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A Arte da Visão Vol. 1 – Fellini dispara contra o mundo!

Fellini abrindo o jogo em A Arte da Visão

Imagine que você, prezado(a) leitor(a), ganha a oportunidade de conversar durante alguns dias com um dos maiores cineastas da história do cinema. Na pauta, o mundo. O dele e o nosso. Os críticos Goffredo Fofi e Gianni Volpi viveram este momento único durante o mês de abril de 1993, quando foram recebidos por Federico Fellini em seu estúdio, localizado na cidade de Roma. O que seria uma homenagem em forma de entrevista, já que o diretor italiano havia ganho um Oscar pelo conjunto da obra e estava em todos os jornais e revistas de seu país, tornou-se um papo sincero entre três homens apaixonados por cinema. E o mais importante: a gente pode participar dele.

(Confira também nosso texto sobre o livro História do Cinema Mundial)

A entrevista com Fellini em A Arte da Visão

A Arte da Visão

A Arte da Visão, lançado aqui no Brasil pela editora Martins Fontes, é uma edição de bolso “gigante”. Isto porque cada linha é uma descoberta, cada parágrafo revela uma visão única do cotidiano de um dos criadores mais lúdicos da Sétima Arte. A maioria das perguntas de Fofi e Volpi parte de períodos históricos vividos por Fellini e também de seus filmes, mas, como criativo incurável que era, o cineasta faz com que suas respostas nos levem para dentro de suas ideias.

Ao assumir que, depois de algumas tentativas de ser totalmente verossímil em seus filmes, optou por filmar seus devaneios, pois é assim que encara os problemas e as alegrias da vida. Fellini realiza a fantasia de todos nós, que é fazer do mundo o nosso circo, onde os sonhos não se contentam em ficar apenas em nossos travesseiros.

Mais uma revelação de A Arte da Visão: Fellini era o entrevistado dos sonhos de qualquer jornalista. Não bastasse seu conhecimento de arte e literatura, suas aventuras da infância e juventude são um roteiro pronto (aliás, não deixe de assistir o lindo Que Estranho Chamar-se Federico, dirigido por outro mestre italiano, Ettore Scola) e há espaço para que tudo isso ande lado a lado em suas frases. E como falava esse Fellini!!!!

Perguntas de uma linha rendem páginas de respostas suas. Fala dos problemas políticos de seu país e já emenda uma indicação de restaurante, sem esquecer de lembrar de uma história engraçada ocorrida em um set. Ufa! É preciso fôlego para acompanhar o ritmo frenético da mente felliniana, mas uma pequena pausa e um copo d’água são suficientes para seguir para o capítulo seguinte.

A entrevista com Fellini em A Arte da Visão

Federico Fellini (1920-1993)

Os colegas de profissão na pauta

É adorável perceber sua admiração por Stanley Kubrick, até uma certa invejinha da vastidão de gêneros pelo qual o americano passeou, ou então a relação próxima com o modo de usar a câmera de Roberto Rossellini. Ainda têm os monstros, que vão do fascismo ao vizinho suspeito e a paixão por Nápoles e Roma, onde cada esquina era tratada por Fellini como um cômodo de seu lar.

A edição brasileira conta com oito fotos assinadas por Paul Ronald no set de 8 1/2, sem dúvida o filme que melhor reflete a alma de Fellini, e pequenos comentários de diretores como Milos Forman e Costa-Gavras sobre seus filmes que, depois de mais de 60 páginas de confissões cinéfilas, parecem um tanto rasos. Ao final da leitura, mesmo o leitor menos chegado em cinema vai perceber que está diante de um grande homem que tentou transformar as criações de sua mente em obras de arte. E conseguiu.

Tão emocionante quanto uma sessão de Amarcord é uma tarde lendo A Arte da Visão. A aura de gênio se esvai e o que sobra é um garoto encantador de 73 anos, daqueles que você adoraria ter ao lado em uma mesa de bar. Desce mais uma, garçom, que o Federico chegou!

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