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Capas, espadas e feitiços – 5 sugestões de livros de fantasia!

Quando as Crônicas de Fogo e Gelo acabarem, o que ler para suprir aquela carência em fantasia? Aqui estão nossas sugestões!

Game of Thrones reestreou neste último domingo, e com ele, o maior hype da última década. A surpreendente série parece não parar de chamar a atenção das pessoas na televisão, assim como suscitar o desejo nos leitores de conhecer o desenrolar da saga nos livros – já que ambas divergiram seus caminhos faz algum tempo.

Entretanto, quem for procurar os livros, também tem que lidar com uma triste realidade: muito em breve, o autor George R. R. Martin vai encerrar a série, e o maior fenômeno da literatura de fantasia dos últimos tempos – que na verdade está sendo publicada à duas décadas –  vai deixar fãs desolados por todo canto.

Mas não se preocupe, amigo leitor. Nós separamos uma lista de obras e sagas para matar sua vontade de fantasia – algumas em português, outras ainda não. Boas sugestões para você ir atrás, ou sugerir para sua editora trazer para cá! E, quem sabe, já conhecer aquele que pode ser o próximo hype depois que a história de Westeros tiver se encerrado.

Como a ideia é fazer sugestões bacanas que o amigo leitor pode ainda não conhecer, deixamos de fora sugestões mais óbvias como O Senhor dos Anéis, Crônicas de Nárnia ou Discworld.

Confira a lista!

Elric, criado pelo britânico Michael Moorcock, é um albino de saúde débil, introspectivo e atormentado, mas mesmo assim o imperador do reino ancestral de Melniboné, uma superpotência em declínio, e servo dos Senhores do Caos, à semelhança dos seus antepassados. O povo de Melniboné é elegante, porém cruel, na maior parte desprovido de sentimentos: de entre todos, apenas Elric é dado a sensibilidades modernas.

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Elric de Melniboné!

Fisicamente falando, os melniboneses são como elfos — embora mais semelhantes aos amorais ska da série Lyonesse de Jack Vance do que aos povos majestosos de J. R. R. Tolkien – e “Elric” é uma forma do nórdico Ælfric, que significa senhor dos elfos.

Ao invés de um guerreiro bárbaro musculado que sobe ao poder através da violência, Elric é um imperador culto mas doente que abandona o seu trono. Onde um herói da fantasia convencional salvaria princesas de vilões maléficos, ou o reino de hordas de inimigos, Elric mata o seu verdadeiro amor, é ele próprio um feiticeiro poderoso. escravo do demónio Arioch, e convida exércitos invasores a destruir Melniboné. Elric é um intelectual, dado a crises de depressão, e muitas vezes levado a acções catastróficas numa tentativa de resistir ao seu destino tenebroso.

Elric é ainda manipulado pela sua espada inteligente Tormentífera (Stormbringer, no original em Inglês, e Tempestade, quando da publicaçao do encontro entre Elric e Conan no Brasil, pela Editora Abril Cultural), já de si uma perversão das armas mágicas tradicionalmente encontradas na fantasia épica, e uma referência à espada de Kullervo,no épico finlandês Kalevala.

A Tormentífera dá a Elric as forças de que ele necessita para sobreviver, mas a um preço terrível – a espada suga as almas de todos os que mata, muitas vezes recusando-se a obedecer aos comandos de Elric, de modo a obter o que pretende.

Elric tem dois volumes já publicados aqui no Brasil, pela editora Generale; e é considerado por muitos o mais forte candidato a próxima grande adaptação de fantasia para TV ou cinema – embora seu autor já tenha sido categórico ao dizer que não cederá sua história. Fato ou não? O tempo irá dizer.

  • Ciclo de Terramar

Ursula Le Guin é normalmente mais conhecida por seu trabalho mais notável – a ficção científica A Mão Esquerda da Escuridão. O que pouco se sabe por aqui – devido ao fato de que quase nada de sua obra veio para cá – é que a veterana e lendária autora de 87 anos também é um fenômeno da fantasia, e o Ciclo de Terramar é um trabalho facilmente comparado aos maiores legedarium do século XX, como os criados por Tolkien ou C.S. Lewis.

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O Feiticeiro de Terramar!

Felizmente, após o recente e crescente interesse em obras de ficção e fantasia, algumas editoras começaram a correr para trazer obras clássicas, mas ainda desconhecidas do grande público, para cá. No ano passado, a editora Arqueiro trouxe o primeiro volume do Ciclo de Terramar para o Brasil: O Feiticeiro de Terramar.

Este livro narra as aventuras de Ged, o menino que um dia se tornará essa lenda. Ainda pequeno, o pastor órfão de mãe descobriu seus poderes e foi para uma escola de magos. Porém, deslumbrado com tudo o que a magia podia lhe proporcionar, Ged foi logo dominado pelo orgulho e a impaciência e, sem querer, libertou um grande mal, um monstro assustador que o levou a uma cruzada mortal pelos mares solitários.

Publicado originalmente em 1968, O Feiticeiro de Terramar se tornou um clássico da literatura de fantasia. Ged é um predecessor diretamente relacionado em magia e rebeldia juvenil à Harry Potter – mas, com o perdão aos potterheads – melhor escrito.

Ao mesmo tempo que desenvolveu um dos mundos mais complexos e vivazes dentro do gênero fantástico (brilhantemente adaptado pelo Studio Ghibli em 2006, chamado Contos de Terramar), Le Guin conseguiu fazer da jornada de Ged uma aventura introspectiva e emocionalmente complexa.

A maioria das fantasias e obras do gênero alcançam o clímax com a vitória do protagonista contra uma força exterior – dragões, exércitos, monstros. No entanto, ao colocar Ged em sua jornada, Le Guin faz o inverso e leva o protagonista e consequentemente o leitor rumo a um caminho de autoconhecimento e crescimento pessoal.

Resta esperar que as publicações sigam seu ritmo, e que possamos ter o Ciclo de Terramar completo por aqui!

  • Trilogia do Elfo Negro (Dark Elf Trilogy)

É um fato pouco conhecido fora dos círculos do RPG, mas existem dezenas de livros relacionados ao universo do maior de todos os RPG’s: Dungeons & Dragons. É claro que existe muito caça-níquel – tranqueiras que não valem o papel em que foram impressas. Existem materiais medianos, destinados quase que exclusivamente ao fãs. E aí tem a saga de Drizzt Do’Urden, o elfo negro. De todas, esta é a que você precisa ler.

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O primeiro volume da saga do Elfo Negro!

A aventura se passa no cenário de campanha de D&D chamado Forgotten Realms, um dos mais antigos e tradicionais – palco das alegrias de infância de muitos roladores de dado. Em Forgotten Realms, existe uma sub-raça de elfos chamados Drowos elfos negros. Os Drow habitam o mundo subterrâneo conhecido como Underdark, uma colossal rede de cavernas e profundezas onde vivem somente seres corrompidos e malignos.

Com os Drow, não é diferente. Apesar de serem elfos, eles são em sua imensa maioria maligno, venerando a deusa-aranha (claro) Lolth. Mas Drizzt é a exceção que foge a regra. Inicialmente foi criado para ser um personagem coadjuvante de Wulfgar, na Trilogia do Vale do Vento Gélido (The Icewind Dale Trilogy). Durante a escrita da trilogia, no entanto, o autor R. A. Salvatore percebeu que o personagem tinha potencial para ser protagonista.

Dito e feito. O personagem tem sido um pilar do autor, aparecendo em seus romances há mais de 20 anos. Drizzt é um drow que age contra o estereótipo de sua raça, favorecendo a amizade e a paz sobre o ódio e a violência. Ele frequentemente combate os traços escuros que são inerentes ao drow. Essa personalidade incomum cria o conflito que serve de base para Salvatore para criar tantas novelas com temas recorrentes sobre coragem e amizade.

Salvatore usa Drizzt para representar questões de preconceito racial, particularmente, na saga que sugerimos – A Trilogia do Elfo Negro (The Dark Elf Trilogy). Em determinado ponto, por exemplo, Drizzt está preocupado que, se ele e sua amada Cattie-Brie (uma humana) tiverem filhos, sua prole terá de enfrentar a hostilidade de ambas as raças.

Ele percebe que, mesmo na superfície, também existem seres malignos e injustiça, agravados ainda mais pela desconfiança gerada por sua herança racial. Ele tenta de todas as formas demonstrar seu valor, mas o medo que sua aparência gera nos homens impede que ele encontre o tão sonhado lugar no mundo, onde ele pode ser o que sua convicção manda, tornando sua trajetória complexa, amarga e cativante.

A Trilogia do Elfo Negro, entretanto, ainda não foi publicada por aqui. O amigo leitor pode achar em português nas versões importadas portuguesas. Mas fica aqui a primeira dica – se você tem uma editora favorita, essa é uma excelente sugestão para você fazer!

  • A Espada Quebrada

Outra sugestão que já está rodando há muito tempo, mas por aqui é praticamente esquecida. O autor, Poul Anderson, compartilha um traço em comum com Ursula Le Guin – embora seja mais conhecido como escritor de ficção científica – na verdade, um dos pilares do gênero durante algumas décadas – ele também se aventurou, com colossal sucesso, na fantasia. O motivo pelo qual essa obra talvez tenha sido esquecida pode até ser considerado justo – ela foi publicada praticamente junto com O Senhor dos Anéis, em 1954. Aí ficou difícil.

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A Espada Quebrada!

O romance conta a história de Skafloc, um homem que é raptado quando bebê e antes de ser batizado. Imric, seu raptor,um conde entre os elfos que governa o território da inglaterra, cria o rapaz como seu filho adotivo. Um humano entre os elfos poderia representar uma vantagem no conflito travado entre elfos e trolls há muitas gerações. Porém, Imric não poderia apenas roubar uma criança humana, portanto ele o substitui por um changeling, um filho próprio seu com uma troll louca que o conde mantém na masmorra de seu castelo.

A história se passa na Inglaterra, Irlanda e alguns países nórdicos; e se passa ora no mundo dos homens, ora em Faerie, um local místico, que somente seres mágicos podem enxergar – além de uns poucos humanos dotados de “visão de bruxo”. Interessante é que, aqueles que não a possuem, enxergam no lugar de um castelo ou fortaleza, montanhas de formato curioso.

A descrição e modos de agir dos elfos e trolls que o autor cria é muito diferente das usuais. Ambos são bastante inteligentes, organizados em civilizações, porém amorais e orgulhosos. Ambos escravizavam raças menores, e as utilizam em seu favor nos conflitos. Há grande contraste entre a moral pagã destes seres, e a moral cristã dos humanos que aparecem na narrativa. E do meio de uma guerra de vida ou morte para as nações élficas e dos trolls, o autor ainda encaixa de forma bem sucedida uma história de amor com nuances de tragédia.

Existe uma polêmica envolvendo o livro. Em 1971, uma revisão foi feita sobre o livro, e muitos críticos, assim como alguns nomes de peso como Michael Moorcock, dizem que a revisão empobreceu e aliviou a obra, tirando potencial “ofensivo” para o público, mas também fazendo-a perder qualidade.

Verdade ou não, a verdadeira tragédia em torno de A Espada Quebrada é o fato de que ela não é publicada aqui há um bom tempo. O amigo leitor que se interessar pode procurar em sebos e na internet, e achar preços relativamente bons; mas vai ser difícil encontrar uma edição 100% conservada. Aí, entra o papel das editoras em relançar clássicos como esse que, devido a altíssima qualidade, certamente encontraria seu público rapidamente.

  • Os Anões (The Dwarves)

O caçula dessa lista. Publicado a partir de 2003, The Dwarves, escrito pelo alemão Markus Heitz, a saga de Tungdil Goldhand se tornou um fenômeno de vendas nos EUA – e está atraindo os olhos de todas as outras mídias para si. Após o vazamento de imagens  do recém-produzido videogame, além de ter ganhado um clipe com música temática gravado pela lendária banda de power metal Blind Guardian, The Dwarves começa a se desenhar como a próxima grande franquia de fantasia a ganhar o mercado.

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O primeiro volume da tetralogia The Dwarves, de Markus Heitz!

Tungdil Goldhand, um jovem ferreiro, é o único anão em Ionandar, um dos cinco reinos encantados de Girdlegard. Esse reinos, ricos em campos de força de energia mágica, são governados pelos magi, enquanto as outras terras são governadas pelos reis e rainhas de Girdlegard. O pai adotivo de Tungdil, o venerável magus Lot-Ionan, o envia para uma peregrinação para recuperar artefatos para um de seus antigos pupilos, e viajar para um dos reinos dos anões.

Mas durante sua viagem, o jovem peregrino encontra a si mesmo ligado a uma batalha para a qual ele não foi treinado. Não apenas a sua própria segurança, mas a vida de cada homem, mulher e criança em Girdlegard depende da sua habilidade em abraçar sua herança. Mesmo que ele tena muitas perguntas não respondidas, Tungdil está certo de uma coisa: não importa onde ele cresceu, ele é um anão. E ninguém jamais questiona a coragem de um anão.

Apesar de ainda ser desconhecido por aqui, The Dwarves chamou muita atenção da galera que curte o gênero lá fora enquanto foi lançado – e até agora permanece como um xodó dos fãs de fantasia e RPG, tendo inspirado oras derivadas e, como dito, algumas propostas e adaptações para outras mídias.

O livro usa algumas das melhores ideias do imaginário recente de fantasia, criando uma saga que é ao mesmo tempo densa de história, mas de leitura fluida. The Dwarves já tem um bom número de volumes publicados lá fora – uma tetralogia, na verdade. O que significa que, se for publicado aqui, vai abastecer nossas prateleiras e desejos por fantasia durante um tempo razoável. Falta apenas uma santa editora para publicar The Dwarves por aqui…

Eu poderia escrever mais um punhado de parágrafos sobre esse clássico recente, que todo fã de fantasia deveria ler. Mas nada que eu escrever aqui será mais completo que o nosso debate no FormigaCast sobre a trilogia. Aproveitem!

E aí, amigo leitor? Gostou da nossa seleção? Já conhece algum deles? Afie sua espada, prepare seus feitiços – e não se esqueça de curtir, comentar e compartilhar!

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