais, ele mostra o que acontece com quem tem a vida moldada e influenciada por pessoas conservadoras, tradicionais e obsessivas pela religião.

Já leu essas?
Alan Moore e suas lições de roteiro - FormigaCast
Alan Moore e suas lições de roteiro no FormigaCast!
Batman - A Gárgula de Gotham 2 - Rafael Grampá
O segundo número do Batman de Rafael Grampá no Formiga na Tela!
First Comics - Cedibra
First Comics e Cedibra na pauta do FormigaCast!
Alan Moore - Roteiro de Quadrinhos
Alan Moore e suas dicas de roteiro na pauta do Formiga na Tela!