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Esquadrão Suicida – Bandidagem unida!

Esquadrão Suicida foi comentado no Formiga na Cabine!

Crítica - Esquadrão Suicida

Para a Warner, um estúdio com a ideia de construir um universo cinematográfico mais sério e sombrio com os personagens da DC, um filme onde os protagonistas são super-vilões cai como uma luva, não? Terreno fértil para explorar algumas ambiguidades que o concorrente direto prefere deixar de lado, em favor da diversão pura e simples. A ideia está nos quadrinhos desde 1987, quando a editora apresentou sua versão de Os 12 Condenados, com inimigos de heróis conhecidos e reciclando o nome Esquadrão Suicida (Suicide Squad) de uma antiga e breve série publicada a partir de 1959.

O filme homônimo deste grupo disfuncional se situa após os eventos de Batman Vs. Superman, valendo-se deles como motivação para Amanda Waller (Viola Davis), influente nos bastidores do Departamento de Defesa dos EUA, criar sua Força Tarefa X. Com a liderança em campo do Coronel Rick Flag (Joel Kinnaman), os vilões encarcerados na penitenciária de Belle Reve são cooptados como grupo de ação tática em troca da redução da pena, mas, como uma garantia é necessária para o caso de fuga, eles têm nano explosivos injetados em suas cabeças. Entre meta-humanos e gente comum com habilidades excepcionais, temos Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), Diablo (Jay Hernandez) e Amarra (Adam Beach). Completam o grupo Magia (Cara Delevingne), uma arqueóloga possuída pelo espírito de uma bruxa e Katana (Karen Fukuhara), acompanhando a equipe como suporte à liderança de Flag.

Crítica - Esquadrão Suicida

Não demora muito para uma ameaça de respeito aparecer, que é melhor não comentar, forçando o grupo a testar-se, além do Coringa (Jared Leto) barbarizando pela cidade com o objetivo de encontrar e libertar Arlequina, sua musa doentia. Toda essa apresentação é feita de uma forma muito dinâmica e dá um bom fôlego ao filme, com muitos grafismos estilosos nas cenas e o uso de canções conhecidas que casam com cada personagem apresentado. Aliás, o uso da música lembra mesmo um sucesso arrasador da Marvel Studios, Guardiões da Galáxia, mas isso de forma alguma é um demérito.

Raridade neste tipo de produção, o diretor David Ayer, de Corações de Ferro, é o único responsável pelo roteiro. Sempre afirmo que muita gente colocando a mão no mesmo texto é inconveniente, mas é preciso admitir que, neste caso, talvez ele pudesse beneficiar-se (muito) com a ajuda de um roteirista mais experiente (ou “melhor” mesmo, caso queira dispensar o eufemismo) dando um segundo tratamento no que já estava escrito. Sabemos que filme de origem é complicado para qualquer realizador, piorando a situação quando se trata de um grupo, mas fica claro que, além dos panos de fundo para cada integrante da trama, a imaginação de Ayer foi bem limitada.

Crítica - Esquadrão Suicida

Os problemas começam antes da missão, quando já é possível perceber quem vai morrer. Baixas eram inevitáveis, ou o título do filme perderia o sentido, mas a obviedade é muito forte e poderia ser melhor disfarçada com um pouco mais de esforço. Isso desconsiderando que já é evidente quem sobrevive para a continuação, não é? Bater na tecla de alguns dramas pessoais também acaba telegrafando situações posteriores, sensação que os trailers acabam potencializando. Sorte sua se conseguiu se manter longe deles.

Com um primeiro e segundo ato que surpreende aqui e ali, para um filme dessa natureza e com classificação etária baixa, Esquadrão Suicida tem personagens que vinham convencendo na vilania, apesar da ausência de sangue. O melhor componente deste caldo é a própria Amanda Waller, cujo pragmatismo e ar durão a colocam em pé de igualdade com os tipos a seu serviço. Viola Davis faz um ótimo trabalho na caracterização e valoriza o filme, juntamente com o carisma de Will Smith e Margot Robbie na linha de frente da equipe. Sim, Jared Leto também entregou um Coringa digno, tomando um rumo bem diverso de Jack Nicholson e Heath Ledger. Por outro lado, Joel Kinnaman faz o cinéfilo mais informado lamentar que o talentoso Tom Hardy não tenha ficado com o papel de Rick Flag.

Crítica - Esquadrão Suicida

Mencionei no início a disposição do estúdio em investir em caminhos mais sombrios para seu catálogo de personagens, mas, ao término da projeção, essa orientação não parece mais tão clara. Não é uma questão de expectativa frustrada, só que o filme acaba não bancando até o fim suas opções iniciais. Chegando ao terceiro ato, hora de costurar as pontas, certas motivações e comportamentos antissociais destes criminosos são esquecidos, ou virados do avesso, dentro da necessidade de deter a tal grande ameaça, talvez grande até demais para as capacidades dos envolvidos. Os tradicionais alívios cômicos também estão lá, claro, nem sempre funcionando como deveriam e lembrando um pouco mais o já citado sucesso da Marvel.

Mesmo com tudo isso, a produção ainda acerta ao investir em uma identidade visual muito própria. Além dos grafismos, David Ayer trouxe seu diretor de fotografia em Corações de Ferro e Marcados para Morrer, Roman Vasyanov. Neste quesito, o filme abraça sua paleta de cores quando é necessário e foge do cinzento que vimos em O Homem de Aço e BvS, mesmo com muitas cenas noturnas. Claro que isso não faria diferença sem um bom desenho de produção. Oliver Scholl, que já havia feito um ótimo trabalho em O Agente da U.N.C.L.E., se sai muito bem na concepção destes ambientes, transitando do sóbrio militar ao extravagante e colorido sem que isso pareça estranho. Por fim, mas não menos importante, os figurinos de Kate Hawley, de A Colina Escarlate, cumprem sua função na harmonia visual.

Crítica - Esquadrão Suicida

Esquadrão Suicida fica devendo pelo potencial, mas não chega a decepcionar e seus acertos fazem valer a sessão. Ainda não ficou claro qual tom a Warner vai realmente seguir com esse Universo DC cinematográfico e o filme sofre com essa indecisão, mas nada que justifique virar a cara. Por ora, melhor nem pensar nisso e apenas curtir essas duas horas de diversão sem compromisso.

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