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Colossal – Quanto maior a altura, maior a…

Colossal subverte a proposta dos filmes de Kaijus

Kaijus, aquele tipo de monstro gigante popularizado pelo cinema e seriados japoneses, tem um apelo considerável na cultura do entretenimento. A nova versão hollywoodiana de Godzilla e Círculo de Fogo estão aí para provar isso, mesmo que não agradem a todos. Só que, por mais que essas criaturas sejam bacanas, é um tanto difícil fugir da fórmula da catástrofe superlativa, não? É exatamente por isso que um projeto como Colossal (idem) já se mostra interessante em sua premissa, subvertendo a mera destruição para contar uma história capaz de gerar empatia por sua protagonista, a verdadeira razão de ser do longa. Isso, é claro, antes de se perder lá pela metade de seus 109 minutos.

Crítica de Colossal no ar

Colossal

Dirigido e roteirizado pelo espanhol Nacho Vigalondo, já indicado ao Oscar pelo curta 7:35 De La Mañana e responsável pelo bacaníssimo Crimes Temporais (comentado em um Formiga Na Tela), Colossal segue a jornada de Gloria (Anne Hatawhay). Desempregada e passando suas noites em festas regadas a muito álcool, ela acaba expulsa do apartamento que dividia com o namorado. Sem a menor perspectiva em Nova York, ela é obrigada a voltar à sua cidade natal e ocupar a casa que pertenceu aos seus pais.

A situação na pequena cidade não é muito melhor, sem muitos recursos e nem muita atitude, mas ela recebe a ajuda de Oscar (Jason Sudeikis), velho conhecido de infância que nunca saiu de lá. Dono de um bar, ele a contrata como funcionária e se mostra prestativo e protetor, mas o aparecimento de um Kaiju em Seoul, que o mundo acompanha estupefato, vai complicar essa relação. Inexplicavelmente, a criatura que se materializa na capital coreana se mexe de forma idêntica e simultânea aos movimentos corporais de Gloria, mas apenas quando esta se encontra em uma área e horário específicos de um parque local.

Crítica de Colossal no ar

Metáforas psicológicas sobre comportamento destrutivo, alcoolismo e alterações de humor à parte, no mínimo, a ideia primordial do roteiro de Vigalondo aguça a curiosidade. Quando a protagonista percebe que ela e o Kaiju estão conectados, as dúvidas naturais dela sobre o que realmente está acontecendo são as mesmas do público, que espera que a produção entregue um desfecho à altura desta boa premissa. Infelizmente, conforme avança, o roteiro vai mostrando suas fragilidades e arestas, entrando no terceiro ato já cambaleando e finalizando de uma forma decepcionante.

Não chega a ser um spoiler incluir a informação de que haverá um antagonismo direto para Gloria, brotando em algum momento desta história. Se não, seria muito fácil para ela nunca mais pisar no parque e evitar arriscar vidas. A partir do momento que o filme revela qual será este conflito, a coisa ainda se mantém interessante, mas levar isso adiante é o verdadeiro problema. Alguns minutos das idas e vindas dos personagens poderiam ser descartados sem prejuízo na montagem. Além disso, na hora de costurar as pontas, Colossal descamba para o flashback didático e frustra o espectador que esperava algo mais criativo e – por que não? – só um tantinho mais ousado. Uma pena para alguém que já se virou tão bem com orçamento baixíssimo.

Crítica de Colossal no ar

Não chega a ser um desastre, digamos, colossal (com o perdão do trocadilho…)

Apesar de escorregar muito no roteiro, que se mostra realmente o calcanhar de Aquiles da produção, e um pouco no ritmo, a direção de Nacho Vigalondo é correta no geral, evitando que o filme se torne desprezível. Anne Hathaway convence como a perdedora resignada, dentro do tom leve desta proposta, com Jason Sudeikis também levando bem seu papel. Oscar, inclusive, é um personagem mais interessante que Gloria, revelando aos poucos características que encontramos facilmente em pessoas da vida real. Na parte técnica, nada particularmente notável, o que já era esperado pelo foco, convenientemente ambientando à noite as aparições da criatura, o que ajuda na verossimilhança dos efeitos visuais.

Para quem sempre louva a originalidade na aridez criativa da Hollywood atual, Colossal mantém seu mérito apenas como ponto de partida. Já como roteiro finalizado, ou mesmo argumento, perdeu a oportunidade de destacar-se de verdade. Fica a desconfiança se o diretor sofreu algum tipo de interferência, sendo obrigado a abrir mão de sua visão original, mas isso não é o bastante para mudar a percepção sobre um filme. Só resta desejar a Nacho Vigalondo melhor sorte em sua próxima empreitada no esquemão… torcendo para que haja uma, claro.

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