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Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada – Redundante!

Precisávamos mesmo de Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada?

Não é legal quando uma história conta com a participação de seu leitor, deixando detalhes no ar para que o mesmo preencha algumas lacunas secundárias? Claro que é, afinal, mastigar demais traz o risco de desagradar a maior parte do público. Quem costuma ler algo além de HQ’s de super-heróis sabe quão legal é ser convidado a sair da simples passividade, em maior ou menor grau, por qualquer obra. Pena que a grande indústria ignora solenemente esse fato, remexendo um baú de três décadas com o prelúdio de uma das histórias mais famosas do Batman. Ou seja, Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada (Dark Knight Returns: The Last Crusade), publicado pela Panini, já começa errado enquanto ideia. Sem falar no título pretensamente dramático, mas insinuando algo que já sabemos não ser verdade.

cavaleiro das trevas a ultima cruzada

Edição de Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada, com capa de John Romita Jr.

Partindo do princípio que você leu a HQ original, a premissa que Frank Miller e Brian Azzarello (também responsáveis por Cavaleiro das Trevas III) bolaram tenta jogar luz – com apenas uma edição de 68 páginas – em eventos que chacoalharam a vida do Homem-Morcego, culminando em uma aposentadoria de dez anos e a volta com aquela atitude mais violenta, apresentada por Miller há trinta anos. O destino trágico de Jason Todd, o Robin que o acompanhava até então, apenas aludido por cima naquela ocasião, agora é esfregado na cara do leitor.

Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada

O que temos aqui, basicamente, é o Batman já reclamando da idade, enquanto tem que lidar com a indisciplina de Jason. O Coringa, claro, também é um problema, agitando seus planos de dentro do Arkham, mas isso é periférico até certo ponto, pois existe um mistério envolvendo comportamentos estranhos dos endinheirados de Gotham, com outros vilões conhecidos no meio.  Este caso coloca as condições físicas do Homem-Morcego em xeque – sim, ele apanha bastante – e vai revelando o lado mais sombrio do jovem parceiro.

Você já tem ideia de como isso termina, além de saber que o Coringa será o responsável. Um dos problemas deste roteiro é que a atuação do vilão-mor da bat-galeria está completamente à parte da trama principal, até que sua participação torna-se “necessária” para explicar o destino do herói. O caso dos milionários enlouquecidos só serve para mostrar como Bruce Wayne já não dá conta do recado e como Jason é violento. Resolvido isso, a HQ termina em um passe de mágica, como se os roteiristas tivessem esquecido que trabalhavam em um one shot e contassem com um espaço menor.

Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada

A impressão é que isso é um caso de puro oportunismo, acompanhado de falta de assunto, infelizmente, já que A Última Cruzada deveria servir para preencher um hiato de um mês durante a publicação dos oito números de Cavaleiro das Trevas III, outra iniciativa bem questionável. Como já é certo que esse vai atrasar mais do que isso, o que vemos aqui é a DC engolindo o próprio rabo, algo que vem desde os descartáveis prelúdios de Watchmen, iniciados em 2012.

Romita Jr. se sai bem

Por incrível que pareça, quem ainda segura um pouco da graça desta história é o polêmico John Romita Jr., desenhista que tem sido vítima da ira de uma parte dos leitores. É compreensível que alguns não gostem do seu estilo, mas muita gente sequer é capaz de separar esse conceito de qualidade geral. É preciso admitir que em algumas passagens ele realmente larga a mão, mas os artistas da grande indústria merecem o benefício da dúvida por causa dos prazos.

Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada

No geral, Romita Jr. se sai bem aqui, entregando uma narrativa visual bastante dinâmica na ação. Nas cenas mais calmas, ele não exibe a mesma criatividade, abusando dos planos fechados, mas tudo bem, pois  estaríamos mais que felizes se esta fosse nossa única queixa. Apesar de algumas referências ao estilo de diagramação de Miller, isso não parece forçado. Visualmente, a coisa se segura bem.

Cavaleiro das Trevas: A Última Cruzada se vale apenas do peso do nome da minissérie original. O texto de Azzarello e Miller – sempre questionando se o segundo participa mesmo tanto assim – parece ter sido gerado já com a plena consciência de que não havia o que acrescentar. Foram em frente, afinal, são funcionários e ganham (bem) para isso. Nada contra, mas o maior problema é que hoje, na era da reciclagem da indústria de cultura de massa, somos lembrados desta condição com uma frequência maior do que gostaríamos.

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