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O Sequestro – Os descaminhos de uma atriz talentosa!

O Sequestro é mais uma das escolhas equivocadas de Halle Berry

Em X-Men – O Filme, o mundo foi devidamente apresentado à figura de Halle Berry. Bela, talentosa e com uma forte presença em cena, ela logo chamou a atenção de diretores e executivos de Hollywood. O seu sucesso foi tão imediato que, um ano depois, participou do filme A Última Ceia e levou o prêmio de Melhor Atriz no Oscar daquela temporada. Evidentemente, as expectativas ao redor dos seus próximos projetos se tornaram muito altas. No entanto, assim como aconteceu com Hillary Swank, parece que a estatueta se transformou em uma maldição e, desse momento em diante, a maioria das suas escolhas foi desastrosa. A mais recente delas é o fraquíssimo O Sequestro (Kidnap).

Crítica do filme O Sequestro, com Halle Berry.

O Sequestro

Neste longa escrito por Knate Lee e dirigido por Luis Prieto, a atriz dá vida à personagem Karla Dyson. Mãe solteira de um garotinho – o simpático Frankie (Sage Correa) – e trabalhando como garçonete em um restaurante, ela se desdobra para dar atenção e uma vida digna ao filho. Juntos, os dois formam uma dupla sintonizada e amorosa. Porém, quando Frankie é raptado por uma mulher durante um passeio no parque, a possibilidade de separação faz com que Karla parta em uma longa perseguição de carro na intenção de impedir que qualquer mal recaia sobre o seu filho.

Diante dos nomes envolvidos (Knate Lee é conhecido pelos “roteiros” da franquia Jackass) e o histórico de Berry nos últimos anos, o primeiro ato de O Sequestro é surpreendentemente bom. Assim como A Chegada, o filme também começa com uma série de elipses realizadas com o intuito de registrar o passar dos anos e estabelecer com solidez a conexão emocional entre uma mãe e o seu filho. Tocando singelamente ao fundo, o tema musical composto por Federico Jusid também auxilia na formação de um sentimento. Em poucos minutos, o espectador já simpatizou com os personagens e compreendeu a ligação que existe entre eles.

Posteriormente, quando os créditos iniciais já foram exibidos, em uma longa cena desenrolada no ambiente de trabalho de Karla, a montagem permite que o espectador se familiarize com o cotidiano da protagonista, relatando com cadência o esforço realizado por ela diariamente para sustentar o filho. Além disso, a partir do momento em que ocorre o sequestro e o espectador percebe que, em vez da típica trama detetivesca e repleta de pausas para respirar, acompanhará uma perseguição de carro pelo resto da história (um Mad Max – Estrada da Fúria numa escala muito menor), surge uma prazerosa sensação de novidade.

Crítica do filme O Sequestro, com Halle Berry.

Curiosamente, essa opção, que tinha tudo para ser o principal destaque, acaba se transformando no calcanhar de Aquiles da produção. Todavia, o nascedouro desse defeito não é o roteiro. Aliás, Lee consegue explorar satisfatoriamente a sucessão de eventos, sempre entregando um número suficiente de informações, mas nunca deixando que o mistério por trás do sequestro se torne previsível (os erros cometidos pelo roteirista se encontram na inclusão de uma informação totalmente desnecessária envolvendo o pai e a guarda de Frank, na irregularidade cronológica do áudio captado por um dispositivo sonoro e na presença ineficiente de um instante de suspense logo depois do clímax).

Na verdade, um dos maiores responsáveis pela ineficiência do segundo ato e parte do terceiro é Luis Prieto. Com a exceção das escolhas feitas nos primeiros minutos, na cena que se passa em uma casa no desfecho da história e de um ou outro instante específico, todas as suas decisões se mostram completamente equivocadas, a começar pelo emprego excessivo das chamadas tomadas de helicóptero. Já iniciando o filme com uma delas (inclusive, o recurso de começar a narrativa antecipando uma das últimas cenas é usado sem propósito algum), ele as repete sem que exista um motivo real para isso. Em alguns casos, até consegue ilustrar o campo cênico e recriar a sensação das perseguições de carro comumente transmitidas pela televisão, mas esse tipo de efetividade é rara na condução do diretor..

Já no momento em que Frankie é sequestrado, ele sofre para estabelecer a lógica de cena e da demarcação dos atores. Quando se afasta para atender um telefonema, Karla não só está próxima do filho, como também olha para ele o tempo todo. Isso cria uma situação em que era impossível o garoto ser levado por alguém sem que ela notasse ou ouvisse algo. Nas cenas de perseguição, por sua vez, o cineasta é incapaz de extrair toda a sua tensão, uma vez que recorre a movimentos de câmera ineficientes e emprega recursos de uma cafonice assustadora (os fade-outs usados pela montagem durante uma freagem do carro são risíveis). Em um filme construído quase que inteiramente sobre a premissa de uma longo encalço automobilístico, esse é um problema estrutural sério.

Crítica do filme O Sequestro, com Halle Berry.

Aonde foi parar o talento de Halle Berry?

Contudo, a culpa pelo fracasso de O Sequestro não é apenas de Prieto. Repetindo os exageros vistos em Mulher-Gato e outros filmes, Halle Berry – claramente trabalhando com a liberdade do improviso – está tão caricata que toda a sutileza mostrada no início entre ela e o filho é desperdiçada em razão dos seus excessos faciais e verborrágicos. É difícil acreditar na apreensão de uma mulher que não para de gritar e fazer cara de assustada.

Deste modo, a atuação fora de tom de Halle Berry e a direção inapropriada de Luis Prieto acabam por sabotar os méritos do roteiro de Lee. Caso fosse realizado na época em que a atriz vivenciava os seus melhores dias e estivesse nas mãos de um cineasta mais talentoso, O Sequestro seria um filme bem melhor. Na forma em que se encontra, é só mais uma das péssimas escolhas feitas por Berry nos últimos anos.

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