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As Cavernas de Aço – Futuro reconhecível!

As Cavernas de Aço

Comunidades super-populosas, com um ressentimento mútuo e evidente por uma classe mais abastada e –muito – melhor instalada, vivendo uma circunstância que sacrifica empregos e gera uma revolta que marginaliza um terceiro grupo em minoria. Nada estranho o aparecimento de grupos radicais, dispostos a ações mais violentas. Embora pareça a descrição de algo ocorrendo neste exato momento, em algum lugar, esse é o cenário resumido de As Cavernas de Aço, de Isaac Asimov, e essa característica em questão talvez seja o ponto mais forte da obra.

Isaac Asimov

Isaac Asimov

Publicado em 1953, em três partes, na antologia Galaxy Science Fiction, e em 1954 como o décimo primeiro livro do autor, é uma trama envolvendo robôs, ramo da ficção-científica que será sempre associado a ele. Caso você não seja um iniciado neste universo, é bom citar que as histórias de Asimov sobre robótica são fundamentadas em regras chamadas As Três Leis, que são:

1) Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.

2) Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.

3) Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Lei.

Ilustração de capa de uma edição norte-americana, mostrando Elijah Bailey e Daneel Olivaw!

Ilustração de capa de uma edição norte-americana, mostrando Elijah Bailey e R. Daneel Olivaw!

Fazendo um contraponto interessante com um livro anterior – o indispensável Eu, Robô – que, por sinal, apresentou esses conceitos, As Cavernas de Aço, conforme indicado no primeiro parágrafo, tem um peso distópico diferente. O título faz referência às gigantescas edificações super-lotadas que abrigam as grandes cidades, em um futuro muito distante onde a humanidade dominou as viagens hiperespaciais.  A conquista do espaço, que poderia ser a solução para o aperto terráqueo, paradoxalmente cria outro problema, pois as antigas colônias da Terra já se declararam independentes há muito quando a história começa. Controlando tudo de perto e restringindo a imigração, os chamados Siderais se mantém em uma sociedade fechada, sem se importar com a inimizade criada. Piorando o cenário, os robôs, mão-de-obra completamente aceita nos mundos Siderais, vão aos poucos ameaçando os empregos dos terráqueos, criando uma hostilidade declarada contra os trabalhadores artificiais e  que dá origem às ações de um grupo extremista.

Homenagem do artista Giovanino, fã do universo criado por Asimov!

Homenagem do artista Giovanino, fã do universo criado por Asimov!

Com este pano de fundo estabelecido, a ficção-científica encontra o romance policial, colocando a investigação do assassinato de um eminente Sideral, ocorrido na Terra, como o evento que impulsiona a história. O investigador nova-iorquino Elijah Bailey é escalado para o caso, pressionado a resolve-lo antes que gere complicações políticas, mas apesar da jurisdição, os Siderais exigem que Bailey tenha um parceiro destacado por eles. Entra em cena R. Daneel Olivaw, que apesar de passar por um humano perfeito, é um robô!

Uma representação diferente da dupla de protagonistas, para outra edição!

Uma representação diferente da dupla de protagonistas, para outra edição!

Lutando contra o incômodo de trabalhar com um robô, Bailey vive uma situação bem semelhante a vários personagens que já vimos por aí, sobretudo em narrativas policiais. É importante contextualizar, lembrando o ano de publicação para dar o devido valor à obra. Uma grande qualidade do livro é o seu ritmo muito agradável e fluido, ainda que um detalhamento maior daquele mundo em geral faça falta. O caráter pessimista da situação é realmente muito interessante, mas parece perder-se um pouco dentro da necessidade da resolução do crime e dos problemas entre a dupla de protagonistas. Pontualmente, a narrativa insinua um aprofundamento e lembra o leitor de como a vida é difícil naquele futuro, mas fica apenas nisso e em seguida voltamos para o “Quem é o culpado?”. De qualquer forma, a agilidade do texto acaba compensando isso, proporcionando uma boa experiência e justificando seu sucesso. Essa notoriedade até rendeu um episódio da série Story Parade, da BBC, adaptando o livro em 1964, com Peter Cushing no papel de Elijah Bailey e John Carson como Daneel Olivaw.

Confira uma pequena amostra desta adaptação pouco conhecida:

As Cavernas de Aço não é o melhor trabalho de Isaac Asimov, indiscutivelmente, mas merece o investimento do tempo do leitor. Como conceito, é tão bacana que até inspirou a série Almost Human, da Fox… Ok, foi cancelada, mas foi uma iniciativa bem melhor do que aquele filme com Will Smith!

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