Publicado originalmente na terra do Tio Sam em 2011, Perdido em Marte (The Martian), de Andy Weir, chegou aqui ano passado, pela Editora Arqueiro. Inicialmente, o autor disponibilizava de graça os capítulos do livro em seu site pessoal, mas com os pedidos dos leitores, ele acabou por coloca-lo na plataforma da Amazon por 0, 99 centavos de dólar e explodiu, vendendo milhares de ebooks. Consequentemente, foi procurado por editoras interessadas em lançar o livro físico. Sobre a edição brasileira, é difícil entender o título pastelão adotado por aqui, mas vamos seguir e deixar essas escolhas de lado.
Num futuro próximo, temos a tripulação da Ares 3 cumprindo uma missão em Marte. Mark Watney botânico e engenheiro, após uma tempestade de areia é dado como morto pela tripulação, que – segundo o protocolo da NASA – deve deixar o corpo de um astronauta morto para trás, quando o resgate oferece risco de morte ao restante da equipe. Missão abortada.
A grande surpresa é que Mark não está morto, detalhe que cria a trama básica. Um astronauta em Marte, sem comunicação e com recursos limitados para apenas 31 dias, juntando todos os suprimentos da missão original. Para piorar sua situação, a agenda da NASA prevê um intervalo de cerca de quatro anos até a chegada de outro grupo. O que fazer então?
O leitor de Perdido em Marte certamente se lembrará do filme Náufrago, cujo fator marcante era a luta pela sobrevivência, mas no cenário do livro, os obstáculos são extremamente maiores e mais perigosos. Através do diário da instalação que ele habita, somos informados de cada ação do personagem principal, suas tentativas bem sucedidas, seus erros e seus planos de contato com a Terra, além da preocupação em não morrer de fome enquanto isso.
A escrita do autor é bem fluida, embora tenha explicações demais (química, física e matemática) de cada passo dado por Mark, na tentativa frenética de sobrevivência, chegando até a lembrar o famoso MacGyver nas resoluções dos problemas. Também é interessante a forma como Weir muda o foco narrativo, criando outros caminhos para não ficarmos somente com o personagem principal e seu diário sem filtros, onde ele fala o que bem lhe dá na cabeça. A possibilidade de um tédio marciano chega a preocupar nos três capítulos iniciais.
O escritor – cuja formação é em ciência da computação – estudou muito o assunto, deixando o leitor por dentro de como a NASA e suas tecnologias funcionam de “forma prática”. Claro que usou engenhos que existem, mas de forma extrapolada, até porque, ainda não é possível sobreviver em Marte por mais de 68 dias. Também são interessantes as citações de filmes, séries , músicas e livros feitas por Mark Watney, aproximando o leitor da realidade tão distante de um astronauta, o que acaba criando algum vínculo com o protagonista.
O único ponto negativo a se apontar é a personalidade um tanto cômica do nosso astronauta, assim como suas improvisações mirabolantes. Isso acaba pesando durante a história, tornando-o caricato e tirando a tensão exigida em tal situação extrema. Ainda assim, o livro tem apelo e tem atraído e agradado um público que não consome ficção científica regularmente – pessoalmente, foi uma das coisas que me levou até ele – e esse grupo deve aumentar, graças à adaptação cinematográfica prestes a estrear. Nada mal ter Ridley Scott e Matt Damon como garotos-propaganda…
(Aproveitando, o filme foi comentado no Formiga na Cabine! A crítica completa dele sai na semana que vem, antes da estreia!)