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Nós, Eles e Eu – Guerra em vão!

Nós, Eles e Eu

O conflito entre israelenses e palestinos existe desde o final do século 19, quando os judeus começaram a migrar para o antigo Império Otomano, com o intuito de fundar o Estado de Israel. A partir daí, as desavenças foram tomando proporções cada vez maiores, chegando à situação praticamente insustentável em que se encontra hoje. Colocar o dedo nessa ferida é algo extremamente delicado, principalmente quando há identificação com um dos lados. Em um conflito tão grande, que dura tanto tempo, torna-se praticamente impossível apontar um lado que seja o “certo”, e é exatamente isso que nos mostra o diretor Nicolás Avruj, com seu Nós, Eles e Eu (NEY: Nosotros, ellos y yo) de forma absolutamente arrebatadora.

Nós, Eles e Eu

Iniciativa surpreendente vinda de um argentino, Avruj gravou seu documentário no início dos anos 2000, quando em uma viagem de caráter, aparentemente, despretensioso à Israel, resolveu ir ao cerne de tudo, ao coração do conflito, para que pudesse ele próprio documentar todos os eventos. Ainda na primeira parte do filme, o diretor deixa claras suas raízes sionistas , detalhe que – em um primeiro momento – pode deixar o espectador desconfiado, mas assim que chega às zonas de conflito, o diretor mascara seu passado e transmite uma imparcialidade absolutamente sincera.

Aliás, ele demonstra também muita coragem ao se expor e entrar no meio de áreas recém bombardeadas, hospedando-se em casas de árabes extremamente intolerantes com os judeus. Obviamente sem revelar suas origens, Avruj faz dessa passagem um dos pontos mais interessantes do filme, já que os anfitriões recebem seu hóspede de maneira extremamente receptiva, enfatizando assim o humanismo daquelas pessoas e não seu comportamento hostil.

Nós, Eles e Eu

A constatação de que todos são culpados,de que nessa imensa bola de neve já não existe mais propósito, se dá em quatro momentos: No primeiro, um árabe pergunta ao diretor de que lado ele está, e o jovem responde de com surpreendente retórica: “por que eu devo estar de algum lado?”. O segundo momento acontece quando um árabe afirma que odeia judeus, apenas por serem judeus, e isso os torna “porcos”. No terceiro momento, o diretor faz um longo plano das atrocidades cometidas pelo governo de Israel, quando o mesmo resolveu destruir as casas de palestinos, para poder construir conjuntos habitacionais exclusivos para israelenses. Por fim, já no final do documentário, um árabe afirma: “Antes da colonização britânica, éramos todos irmãos”.

A montagem do filme é extremamente eficaz por dois pontos. Ela ocorre de maneira concisa e ágil, assim o espectador não perde nenhuma informação acerca dos acontecimentos, além de não cansar-se. Mas o que ocorre de mais interessante aqui é testemunharmos o registro de uma viagem de três meses, onde – além de acompanhar a progressão dos conflitos – o espectador acompanha a progressão do próprio Avruj, tanto como realizador quanto pessoa, o que enriquece e humaniza ainda mais a obra.

Nós, Eles e Eu

Com Nós, Eles e Eu, Avruj capturou mais do que imagens de uma guerra, pois conseguiu retratar dois lados que, devido a uma rusga do passado e dogmas que já não fazem mais sentido – se atacam de maneira selvagem, destruindo-se pouco a pouco. Ao final, um gosto amargo na boca devido às situações que presenciamos, mas também a satisfação de um grande filme e da grande experiência humana vivida.

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