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Gostosas, Lindas e Sexies – Se minha geladeira falasse…

Mais uma comédia pecando pelo excesso

Gostosas, Lindas e Sexies é um filme de autoafirmação. Dirigida pelo estreante Ernani Nunes, a comédia brasileira é protagonizada por um grupo de mulheres normalmente retratadas com baixa autoestima. Acompanhamos o dia-a-dia de quatro amigas, todas acima do peso, convivendo com uma sorte de situações que seriam parte da vida de mulheres modernas em uma metrópole. Uma espécie de Sex and the City Plus Size.

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Gostosas, Lindas e Sexies

Porém, autoestima não é um problema para elas, muito pelo contrário. Elas são bem sucedidas, se sentem ótimas e sabem curtir a vida. Têm seus romances, seus negócios, suas carreiras, etc. E é exatamente aí que começam os problemas no filme, que peca em diversos aspectos por seus excessos. Tentando se utilizar de um estigma de que mulheres acima do peso normalmente sofrem, por conta de padrões estéticos da sociedade, ele apresenta exatamente o contrário, já que a vida delas parece sem quaisquer problemas relacionados a tal estereótipo. Justamente por isso, os conflitos da trama parecem deslocados.

(Confira também as críticas de La Vingança, uma comédia brasileira bacana, e Amor no Divã, que nem precisava existir)

Muito bem, vamos começar pela personagem principal, vivida por Carolinie Figueiredo. Sua personagem tem uma vida feliz como jornalista, um belo e carinhoso namorado (André Bankoff) e parece perfeitamente satisfeita. Porém, repentinamente ela apresenta uma nova persona que se deixa levar por um desejo instantâneo. O problema é que tudo isso acontece sem uma motivação eficiente do personagem. Ela não apresentava qualquer sinal de ser capaz de fazer tais escolhas anteriormente. Ela simplesmente muda sem qualquer demonstração de insatisfação ou vontade de mudança, sem qualquer fator externo ou indicação de um caráter volúvel, tornando sua personalidade confusa e sem objetivo aparente.

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A comédia é focada em mais três personagens: Cacau Protásio é uma rica dona de salões que não consegue um par romântico, Mariana Xavier vive uma “pegadora” com um misterioso quarto e Lyv Ziese interpreta uma atriz de temperamento forte (o único personagem um pouco mais trabalhado), que sofre com um marido infiel. Nada disso é spoiler, já que o trailer mostra tudo.

As quatro atrizes demonstram alguma química em determinadas cenas juntas, normalmente cheias de diálogos corriqueiros que tentam parecer naturais. Porém, suas tramas sofrem do mesmo problema: são rasas, desconexas e inverossímeis. O resto do elenco, que apresenta alguns atores mais renomados, não compromete mas parece sem vontade e subutilizados. Paulo Silvino e Marcia Cabrita aparentam estar posicionados aleatoriamente,  Juliana Alves é desperdiçada em cena e a Marcos Pasquim e Eliane Giardini couberam papéis um pouco maiores, mas sem muita credibilidade.

Sempre o roteiro…

No roteiro, assinado por Vinicius Marquez, as cenas parecem soltas. Em uma entrevista recente, os criadores de South Park, Matt Stone e Trey Parker, disseram que, quando estão escrevendo os episódios da série, eles analisam como uma cena se liga a outra. Se elas começam por “e então isso acontece” o roteiro tem problemas. As cenas devem começar por “portanto” ou “mas então”. Isso porque um roteiro deve mostrar consequências das cenas e não uma sucessão delas. No filme, as cenas não são devidamente amarradas para fazer a trama avançar ou resolver conflitos. Elas apenas estão ali.

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Quando se tentam inserir alguns conflitos na trama, somos apresentados às antagonistas (mulheres magras, em claro contraponto visual das protagonistas), que são vilãs caricatas e novelescas. Suas tentativas de se mostrarem superiores através da arrogância e humilhação são inócuas e sem inteligência. Cada trama parece sem desafio e vão se resolvendo sem esforço. Além disso, algumas soluções são simplesmente contadas por personagens no estilo “me falaram que tal coisa aconteceu”. A sensação é que faltou uma cena mostrando “o que aconteceu”. Nessa toada, varias pontas vão ficando soltas pelo caminho. Também há problemas nos quesitos técnicos, como o ritmo da montagem e a fotografia, que usa uma série de planos acrobáticos mas sem função narrativa.

O filme até se esforça em ser cômico, porém utiliza-se de soluções fáceis e artifícios batidos que o deixam cheio de clichês. O estilo de comédia brasileira é muito focado na atuação de comediantes acostumados à linguagem de televisão, mas ela funciona em esquetes e nem sempre de adéqua ao formato cinematográfico. É preciso que o roteiro seja mais fluido com uma história fechada, para que, em cima de uma narrativa eficiente, esses atores e comediantes possam derramar seu talento.

Na busca pelo público médio brasileiro, que normalmente só vai ao cinema assistir comédias povoadas por atores “globais”, Gostosas, Lindas e Sexies, não acrescenta muito ao cinema nacional. Pelo menos, para quem procura algo mais engraçado que ninjas e uma geladeira falante.

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