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Independence Day: O Ressurgimento – Não temam, fãs!

Independence Day: O Ressurgimento foi comentado no Formiga na Cabine!

Independence Day: O Ressurgimento

Um dos pontos mais altos da explosiva carreira do alemão Roland Emmerich se deu com Independence Day, lançado em 1996. Mesmo considerado um filme medíocre na época, conseguiu reunir uma legião de fãs com sua temática, destacando novamente as invasões alienígenas. O sucesso foi tremendo, porém, mesmo sendo muito requisitada, uma sequência não era ordenada pela Fox. Em 2014, finalmente foi anunciado o tão aguardado novo filme e agora, vinte anos depois da estreia do original, ele chega aos cinemas. Surpreendentemente, trata-se de um bom filme, muito autoconsciente de suas próprias limitações narrativas.

Assim como no tempo real, passaram-se vinte anos desde os eventos cataclísmicos que quase provocaram a extinção dos seres humanos. A humanidade colocou suas enormes diferenças internas de lado para se concentrar na proteção de ameaças vindas do espaço. Contando com a ajuda involuntária das tecnologias sucateadas dos aliens, houve um salto tecnológico expressivo. A Terra mais se parece com uma utopia, a conquista da lua já se tornou uma realidade, assim como a viagem rápida, de pouco custo, para o espaço.

Independence Day: O Ressurgimento

Porém, sobreviventes que tiveram contatos imediatos com os alienígenas durante a invasão profetizam sobre seu inevitável retorno – e como os homens perderão a guerra dessa vez. Nisso, novos heróis são apresentados, assim como outros personagens queridos do filme passado marcam seu retorno expressivo. Felizmente, para nós espectadores, os profetas estavam certos, no entanto há uma diferença entre essa invasão se comparada com a do clássico: dessa vez, os alienígenas levaram a luta para o pessoal. Não se trata mais de dominação global, mas sim de extermínio cirúrgico e rápido. Cabe agora à nova brigada de proteção mundial frustrar os planos dos invasores mais uma vez.

Assim como tantos outros blockbusters, Independence Day: O Ressurgimento (Resurgence) é escrito por um batalhão de roteiristas, mas dois nomes importantes do original retornam: o próprio diretor Roland Emmerich e Dean Devlin. Logo, há certa ênfase no trabalho com os personagens já conhecidos, como David Levinson, o presidente Whitmore e Brakish Okun. Os melhores momentos do filme ainda permanecem com eles. Tudo melhora por conta das energéticas interpretações de Jeff Goldblum, Bill Pullman e Brent Spiner, claramente se divertindo com o trabalho. Inevitável então, acabarmos nos divertindo com as besteiradas apresentadas no decorrer das ligeiras duas horas de projeção. Aliás, é impressionante a habilidade em reapresentar personagens já esquecidos para os espectadores que só viram ao primeiro filme uma vez. Todas as introduções se explicam por meio da força das imagens e, em último recurso, com algum flashback. A ausência de Will Smith aqui não chega a ser sentida.

Independence Day: O Ressurgimento

A dupla acertou em renovar o subgênero do disaster movie, já um tanto batido. Os núcleos clássicos centrados em paramédicos, bombeiros e policiais, ou de outras profissões nem tão interessantes, são rapidamente deixados de lado. Assim, nos concentramos nos arcos dos militares e dos cientistas que se convergem até se tornarem um só ao clímax. A verdade é que Emmerich trabalha muito melhor sua narrativa de diversos pontos de vista já abandonando, muito acertadamente, as manias de roteiristas em desenvolverem uma jornada de herói clássica. Aliás, é bem curioso notar as distinções entre essa sequência com a obra anterior. É possível notar certa preocupação em aglomerar boa quantidade de etnias, assim como inserir romances tanto heterossexuais como homossexuais. Além de trazer muitos espectadores por conta dessa proposta, essa escolha também reforça a mensagem de forte união, paz, tolerância e colaboração entre os humanos que o filme apresenta.

Como havia dito, Emmerich aprendeu com 2012, um pretenso drama no fim do mundo. Aqui quem manda é a diversão e nisso ele acerta 100% das vezes. A história do longa é raquítica, o pouco do drama que existe sempre é diluído em atos de heroísmo através de planos militares que também são resolvidos com facilidade – isso não torna a jornada para a vitória mais rápida, claro.

Independence Day: O Ressurgimento

Nessa nova abordagem dos alienígenas, o texto trata a história com muito mais urgência do que a vista no clássico. Tudo se passa em questão de poucas horas dentro do dia de 4 de julho. Os aliens estão muito mais agressivos, mas emboscando os humanos com planos um tanto engenhosos, pacientes, para um filme desse porte. Os novos personagens conseguem segurar as pontas também, mantendo o mínimo interesse do espectador – personagens clichês na verdade, mas sendo autoconsciente, Emmerich opta sempre por inserir um drama ou romance básico aliado a explosivas cenas de ação, que com certeza distraem o público dessa notória deficiência.

Os poucos problemas são já muito típicos do gênero e dos filmes do diretor. Temos muitas conveniências de roteiro, algumas pontas soltas, exposição além da conta, auto explicação de situações em cena, o desperdício de boas ideias e também a falha em explicar porque raios os alienígenas levaram vinte anos para vingar seus mortos quando podem cruzar o espaço em um piscar de olhos. Aquela verdade universal dos blockbusters também se faz valer aqui: se acabar pensando demais sobre o que foi visto, nada fará sentido e o filme perderá seu brilho. Na hora, é uma história eficiente que se amarra de modo razoável. O único erro imperdoável do time de roteiristas é a ausência de um novo discurso digno para o presidente Whitmore – o presidente dos presidentes da História do Cinema (desculpe, Harrison Ford). Ainda considero o discurso proferido pelo personagem no filme de 1996 o mais épico de todos os tempos.

Independence Day: O Ressurgimento

Para o filme realmente se carregar, muito se deve à direção de Roland Emmerich, que parece ter entendido que seu estilo não é o melhor do mundo. Temos aqui o melhor trabalho dele em anos por conta de não ficar insistindo nas suas marcas autorais duvidosas, mas sim copiando o estilo de outros cineastas conceituados. A primeira parte do longa – a melhor – apresenta núcleos que remetem Indiana Jones, com uma aventura no Congo e outras aventuras espaciais na base lunar.

O cineasta favorito para mimetizar aqui, tanto em decupagem como atmosfera, é Steven Spielberg. Impossível negar a semelhança desse trabalho de câmera de Emmerich com os feitos de Spielberg em Jurassic Park – muito disso é visto no clímax. A movimentação do aparato é muito bem definida, as composições fogem do visual sem graça que os blockbusters vêm trazendo, a fotografia é diversa, saturada na medida certa e muito bem encorpada com distintos jogos de luzes e sombras – alguns parecidos até com Alien, o Oitavo Passageiro, além de contar com diversos planos de contemplação do olhar dos personagens para a catástrofe causada pelos invasores. Tudo isso é muito próprio ao querido cineasta Spielberg, mas ele não copia somente o estilo deste realizador em particular.

Independence Day: O Ressurgimento

Também há referências das batalhas intergalácticas de George Lucas e J.J. Abrams, assim como a exploração do estilo de destruição pós-cataclismo que Gareth Edwards exibiu com Godzilla de 2014, além de um toque de Guillermo Del Toro com Círculo de Fogo. Na longa sequência de destruição global, então, sim, finalmente Emmerich mostra o que sabe fazer de melhor. Os efeitos visuais nunca foram tão eficientes e bem empregados em uma obra desse gênero. Fica explicito ali porque nunca entregaram a sequência antes – faltava a tecnologia necessária para criar efeitos tão complexos e majestosos. Até mesmo o 3D, tão banal em diversas produções, é empregado com maestria. Uma pena que tenhamos tão poucas sequências de destruição em massa para este filme.

Nisso, também há o ótimo exercício de linguagem nas sequências de ação. É fácil entender os confrontos aéreos entre os humanos e os aliens por mais ligeira e histérica que a montagem fique. Pelo fato de Emmerich não ser preguiçoso, temos o deleite de observar diversos pontos de vista que poderiam gerar uma grande confusão visual, mas que acabam se unindo muito bem pela montagem orgânica. Assim como seus atores, o diretor trabalha com muita paixão pelo que está construindo para nós. Portanto, carisma é o que não falta aqui. As únicas vezes que ele erra feio acontecem quando o diretor volta para os tempos de 2012, com piadas visuais que só conseguem arrancar risos de crianças que ainda estão nas fraldas.

Independence Day: O Ressurgimento

Não lhe engano, caro leitor. Independence Day: O Ressurgimento com certeza não é um excelente filme, mas eu me diverti um bocado com a ação e a comédia deste longa tão autoconsciente. Cada vez mais vejo que obras despretensiosas caem no gosto do público e, nesse caso, espero que aconteça de novo. Trata-se de entretenimento de muito boa qualidade, mesmo que envolto em uma história nada fantástica, mas que, por competência, não cai nas tradicionais armadilhas do gênero. Se procura um bom filme de ação, repleto de efeitos visuais da mais alta qualidade, pode vê-lo tranquilamente.

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