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A Marca do Zorro – Capa & Espada de raiz!

Zorro e as bases do conceito de justiceiro mascarado

É um fato que as histórias de aventura de antigamente podem entediar uma parcela do público atual, que já nasceu em meio aos clichês sedimentados no início do século XX. Neste caso, por que se dar ao trabalho de investir um precioso tempo de leitura com A Marca do Zorro (The Mark of Zorro), que Johnston McCulley começou a escrever em 1919? Em primeiro lugar, existe algum interesse da sua parte em entender como o conceito de herói mascarado chegou ao que conhecemos hoje nos quadrinhos e outras mídias? Em caso afirmativo, pronto! Já vale seu tempo por isso, mas não é só, felizmente.

Pense bem e responda com sinceridade. Qualquer personagem em uma situação de revolta contra uma ordem estabelecida corrupta já tem um apelo incontestável, não é? Colocar os poderosos arrogantes ridicularizados por um aventureiro irônico e carismático já rende algo e Zorro esbanja carisma. Não é à toa que entrou no imaginário popular e nunca mais saiu.

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Resenha do livro A Marca do Zorro

A Marca do Zorro

Sucesso quase instantâneo

McCulley apresentou sua criação ao mundo na publicação pulp All-Story Weekly (confira nosso podcast sobre os heróis dos pulps), com a história serializada chamada A Maldição de Capistrano (The Curse of Capistrano). Após seu final e a consequente aclamação do novo justiceiro mascarado, a aventura ganhou edições únicas e ganhou o nome de A Marca do Zorro. Tanto sucesso rendeu uma adaptação para o cinema já em 1920, com Douglas Fairbanks no papel principal.

Em 1940, a produção mais aclamada com o herói chega às telas com Tyrone Power no papel principal. Versão, aliás, citada por Frank Miller em O Cavaleiro da Trevas, como o filme que o jovem Bruce Wayne assistiu com os pais na noite em que eles morreram. Uma relação bastante próxima, aproveitada de forma muito conveniente pelo roteirista. Enfim, vamos ao livro, publicado aqui já há alguns anos pela Panda Books.

Dentro do contexto do México colonial, já caminhando para a independência no começo do século XIX, o povo sofre com a tirania do Exército espanhol, respondendo a um governador abusivo. A aristocracia faz vista grossa enquanto tem seus privilégios garantidos, enquanto um fora-da-lei mascarado desafia o poder local. Graças a uma habilidade inigualável como espadachim e cavaleiro, ele rouba dos poderosos para ajudar os pobres, humilhando e castigando fisicamente autoridades locais, quando estes vão além na maldade.

Señor Zorro está sempre um passo à frente dos militares, justificando seu codinome. Para quem não sabe, a palavra significa “raposa” em espanhol. Enquanto o galante justiceiro faz os poderosos de bobos, o jovem Don Diego de La Vega, da família de maior prestígio na região, vive uma vida de ócio sem comprometer-se com nada. Disposto a cortejar a filha de Don Carlos Pulido, nobre que caiu em desgraça por discordar do governo, deixa claro que o faz apenas por imposição do pai, sempre decepcionando a garota. Esta, aliás, começa a sentir-se atraída pelo foragido por conta de uma série de eventos inesperados.

Resenha do livro A Marca do Zorro

Guy Williams (1924 -1989) e Johnston McCulley (1883-1958).

Problemas da época?

Ok, quase um século depois, não é segredo para ninguém que o vadio Don Diego é secretamente o Zorro. Johnston McCulley apoiou sua narrativa em surpreender o público com isso no final, nem de longe imaginando o sucesso que teria. Exatamente por isso, os eventos em A Marca do Zorro foram pensados para uma história única do personagem, mas o público queria mais, forçando o autor a retomá-lo, ignorando eventos chave desta apresentação.

Feito esse esclarecimento, chega a ser um exercício interessante imaginar se os leitores da época não descobriram essa “virada” bem antes da metade. Aliás, comparando com outras obras egressas dos pulps que já comentamos aqui (como Vermes da Terra e A Sombra do Abutre), a estreia de Zorro perde pontos por algumas obviedades difíceis de ignorar. Isso até mesmo se lido por alguém que nunca ouviu falar no personagem. A própria caracterização no disfarce de Don Diego como playboy é exagerada, além de um maniqueísmo bastante ingênuo.

Também é preciso deixar passar a forma com a qual alguns personagens se referem aos índios, com o agravante de que não estamos falando dos vilões. Além disso, mesmo lutando contra a opressão, o próprio protagonista deixa clara sua noção de superioridade intrínseca da nobreza sobre o povo. Não são ideias que partem apenas como impressões dos personagens, mas algo que realmente fez parte do imaginário de uma época, infelizmente. Se McCulley escreveu com base em suas próprias convicções ou procurando atingir um público médio, não é importante para nossa apreciação.

O próprio fechamento da história traz uma conciliação forçada entre as forças antagônicas, deixando certos patifes sem a devida punição catártica. Eis mais um momento em que é interessante tentar colocar-se no lugar de uma pessoa da época, imaginando se a resolução pareceu satisfatória para o público daquele momento.

Resenha do livro A Marca do Zorro

O Zorro da TV, vivido por Guy Williams!

Os detalhes que justificam a longevidade de Zorro

A Marca do Zorro, de certa forma, ainda vale a leitura pelos mesmos motivos que garantiram seu sucesso em seu lançamento original. Com um protagonista que encanta pela audácia, movido por uma causa nobre, a ação não dá descanso em cerca de 300 páginas. Se você acha que existe pouco conteúdo para algo deste tamanho, é preciso frisar que o ritmo e o formato do texto nos levam por esse passeio como se estivéssemos assistindo a uma bela matinê.

Se em 1919, a palavra de ordem era produzir narrativas que fizessem as pessoas esquecer as agruras da vida real, essa lógica ainda é pertinente hoje. Perfeito para relaxar, sem grandes complexidades ou descrições, para ler na condução, em qualquer sala de espera ou fila. São parágrafos e capítulos curtos que passam em um piscar de olhos.

Ainda tem o valor histórico para quem gosta de super-heróis. Principalmente para os fãs de um certo Homem-Morcego. Também interessa aos admiradores da famosa série de TV da Disney, de 1957, que eternizou Guy Williams como Don Diego. Entre as curiosidades em torno da adaptação, o sempre lembrado Sargento Garcia foi adaptado a partir do Sargento Pedro Gonzalez, bem mais cruel do que o alívio cômico da TV. Bernardo, o criado cúmplice, também foi bastante modificado.

No fim das contas…

Não espere que A Marca do Zorro mude sua vida. Com expectativas devidamente controladas e a consciência de que várias coisas ali eram novidade há um século, é um passeio bastante agradável. Quem já conhece a série da Disney ou as produções clássicas, sentirá vontade de revê-las e ainda vai se divertir bastante. Quem não conhece ou não lembra de A Lenda do Zorro, segundo filme com Antonio Banderas no papel, deve continuar assim…

Aproveitando, segue a bela abertura do seriado com Guy Williams!

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