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O Cinema de Ficção Científica – É o que tem…

Cinema de Ficção Científica

Cinema de Ficção Científica

A ficção científica sempre foi um gênero complicado de ser realizado e estudado, principalmente por uma questão primordial e inerente de não se tratar de um gênero propriamente dito, como o drama, aventura, terror, comédia, etc. Afinal, há diversos exemplos – na literatura e no cinema – de histórias com estruturas e tons muito diferentes entre si. Desse modo, podemos entender que a FC está mais voltada à uma escolha de situação e a partir daí se decide o gênero, salvo algumas obras literárias mais puristas – caracterizadas por uma ciência ancorada em princípios reais. O termo hard science é usado para definir esse tipo de trabalho.

No âmbito da literatura, temos vários livros teóricos que falam sobre esse universo e excelentes introduções e prefácios dentro de algumas antologias de novelas e contos. Já quando o assunto é cinema de ficção científica, a procura é um pouco mais demorada e exaustiva. Isso se deve a vários fatores e entre eles podemos destacar que este gênero, assim como o Terror, ganhou prestígio na sétima arte de maneira tardia, sendo considerada como um tipo menor de arte, em grande parte graças à maior parte das produções que eram visivelmente sucateadas.

Dentre as poucas opções de livros sobre o assunto temos O Cinema de Ficção Científica, de Éric Dufour, especialista em estética e professor da Universidade de Grenoble. Publicado pela editora Texto & Grafia, é o 13º volume da coleção MI.MÉ.SIS. Escrito originalmente em francês, o leitor brasileiro encontrará a tradução apenas em português de Portugal,entretanto, o único inconveniente desta tradução são os títulos dos filmes citados, que -em muitos casos – podem confundir e até gerar risadas (ex.: Em Portugal, O Exterminador do Futuro ganhou o título de Exterminador Implacável).

A obra é dividida em duas partes. A primeira falando da história da ficção científica no cinema ao redor no mundo, desde o início até a consolidação na década de 60, passando também pelos diferentes subgêneros que surgiram com o passar dos anos. A segunda parte diz respeito a questões de estética, subjetividade, simbolismo, crítica social e política dentro dos filmes.

Viagem à Lua (1902), de George Méliès

Viagem à Lua (1902), de George Méliès. Os primórdios do Cinema.

Com relação ao contexto histórico, Dufour discorre sobre os primeiros elementos sci fi a aparecerem em longas-metragens, nomeando esta época de pré-história da ficção científica no cinema. Esta parte cita desde os primeiros monstros a aparecerem em tela até o clássico Viagem à Lua, de George Méliès. O livro também se concentra na década de 50, quando o gênero começa a ganhar corpo. Neste ponto, o autor separa os filmes em subgêneros de acordo com o tema abordado, como por exemplo: guerra, monstros, noir, Space opera, propaganda, apocalíptico, metafísico e cômico.

Cinema sci-fi

Quando o período abordado é a década de 60, momento em que a ficção científica já está estabelecida como gênero cinematográfico, o autor foca no desenvolvimento através de países, como Japão, Inglaterra, Itália e França, contextualizando com o período histórico. No caso do cinema japonês, a ameaça atômica gerada após os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki foi o grande estopim para os filmes do gênero, tendo os monstros gigantes – também conhecidos como kaijus – como exemplo mais familiar. No caso do cinema britânico, o foco é a política, tanto em questões repressoras quanto sobre intervenções externas. Indo para a Itália, Dufour ressalta a direção de arte, muito acentuadas e contrastadas na comicidade e no erotismo. Já o cinema francês se desenvolve em cima da política de autores (tendo François Truffaut como líder do movimento) e a sutileza das obras, dificilmente retratando questões mais explícitas, como tecnologia ou alienígenas.

Cinema Sci-fi 2

Na segunda parte do livro, Dufour expõe a questão estética dos filmes, o imaginário popular e simbolismos de cada obra. Temas mais filosóficos, como a utopia, o pós-humano, o desconhecido, o totalitarismo e a religião são debatidos em cima de alguns títulos marcantes do gênero, como o clássico 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, Solaris, de Andrei Tarkóvski, 1984 de Michael Radford, entre outros. O autor também fala brevemente sobre o Cyberpunk e o capitalismo dentro do contexto de determinados filmes.

O Cinema de Ficção Científica poderia ser a principal fonte de pesquisa sobre o assunto, mas Dufour se alonga muito narrando as cenas dos filmes, sem aprofundar-se tanto quanto o leitor gostaria. Pelo período histórico e temas abordados, o livro poderia ser muito mais do que realmente é, porque em diversos momentos o autor simplesmente cita obras e textos de outras fontes e evita desenvolver muito além disso. Como um catálogo de filmes, artigos e resumo histórico da ficção científica, a obra cumpre o seu papel e talvez só por essa questão valha o preço extremamente elevado – pelo menos para os fanáticos e estudiosos do tema.

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