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Wonderful 101 – A pérola esquecida de Kamiya

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Lançado em novembro de 2013, Wonderful 101 foi o primeiro jogo da Platinum Games para o Wii U e apesar de ser fruto da aclamada imaginação de Hideki Kamiya, acabou permanecendo um tanto obscuro no já impopular console da Nintendo. Cobranças por um uso mais priorizado do gamepad, excesso de informação na tela, comandos inicialmente confusos, câmera fixa, e um nível de desafio acima da média da geração explicam em parte as baixas vendas do jogo.

A verdade é que se trata de um título onde a paciência do jogador para se adaptar a uma curva de aprendizado mais lenta e um tanto punitiva é fundamental para uma completa apreciação de seu viciante e divertido conteúdo.

A aventura tem início com um prologo bastante ágil, que ao mesmo tempo serve de tutorial e já inicia o jogador na comedia de ação frenética que o espera. Nele controlamos um professor primário tímido e inseguro, com características caricatas e exageradas no melhor estilo do humor non sense japonês, que se transforma num super-herói atrapalhado a partir do sequestro do ônibus onde viajam seus alunos. Com cores vibrantes e traços chibi que de imediato farão o jogador se lembrar de Viewtiful Joe, um dos grandes acertos de Kamiya na sexta geração de consoles, Wonderful 101 é mais um dos vários títulos da biblioteca do Wii U que engana e até mesmo frustra o jogador com sua estética lúdica e aparentemente casual.

Ainda durante o prologo ficamos sabendo que essa alteração da ordem na pacata cidade onde iniciamos o game foi causada pelos alienígenas Geathjerk, já derrotados no passado pelos Wonderful Ones e que, novamente na Terra, forçam nossos 100 protagonistas a unir forças para salvar o planeta. E conforme cada herói vai se apresentando na trama o jogador tem a chance de aplaudir o esmero da Platinum ao criar personalidades, designs e habilidades únicas para cada um deles, a despeito do fato de que toda ação do jogo se baseia em movimentos coletivos. Sempre baseados em estereótipos carismáticos e um tanto exagerados, os 100 wonders são introduzidos aos poucos ao longo do jogo.

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Conforme conhecemos Green, o gordinho de sotaque afetado que come o tempo todo, Pink, uma power girl claramente inspirada nos trejeitos de Bayonetta, Blue, o impetuoso “sabe tudo” do grupo, Red, o idealista meio ingênuo, Beetle, o representante brasileiro, e tantos outros, é impossível o jogador não se identificar com pelo menos um elemento do grupo e se sentir parte dessa jornada que ganha o universo. Daí a sacada do nome, pois o wonder de número 101 é o próprio jogador.

Falando agora da jogabilidade, ponto central das divergências em torno do game, todas as ações executadas dependem do domínio da habilidade Unite Morph, aprendida no tutorial através da execução de um punho e que posteriormente se amplia para espada, peso, escudo, ponte e até mesmo um tumulo com o qual enterramos nossos oponentes, entre outros formatos igualmente criativos. É dada ao jogador a opção de realizar esses movimentos tanto através de diferentes desenhos na tela do gamepad, o que num primeiro momento parece a opção mais logica, visto ser esse o diferencial do console, ou do analógico direito, que acaba surpreendendo pela maior precisão. É verdade que por conta de uma tela desde o início dominada por uma multiplicidade de inimigos, itens e cidadãos pedindo socorro, o domínio de cada forma da unidade pode parecer um desafio cansativo e até um pouco falho no começo, porém se trata de uma mecânica que uma vez dominada, consagra The Wonderful 101 como um título original e inesquecível na memória do jogador que o finaliza.

Esse caos, aliás, não é novidade para aqueles que acompanham as criações de Hideki Kamiya. Enquanto progredimos, o tempo todo vamos nos deparando com inimigos variados, idealizados em cores, designs e movimentos surpreendentes e que requerem diferentes estratégias de agrupamento para serem derrotados.

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As referências a Devil May Cry e Bayonetta não são poucas e como nesses outros trabalhos do diretor, o apelo visual é fator de destaque. Cada cenário apresenta inimigos grandiosos e passa ao jogador a sensação de estar o tempo todo enfrentando um boss final, mesmo nos primeiros capítulos. E não é só nos inimigos que a variedade surpreende, mas também nos cenários. Poucas vezes na história dos jogos se viu transições ao mesmo tempo tão drásticas e bem adequadas, fazendo o jogador passar de ambientes cotidianos, como um estacionamento de shopping, para atmosferas mais sombrias, onde lutará com monstros e robôs gigantescos, para até mesmo a ganhar o espaço. Trata-se de um verdadeiro show de diversidade.

E cada uma dessas passagens é justificada por um enredo muito bem roteirizado, que faz piada de si mesmo o tempo todo e torna criveis e imersivas até as situações mais absurdas, ao mesmo tempo em que confere credibilidade a alguns conflitos mais dramáticos que se apresentam a alguns personagens e dá certa maturidade bem dosada a história.

Outro ponto positivo do jogo é o fator replay. O modo hard, que é desbloqueado após a finalização do jogo no normal, não se limita a aumentar a dificuldade, mas se empenha em oferecer um conteúdo verdadeiramente novo. Trazendo inimigos e chefes em novas apresentações, perspectivas de batalhas que não foram vistas anteriormente, exigindo planejamento diferenciado para vencê-las e até mesmo a busca de novas rotas para a descoberta dos caminhos mais escondidos do jogo, esse modo agrega valor ao jogo como poucas opções de New Game + têm feito atualmente. E os segredos, assim como os combates, não são entregues de mão beijada ao jogador em nenhum dos modos, não há dicas nem sinais de qual é a melhor estratégia a seguir, seja na resolução dos puzzles ou nas lutas.

Durante o gameplay não é raro o jogador “empacar”, seja na busca pelo caminho correto para avançar ou durante um embate especialmente desafiador. É muito compreensível que essa complexidade tenha causado a rejeição de um bom número de jogadores, pois demanda uma boa dose de tempo e paciência que há tempos não é exigida e sinceramente num primeiro momento nos leva a questionar se todo esse comprometimento tão pouco usual valerá a pena.

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The Wonderful 101 conta com um repertorio de ideias originais e ousadas que precisam ser encorajadas numa indústria que tende a optar pela zona de conforto, mesmo que de certa forma seja um pouco deslocado do nosso tempo. Ele insere o jogador num mundo frenético, onde é preciso agir de maneira intuitiva, o tempo para pensar é pouco e o aprendizado acontece no antigo modelo de tentativa e erro, nos levando a morrer muitas vezes até aprender sozinhos a dominar cada cenário. Essa dinâmica pode não agradar a todos, mas revive o sentimento de desafio que levou a maioria de nós a amar os games em primeiro lugar.

Apesar de trazer uma cobrança alta, a Platinum foi impecável ao oferecer um gameplay justo e balanceado, uma história ao mesmo tempo engraçada e tocante e uma execução impecável. A essa altura sabemos que se trata de mais um trabalho único e genial dessa equipe, que infelizmente cairá no esquecimento da indústria rapidamente, ao passo que se tornará referência para aqueles que tiveram a chance de aproveitá-lo.

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