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O Demonologista – Fraco pra Diabo!

Edição da Dark Side Books

O Demonologista

O Terror é um gênero muito complicado de se trabalhar, tanto na literatura quanto no audiovisual, com cada mídia lidando com suas dificuldades específicas, mas seja ela qual for, criar uma história contundente e marcante do gênero é um intenso desafio. O Demonologista (The Demonologist) é só mais uma entre incontáveis obras do gênero que não estão à altura desta empreitada.

O livro foi escrito por Andrew Pyper (The Killing Circle) e publicado em 2013. Também ganhou o Prêmio de Melhor Romance do International Thriller Writers Award em 2014 e já existem planos de adaptar para o cinema pelas mãos de Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro) – será que o diretor conseguirá entregar uma boa e aterrorizante narrativa partindo de um material tão fraco?

Andrew Pyper

Andrew Pyper

A obra conta a história de David Ullman, um renomado professor da Universidade de Columbia especializado na figura do Diabo na literatura, principalmente em Paraíso Perdido – poema épico em versos brancos de John Milton, publicado originalmente em 1667 e que fala da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden. David é um homem cético e não acredita na existência do Anjo Caído fora do âmbito mitológico, porém sua opinião começa a mudar após aceitar um convite para testemunhar um suposto fenômeno sobrenatural em Veneza, onde presencia e grava em vídeo um caso de possessão. Após esse evento, sua filha Tess se joga de um prédio. Todos acham que foi suicídio, mas ele acredita que ela tenha sido possuída, indo atrás de pistas para descobrir qual demônio tomou posse do corpo de sua filha e tentar resgatá-la do Inferno.

O Demonologista

Representação de Lúcifer por Gustave Doré (1866)

A narração começa bem. Os personagens são bem apresentados e a escrita em primeira pessoa ajuda na construção do suspense inicial em torno do misterioso convite para ir à Veneza. O fato do protagonista ser considerado um demonologista, por aqueles que o convidam, consegue deixar o leitor intrigado. Contudo, antes mesmo de chegar na metade do livro, os problemas começam a aparecer. Um deles é a falsidade na descrição do olhar de David. Em diversos momentos, o autor usa analogias que combinariam muito em uma narrativa em terceira pessoa, mas que em primeira não fazem sentido e tiram o leitor da história – é realmente necessário exemplificar uma visão do personagem com algo menos rotineiro que a própria ação testemunhada?

Além disso, os personagens não são bem utilizados e o protagonista sequer é bem desenvolvido. Tudo é passado de maneira muito verborrágica, de forma que temos de acreditar no que é dito por eles, ao invés de saber e deduzir as coisas através de suas ações. Todo o sofrimento de Ullman após perder Tess não é descrito por suas ações, e sim por ele sempre ficar repetindo pensamentos sobre como ama sua filha. Alguns personagens aparecem para depois serem simplesmente descartados, depois outro específico é usado apenas para que o protagonista tenha com quem falar, para explicar o que está acontecendo na trama – algo nada digno da boa literatura. Sem falar no ritmo da história, que simplesmente não é cadenciado,  deixando o leitor saber que o livro está acabando pelo número de páginas restantes e não pelo crescimento da trama e momento catártico.

O Demonologista.

John Milton, autor do poema épico Paraíso Perdido. No filme Advogado do Diabo, o nome do personagem vivido por Al Pacino é o mesmo que do poeta.

Como se essas falhas em termos de estrutura literária não bastassem, há outro problema que talvez seja o maior de todos: a história é fraca. Temos um demônio que aparece de vez em quando através da imagem de pessoas já falecidas e que recita uma ou duas frases do poema de John Milton e vai embora. O protagonista viaja para vários lugares procurando sinais e pistas, mas em nenhum momento ele usa efetivamente seu conhecimento em demonologia. Com isso, a trama segue graças a vários acontecimentos muito convenientes (recurso capenga conhecido como Deus Ex-Machina) para David, que não está fazendo nada além de dirigir sem rumo. Não há tensão, não há suspense e a curiosidade se perde.

O que se salva de O Demonologista, pelo menos aqui no Brasil, é o ótimo trabalho gráfico da Editora DarkSide Books. A qualidade do papel, a diagramação e a capa com suas texturas e relevos são trabalho de altíssimo nível. É uma pena que o conteúdo não faça jus a esse maravilhoso projeto gráfico.

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