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Gotham DPCG: Corrigan – Um final digno para uma série injustiçada!

Gotham DPCG recebeu muito menos atenção do que deveria

Sabe aquela série bem meia-boca do CW – sim, estou ciente da redundância – Gotham? Aquela, que queria mostrar como a cidade já era uma lixeira humana a céu aberto, muito antes de um certo sociopata fantasiado de morcego achar que podia fazer alguma coisa por ela? Então, Gotham Central Vol. 4: Corrigan é tudo o que ela queria ser, mas está muito (MUITO) longe de conseguir.

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Ver o nome de Ed Brubaker em letras colossais e nem um pouco amigáveis logo na capa já deveria ser motivo o bastante para você esvaziar o seu bolso no mesmo instante; mas, não obstante, a série ainda com inúmeros outros talentos, incluindo o outro roteirista que encabeça o projeto, Greg Rucka. O fato de ser uma série procedural policial – um gênero que se sustenta quase sozinho – só torna a expectativa em torno do projeto ainda maior.

E de fato, essa expectativa se cumpre. Na verdade, ainda seguindo a comparação com a porca série do canal CW, é quase inacreditável que ninguém tenha sequer cogitado adaptar essas histórias para a TV. É um colossal sucesso esperando para acontecer, completamente relegado ao reconhecimento apenas dos críticos de quadrinhos – que laurearam a série com prêmios Eisner Harvey (fato devidamente exaltado na capa) -, pois nem os fãs apostaram na série, que teve morte prematura após apenas 40 números em 2006.

O mote da série é, na verdade, tão simples que chega a ser banal: todos sabemos que Gotham é uma cidade de merda – o que de mais surpreendente a envolve é justamente o fato de qualquer um querer viver num buraco apinhado dos piores e mais insanos criminosos do mundo. Ainda bem que Gotham conta com alguém que resolveu lidar com uma depressão pós-luto gastando seus bilhões para sentar a lenha nesses bandidos. Mas onde diabos estão os policiais dessa cidade, que parecem chegar sempre atrasados na cena do crime?

Pois bem, é disso que se trata Gotham Central – mostrar que tudo o que nós vemos o Batman lidando com é apenas uma pequena parcela das desgraças que acontencem na cidade. Sério, não pode ser tão pior para qualquer um alugar um quarto em Metrópolis. De toda forma, nós vemos os corajosos – ou sem alternativa – policiais da cidade tocando a vida num dia-a-dia de completa anarquia criminosa quando o morcego não está por perto para resolver.

O quarto volume que resenhamos aqui, Corrigan, contém o final da série – as edições #32-40, que mostram os dois últimos arcos da vida dos membros do Departamento de Polícia de Gotham City, assim como duas edições independentes. Por conta do grande elenco de personagens contemplados, o formato de destaque rotativo para os personagens continua a funcionar maravilhosamente bem para a série, encerrando-a com dignidade. Vários membros da força tem seu momento para brilhar – mesmo que Renee Cris permaneçam como “protagonistas”. Nada mais justo, já que os acompanhamos com mais frequência desde o início.

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Bem-vindo a Gotham City – mas vá embora. Correndo!

O conceito mais interessante desenvolvido por Gotham Central é a ideia de que a força policial, ao contrário do que poderíamos acreditar, não luta nem a favor nem contra o Batman – ao contrário, o sentimento geral é de profunda frustração. O que parece, continuamente, é que, mesmo que se esforcem além dos seus limites, eles simplesmente não dão conta do nível de loucura que Gotham impõe a quem vive ali.

E não é nem simplesmente na escala com a qual o Batman lida – mesmo dentro da própria força, as contínuas trapaças, puxadas de tapete, denúncias de corrupção em um ritmo quase cotidiano, e criminosos e gangues que parecem se multiplicar com mais velocidade que funks ruins fazem com que a série ganhe um ritmo de tensão próprio, imposto pela sensação claustrofóbica que Gotham exala mesmo à céu aberto.

Essa rotina é muito bem demonstrada logo na primeira edição, “Natureza”. Aqui nós vemos os policiais lidando com a questão da corrupção. Mas Rucka trata o tema com tal sutileza que, mesmo com um escopo tão desgastado, consegue entregar perspectivas mais sutis do que agentes da lei caçando uns aos outros e impondo-se pela força. Não. Rucka é capaz de mostrar, em uma única edição, as vicissitudes que esse tipo de traição impõe, principalmente no aspecto psicológico dos personagens. Brilhante.

Mesmo quando o escopo da série se abre – como no caso do “Robin morto”, que conta a participação dos Teen Titans – Rucka e Brubaker conseguem transmitir organicamente o nível de loucura com a qual a cidade opera, que consegue engolir até mesmo a paciência de personagens com poderes de escala cósmica. Esses policiais definitivamente não recebem bem o bastante.

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Infelizmente, a única coisa que prejudica esse último volume – como não poderia deixar de ser – é a prática cretina das malditas “mega-sagas”. A inserção de Gotham Central no escopo cósmico de Crise Infinita acaba com uma história bem modorrenta, cujo estilo e narrativa não têm nada a ver com o que foi visto até ali.

Mesmo a mudança de status quo de alguns personagens – caso mais explícito de Renee Montoya – não serve para absolutamente nada; a não ser oferecer mais uma evidência de que mega-sagas continuam sendo produto de dejetos fecais mentais de editores que não têm as bolas de bancar coisa realmente boa, e preferem apostar no mais fácil – entenda-se: heróis e vilões se esmurrando por motivos absurdos que levam a consequências non-sense, apenas para reiniciar as numerações e alavancar as vendas. Patético.

E, infelizmente, o próprio leitor mé”r”dio de quadrinhos só prova que esses panacas estão certos. Gotham Central penou para se manter e, como dissemos, acabou cancelada muito cedo simplesmente porque não vendia. Porque, ao invés de acompanhar um desenvolvimento narrativo extremamente bem feito de personagens complexos, o leitor prefere ver o décimo quinto Robin batendo no Coringa que fugiu. De novo.

A bola é nossa, amigo leitor de quadrinhos. Gotham Central morreu muito em razão dos hábitos ruins de leitura dos fãs de HQ’s. Vamos passar a valorizar um pouco mais os materiais que merecem? Ou vamos continuar como os policiais de Gotham – rendidos a um bando de safados malucos, e torcer para sermos eventualmente salvos por um Bat-Brubaker?

 

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