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Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme

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Quando somos crianças, é claro que o universo é mais simples e suas regras mais puras. Charles Schulz criou sua tira – Peanuts – em 1950, para nos explicar isso e nos ajudar a entender como funciona a cabeça das crianças, e ele assim o fez durante 50 anos. Só que o universo dos adultos, além de mais chato e complicado, também pode ser mais triste, e Schulz nos deixou em fevereiro de 2000, carentes de seu talento e sentindo a falta de Charlie Brown e seus amigos.

Felizmente para todos nós, o universo das crianças, ainda que diferente daquele de 1950, ainda é regido por regras semelhantes, e os Peanuts ainda podem ajudar a explica-lo. Com o esforço genuíno dos descendentes de Schulz, aliados ao talento de um bom diretor de animações, Steve Martino (Horton e o Mundo dos Quem, Era do Gelo 4), esses personagens voltam à vida no cinema, agora em 3D. O fato do filme ser fruto do trabalho do filho e do neto de Schulz cria o devido respeito à obra original, com um resultado que não poderia ser melhor: uma ode atemporal ao personagem que encarna um pouco de todos nós, nos melhores anos das nossas vidas. Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme (The Peanuts Movie) é um apanhado de tudo que tornou a tira de Schulz conhecida nesses 50 anos. Está tudo lá: os sucessivos fracassos de Charlie Brown, a imaginação surreal de Snoopy, Lucy, Schroeder, Linus, Patty, Sally, jazz, neve, adultos que soam como trombones… É como voltar para casa.

Snoopy & Charlie Brown

A trama se divide em duas. A principal, que conta a epopeia de Charlie Brown para chamar a atenção do seu amor platônico recém-chegado à escola, a menininha ruiva, e a subtrama, em que Snoopy escreve as aventuras do Às dos Ares, brilhantemente interpretado por ele mesmo, acompanhado do seu escudeiro Woodstock, para lutar contra o terrível Barão Vermelho e resgatar sua amada Fifi. Quem conhece de cor as tiras talvez ache isso um pouco mais do mesmo, mas é clara intenção dos realizadores de atualizar esses personagens clássicos para uma nova geração, sem deixar sua essência se perder. Por isso, a opção pela animação digital. E que acerto! O desenho mantém os traços clássicos de Schulz, principalmente nas expressões faciais tão características dos Peanuts, sem medo de manter os personagens tão caricatos quanto nas tiras. Em determinados momentos, a animação se assemelha bastante a um stop motion, o que é um ponto tremendamente positivo, por exemplo, nos momentos cômicos.

Snoopy & Charlie Brown

É curioso também notar que o filme, apesar de ser uma atualização, não cede aos maneirismos e lugares comuns contemporâneos. Não se vê celulares, computadores, videogames nem nenhuma dessas tralhas tecnológicas que dragam a atenção e a criatividade das crianças de hoje. Mesmo assim, o filme é inerentemente divertido, e qualquer criança, como as que estavam na sessão da cabine de imprensa, vai conseguir rir muito com os apoteóticos fracassos de Charlie Brown, tentando chegar em sua pequena musa ruiva.

A escolha de Steve Martino para a direção é um tiro na mosca. Ele, que vem da direção de dois bons sucessos em animação digital infantil, consegue imprimir um bom ritmo, equilibrando com perfeição as gags cômicas e os momentos mais dramáticos, tornando o conjunto extremamente fluido para crianças e adultos. São 90 minutos que passam como se fossem 15. Sobre a versão dublada brasileira, vá tranquilo, amigo leitor. O texto é simples, então nada se perde com a tradução e o trabalho dos dubladores é hilário. Assistimos a uma parte da versão original em inglês e podemos afirmar que nada da qualidade do filme é prejudicada.

Snoopy & Charlie Brown

A única crítica que um fã de velha guarda pode fazer é também uma das maiores concessões que o filme faz para a nova geração, na tentativa de atualizá-lo. Se você é fã das maravilhosas peças de soft jazz de Vince Guaraldi, que se tornaram icônicas nas clássicas adaptações dos anos 60 e 70, foram deixadas de lado para dar lugar a uma trilha sonora mais reconhecível pelo público infantil atual. Resta somente o tema clássico Lucy e Linus, que se tornou uma espécie de tema dos Peanuts. Uma decisão compreensível, mas não deixa de ser uma oportunidade perdida de apresentar o delicioso trabalho de Guaraldi para essa criançada, que anda tão necessitada de referências culturais mais abrangentes.

Snoopy & Charlie Brown

Resta esperar que venha mais Charlie Brown e Peanuts por aí. Seja no cinema, na TV ou onde quer que seja. As crianças precisam, nós precisamos, o mundo precisa que Charlie Brown o explique para nós. Afinal de contas e apesar de tudo, quem não gostaria de ser um pouco o Charlie Brown? Ou Lucy? Ou Schroeder? Ou Patty? Só não seja o Chiqueirinho, por favor…

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