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Fala Comigo – Uma proposta que não se completa!

O filme Fala Comigo não vai muito além das boas intenções

Vencedor do prêmio de melhor filme de ficção no Festival do Rio 2016, o nacional Fala Comigo é uma obra que parece querer dialogar com diversas questões. Primeiro, como o título e as primeiras cenas indicam, com a falta de comunicação entre as pessoas. Depois, com a solidão que isso causa. Por fim, com o amor proibido pelos tabus da sociedade. Entram ainda as descobertas da juventude, as experimentações da sexualidade e fetiches inusitados.

(Interessado em Cinema Nacional? Confira também as críticas dos recentes Soundtrack e Os Pobres Diabos)

Crítica do filme Fala Comigo

Fala Comigo

Diogo (Tom Karabachian) é um adolescente de 17 anos que costuma ligar anonimamente para as pacientes de sua mãe terapeuta (Denise Fraga) e se masturbar ouvindo a voz delas. Uma dessas pacientes é Ângela (Karine Teles), uma mulher de meia idade cujo marido saiu de casa. Depressiva e com tendência suicida, ela confunde as ligações silenciosas de Diogo com uma possível tentativa de reconciliação do marido. É dessa não-comunicação que mais adiante nascerá um vínculo amoroso entre ela e o filho de sua terapeuta.

Com uma premissa tão interessante, é uma pena que quase todas as questões colocadas pelo longa acabem sendo tratadas de maneira superficial e sem desenvolvimento. Isso acontece não pela ausência de boas intenções em torná-las relevantes para a história, mas pela inabilidade que o filme tem de construí-las se utilizando de lacunas na narrativa.

São essas lacunas, por exemplo, que não permitem uma compreensão mais profunda de como a relação entre Diogo e Ângela evolui à revelia dos pais do jovem. Se a intenção era fazer esses hiatos reforçarem a ausência de comunicação dentro da casa do rapaz, o efeito acaba soando apenas apressado. De um momento para outro, o que era sexo e desejo salta para uma relação estável sem uma construção narrativa mínima.

Crítica do filme Fala Comigo

Pontas soltas pelo caminho

A experimentação da sexualidade na juventude é outro exemplo de ponta solta no meio do filme. Algo que poderia realçar as nuances e as complexidades de se descobrir sexualmente acaba sendo tratado de forma pueril, sem qualquer consequência ou questionamento. É nesse ritmo que as questões com as quais o longa parecia querer dialogar vão se perdendo pelo caminho sem qualquer evolução.

Há, no entanto, um arco interessante nessa história, que é o de Diogo com sua mãe. Ela se revela de forma bastante contundente em dois diálogos entre eles. Num primeiro momento, ouvimos sua mãe pedindo que ele se levante do divã, como se aquele fosse um lugar proibido para ele ou como uma metáfora do quão pouco ela está disposta a ouvir e entender suas angústias. Mais adiante, já com a crise familiar instalada, é ele quem se recusa a entrar no consultório, dizendo que não vai deitar no divã da mãe.

Esses dois momentos sintetizam de forma muito apropriada o arco da relação desses personagens, abrindo caminho para a transformação de Diogo por meio de uma ruptura definitiva na já frágil estabilidade familiar. Esse momento só não é mais poderoso devido ao fraco desenvolvimento dos personagens. Nesse sentido, nem o talento de Denise Fraga e de Karine Teles se mostra suficiente para dar a dimensão que seus papéis poderiam ter.

Crítica do filme Fala Comigo

Ainda assim, Teles se destaca na atuação, principalmente pelo contraste com o ainda iniciante Karabachian. São dela algumas das melhores cenas e é ela quem salva outras do total constrangimento, como a do jantar com os amigos de Diogo.

Embora premiado e elogiado como diretor de curtas e como roteirista de filmes como Hoje e Campo Grande, Felipe Sholl não encontra um bom caminho nessa sua estreia em longa-metragem de ficção. Ficam claras, desde o início, suas ousadas e interessantes propostas. O resultado, porém, deixa a desejar, e muito dessas intenções se diluem em um conjunto cujas partes não formam um todo consistente.

Apesar de suas boas premissas, Fala Comigo acaba se tornando um filme morno. As relações que ele pretende desenvolver ficam perdidas na superficialidade de uma construção que não funciona. Os conflitos de seu protagonista nunca parecem ser suficientemente profundos e alguns desenlaces do roteiro se mostram tão artificiais que acabam tirando o espectador da trama. No fim, é como se todas as promissoras intenções convergissem para uma simples história de amor proibido em que o único interesse é saber se ela terá ou não um final feliz.

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