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Hinário Nacional – Despindo o ser humano!

Hinário Nacional

Hinário Nacional

Todo ser humano é composto de camadas. Quantas camadas exatamente? Impossível responder. É claro que varia de pessoa a pessoa, mas a questão é um pouco mais complicada. Afinal, diferente de uma cebola, que possui uma camada em cima da outra, quando falamos do ser humano, as camadas estão dispostas na forma de um fractal, em que a partir de um ponto é possível visualizar uma figura belíssima em toda sua infinita complexidade. A HQ Hinário Nacional nos mostra esse ponto.

Marcelo Quintanilha

Marcello Quintanilha

Escrito e desenhado pelo brasileiro Marcello Quintanilha (Talco de Vidro, Tungstênio), Hinário Nacional foi publicado esse ano pela Editora Veneta e é composto por seis contos, cuja ligação se dá apenas pelo fato de seus protagonistas sofrerem seus dramas silenciosamente. Dentre eles, temos uma jovem resignada por ser vítima de um abuso sexual, outro com um grande sentimento de culpa por ter abusado sexualmente, um homem idoso que não aceita a velhice, o nascer de uma história de amor conturbada, a tentativa de esquecer o sofrimento e a de ser outra pessoa.

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Todo ser humano possui seus dramas pessoais e lida com eles à sua maneira. Nas histórias de Hinário Nacional, somos colocados em uma posição mais privilegiada que o próprio protagonista do segmento, conseguindo assim vislumbrar essas tristezas de uma forma tão intensa que faz parecer que esses personagens são reais. O uso inteligente da composição da imagem e do texto econômico, mas extremamente simbólico, faz com que a maior parte dos significados sejam formados na mente do leitor. Quintanilha consegue passar sensações e realidade da forma mais elegante e tocante possível. Com traços simples, mas muito assertivos, há uma empatia e reconhecimento imediato com os locais e pessoas que são um retrato da essência do Brasil, seja pela rotina, arquitetura ou vocabulário.

Por seu teor bucólico, introspectivo e denso, o quadrinho poderia apelar com grafismos ou verborragias para transmitir determinados traumas mais pesados. Seria o caminho mais fácil, entretanto, para ganhar força e intensidade, o autor se utiliza de outros recursos, como analogias, metáforas ou um simples jogo de palavras, que mostra uma sofisticação narrativa rara hoje em dia.

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Após ler Hinário Nacional, percebemos que para se ter ótimas histórias, basta olhar ao redor ou, se tiver coragem, para um espelho. Como dito no início, a complexidade do ser humano é como um fractal que surge de uma forma simples, mas ao tentarmos compreender seu todo, vemos que não há uma figura uniforme finita e que não conseguimos voltar ao ponto de origem. Cada drama retratado no quadrinho possui essa característica. Passamos a conhecer um simples ponto de tal personagem, mas ele se mostra mais complexo, mesmo que não testemunhemos o restante de sua história. Afinal, como um fractal, sua evolução pode continuar indefinidamente.

Fractal de Mandelbrot

Fractal de Mandelbrot

Normalmente, as prateleiras de quadrinhos nas livrarias e lojas especializadas estão lotadas de histórias gringas protagonizadas por super-seres em histórias megaloquentes, com acontecimentos surreais e desproporcionais ao nosso estilo de vida cotidiano. Não que isso seja um demérito, pois eu mesmo gosto desse tipo de narrativa, mas esse domínio voraz faz com que obras “menores” e mais intimistas fora desse gênero não recebam tanta atenção. Uma triste injustiça, visto que, muitos desses títulos exibem inúmeras possibilidades narrativas e qualidade ímpar.

Hinário Nacional é um quadrinho tocante, singular e profundo. Poucos artistas conseguem a proeza de falar muito com tão pouco. A eloquência se encontra no subtexto e no despir dos personagens que, de tão verdadeiros, conseguem ser tão profundos e complexos quanto um ser humano de verdade. Se bem que, tirando o fato de uns serem feitos de papel e outros de carne e osso, não há diferença.

Confira nosso vídeo em que falamos sobre Hinário Nacional!

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