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9 Horas – Japão onírico!

Comentários positivos em contracapas não dizem muita coisa além do elogio genérico, salvo algumas exceções raríssimas. No caso de 9 Horas, é difícil não ficar curioso – pelo menos – quando se lê “… completa um elo fundamental entre o quadrinho brasileiro e o mangá.”, nas palavras de ninguém menos que Rafael Coutinho. Para o bem ou para o mal, seguimos em frente com uma bela expectativa criada.

9 Horas

Escrita e ilustrada por Magenta King, nome de guerra de Rodrigo Solsona, a HQ é o relato autobiográfico ficcional, no melhor estilo Jodorowsky, de uma viagem ao Japão. O casal K e M desembarca ansiosamente na terra do Sol Nascente, imediatamente dirigindo-se a um hotel cápsula, estilo de hospedagem popular no país, onde as diárias são de nove horas. Um encontro com um Tengu – criatura demoníaca do folclore japonês – os coloca em um jogo surreal, termo que chega a ser um eufemismo nesta aventura. A partir deste evento, um leque enorme de referências visuais nipônicas se abre para o leitor, além de participações especiais inusitadas, como uma ponta de Bill Murray.

9 Horas

Lançado no final de 2015 pela editora Bimbo Groovy, com financiamento coletivo via Catarse, 9 Horas é uma travessia descompromissada pelas pirações de seu autor, exibindo algo fundamental para o sucesso de qualquer projeto. É perceptível o quanto a tal viagem da vida real foi especial para ele, sentimento traduzido em um entusiasmo que transparece nas páginas da HQ. Ganhando a simpatia do leitor com essa sinceridade, todo o resto flui de uma maneira bacana.

A arte acompanha a loucura do roteiro. Completamente despreocupado com qualquer convenção de traço, Magenta deixou a mão solta para acompanhar esse fluxo de informações, conforme ele mesmo explica no prefácio. O trabalho traz ecos de Paul Pope, de Bom de Briga, quadrinhista que também aparece como personagem, além de Taiyo Matsumoto, do mangá Preto & Branco, só para citar os mais evidentes. Quem se incomodar com linhas retas que dispensaram a régua deve evitar esse trabalho, mas livrar-se desse preconceito pode fazer um bem enorme a qualquer um à procura de diversão.

9 Horas

Com esses desenhos, seria fácil perder-se na hora de montar essas páginas. Felizmente, isso não acontece. Exceto por alguns momentos bastante isolados, onde olhamos para algumas cenas por mais tempo procurando sentido, a narrativa funciona bem e mantém a cadência da história. Falando nisso, uma coisa que talvez incomode um ou outro leitor por aí é realmente a ausência de motivações e conflitos claros nesta trama, recompensando o público no final. Como fica evidente que essa não era a proposta, é um julgamento discutível, pertinente apenas dentro dos valores individuais de cada um.

9 Horas

No meio deste recheio, a edição também contém algumas imagens de sketchbook, entre um capítulo e outro, com uma bem vinda explicação no final, ainda que breve, sobre o processo de criação e materiais usados na HQ. Valoriza bastante o conjunto impresso, além de permitir uma aproximação maior com o trabalho.

Terminando a leitura, independente da sensação que possa ter causado, um mérito parece indiscutível. Atualmente, no meio de tanta oferta de HQ’s nacionais e gringas, com muita arte esquecível que não diz nada, 9 Horas é algo que mostra a que veio. O primeiro contato com ela já marca o leitor, que reconhecerá seu traço em alguma história posterior, mesmo que não guarde o nome Magenta King ou não tenha apreciado o trabalho. Se a falta de personalidade é um mal, ele passou bem longe daqui, o que já merece nossa atenção.

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