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Caminho de Formiga #03 – Para onde leva a jornada do herói?

A Jornada do Herói não é simplesmente um passo-a-passo do protagonista

Muitos devem ter ouvido falar da Jornada do Herói ou do Herói de Mil faces. Joseph Campbell sintetizou em seus livros os passos do arco do personagem da narrativa clássica. O termo “clássico” não é gratuito. O que essa jornada mostra é a forma de narrativa utilizada desde os tempos de Platão. Mas que tal se a gente der uma simplificada nesse conceito de Herói Clássico?

jornada do herói

O Herói de Mil Faces, de Campbell!

Grande parte dos filmes que vemos parte da ideia de seguir uma mudança na vida de alguém. Quando falamos em jornada do herói, na realidade estamos fazendo uma analogia a esse período apresentado da vida de uma pessoa comum, que se propõe a realizar um ato “heróico” para realizar essa tal mudança. Mas a pergunta é: Por que esse personagem precisa sofrer uma mudança? A resposta pode parecer um tanto redundante: Para ser um HERÓI.

Para os gregos, os Deuses eram os proprietários do “saber”. Portanto, só se chegava aos deuses através da iluminação, onde a luz era uma representação do conhecimento. O conceito de herói também vem da narrativa dos gregos. É preciso compreender que, como em todas as mitologias, as histórias contam lendas como se fossem fatos, mas que na realidade se tratam de metáforas. Considerava-se que um herói era alguém que estaria próximo ao patamar dos deuses.

Arco de iluminação

Lembremo-nos de Hércules. Apesar de ser um semideus, o Filho de Zeus teve que ser desafiado a realizar doze trabalhos para ser considerado digno da alcunha de Herói. Independente de matar leões ou hidras, o que faz com que Hércules seja conhecido como “herói” é o seu arco de iluminação. Concluindo de uma maneira mais simples: “herói” é o ser que se aproxima dos Deuses, através de sua luta pelo conhecimento.

jornada do herói

Heracles, de Lísipo!

Voltando ao nosso protagonista, seu arco ou jornada se resume em adquirir algum conhecimento que o irá iluminar ao final do trecho de história retratado na narrativa. Isso é a mudança. O homem que aprende se torna melhor do que era quando começou, portanto, mais próximo do divino.

Tragédia

Obviamente, existem diversas formas de narrar essa trajetória de iluminação e, às vezes, o protagonista não termina mais iluminado, como é o caso da tragédia. Na tragédia, o personagem não está lutando para iluminar a si próprio, mas para servir de modelo para o outro. O personagem trágico invariavelmente carrega o fardo de um erro do passado, e deve expiar seus pecados para se tornar um herói.

Nesse tipo de narrativa, o personagem sacrifica a si próprio em favor de outros. Dessa forma, ao poupar pessoas do sofrimento, ele compensa o sofrimento causado pelo próprio erro. Ele deixa de buscar iluminação e passa a ser o próprio farol.

Tomemos o exemplo óbvio de Star Wars IVUma nova esperança. Temos aqui um exemplo bastante conhecido da aplicação do método de Campbell. E nesse modelo temos as duas perspectivas apresentadas aqui, o arco de iluminação e a tragédia, em dois personagens icônicos: Luke e Obi Wan.

Para Luke, cuja necessidade é se tornar um herói, sua busca é por iluminação, ter um conhecimento que o faça se tornar digno, alguém próximo dos deuses. Esse herói clássico deve passar por provações e a melhor forma de fazer isso é tirá-lo de sua zona de conforto através de um desafio – como o de Hércules.

Já no caso de Obi Wan, sua busca trágica tem a ver com seu passado de culpa, revelada mais tarde nos outros filmes da franquia. Seu sacrifício é o que dá a possibilidade de Luke e Darth Vader (Anakin) se “iluminarem”. Repare que Anakin trará a mesma narrativa em O retorno de Jedi. Em ambas as trajetórias o conceito de moral – o dialético bom x mau – é claro e educativo, pois ele tem a ver com os padrões divinos.

jornada do herói

Luke e Obi-Wan: tragédia e redenção!

Eles não fazem questionamentos, apenas entendem que devem ser heróis e lutam para transformar isso em verdade. Porque os Deuses querem assim. E assim é o herói clássico. Um homem querendo se aproximar de Deus.

Não deixe de dar uma olhada nessa animação, que resume os doze passos da Jornada do Herói segundo Campbell.

No próximo artigo vamos debater sobre “onde o herói moderno quer chegar”. Esse é o Caminho de Formiga, e você pode ler os artigos anteriores aqui. Dúvidas, sugestões, críticas e elogios, é só deixar nos comentários.

Obrigado e até a próxima!

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