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Uma Razão Para Viver – Estreia frustrada de Andy Serkis na direção!

Uma Razão Para Viver não passa de um drama medíocre

Há uma separação dentro do melodrama que pode ser chamado como filme de doença, normalmente com histórias extraordinárias de pessoas que conseguiram seguir em frente mesmo em condições terríveis de saúde. Um caso recente é o meloso e superficial A Teoria de Tudo, que mostra como a doença não deteve o físico Stephen Hawking. O problema é que esse sub-gênero é o mais fácil de cair em clichês e tornar o drama excessivo ou raso. Estreando na direção, o ótimo ator Andy Serkis (Planeta dos Macacos: A Guerra) decidiu contar a história do casal Cavendish, mas sua primeira investida em Uma Razão Para Viver (Breathe) não podia ser mais frustrante.

Crítica de Uma Razão Para Viver

Uma Razão Para Viver

O filme acompanha quarenta anos de Robin (Andrew Garfield) e Diana (Claire Foy), um jovem casal apaixonado cujas vidas são mudadas a partir do momento em que ele é diagnosticado com pólio, aos 28 anos. Por conta da doença, Robin fica paralisado da cabeça aos pés, com dificuldades para falar e só consegue sobreviver graças a um respirador. Com a ajuda de um amigo, Robin consegue desenvolver uma cadeira de rodas que garante a ele uma nova vida, além de contar com o amor incondicional da sua esposa.

A história é fascinante e bonita, mas não adianta nada com um roteiro extremamente mal construído. O texto de William Nicholson é, no mínimo, rasteiro. É tudo mal explicado e expositivo. É citado em quatro momentos, em menos de dez minutos, que Robin precisa de um respirador para viver. O desenvolvimento da trama e dos personagens também é de uma pobreza enorme. Além dos mesmos clichês de vários filmes, não foi criada uma linha narrativa tênue e orgânica, mas episódica e cansativa.

Esses problemas não são creditados apenas ao roteiro, mas também à montagem equivocada de Masahiro Hirakubo. Só perceber a quantidade de elipses – e eu não estou brincando – no primeiro 30 minutos. É tudo tão rápido que não conseguimos nem ver os personagens, só os atores. Não há Robin e Diana, mas Claire Foy e Andrew Garfield, este carregando um sotaque britânico que ficou bem esquisito. Fora isso, cenas muito longas, sem a noção de finalização no tempo certo. No final, a montagem não atinge seu objetivo de criar coesão e coerência narrativa, só mesmo um amontoado de situações.

Crítica de Uma Razão Para Viver

Notas sobre a direção do estreante

Como citei no texto de Deserto, sempre ficamos esperançosos em ver como será um ator estreando como diretor. Pois achamos que ele deve ter aprendido muito trabalhando com outros diretores, não? Pena que não foi o caso de Andy Serkis, que é um ator magnífico, isso é um fato. Como diretor, infelizmente, erra nos conceitos mais básicos do ofício.

Primeiro, mostra que não sabe filmar, criando planos que pouco dizem à narrativa, ou mesmo cedendo a clichês manjados. Exemplo: a silhueta do casal apaixonado se beijando e se abraçando no pôr do sol, semelhante às cenas de várias novelas da Globo. Na fotografia, Robert Richardson (A Lei da Noite) faz o trabalho mais medíocre de sua carreira. Além dessa falta de habilidade em posicionar a câmera, Serkis erra na mise-en-scène ao não deixar clara a geografia do local. Percebam a cena em que Diane e Robin se conhecem enquanto ele joga críquete:

Ela olha para a direita, mas ele está à esquerda. Ele retribui olhando para a esquerda, mas ela está à direita.Se essa explicação já é confusa, imagine a tal cena no filme. O diretor não consegue deixar clara sequer a área da residência do casal. Parece frívolo, mas é um detalhe que faz diferença na coerência interna e na compreensão da trama.

Crítica de Uma Razão Para Viver

E agora o inaceitável: quando um ator vira diretor, o mínimo que se espera é que tire boas atuações. Em Uma Razão Para Viver os coadjuvantes estão esquecíveis e o casal protagonista se mostra bem irregular. Por que essa irregularidade? Simples, Andy Serkis quis evitar o melodrama pesado e optou por um tom mais leve como se fosse um conto de fadas. Então, eles podem estar na pior das situações, mas estão sorrindo, principalmente Robin.

Não há atuações de peso dramático, ao mesmo tempo em que não há sutileza ou minimalismo nos trabalhos de Claire Foy e de Andrew Garfield. Ela se sai um pouco melhor, enquanto ele varia de cenas que está apenas bem, para outras onde suas caras e bocas transformam a coisa em uma comédia involuntária. Há uma sequencia em que o cachorro do casal acaba desligando o respirador de Robin. Em uma decisão errada da direção, temos um close onde Garfield faz caretas e sons estranhos, tirando toda tensão que deveria ser construída. É um trabalho bem irregular de um ator que se mostrou tão bom esse ano com Até o Último Homem e Silêncio.

Enfim, não há mais o que falar sobre Uma Razão Para Viver. Não passa de um drama fuleiro, que poderia ter sido feito por qualquer um. Não cobro de diretor iniciante um trabalho digno de um Oscar, mas que me entregue o arroz com feijão. No caso, o arroz está duro e sem sal e o feijão azedou. Que na próxima versão de Mogli, Serkis mostre alguma evolução como diretor.

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