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Reza a Lenda – Esqueça Mad Max!

Reza a Lenda

A primeira coisa que preciso dizer é: assista a Reza a Lenda!

Fazer cinema no Brasil é difícil. De verdade. Posso dizer isso por experiência própria, então imagine como conquistar um público acostumado com comédias clichês e filmes de violência urbana – sempre passados em comunidades específicas – ou raros dramas autorais? Desculpem-me a generalização, mas é verdade. Enfim, Reza a Lenda é um filme corajoso, pois tenta quebrar esse estigma, procurando enveredar por um gênero pouco ou nada familiar aos produtores brasileiros: um Road Movie de ação.

Reza a Lenda

Primeiro longa de ficção do diretor e roteirista Homero Olivetto, foi antecipadamente chamado de “Mad Max do sertão”, o que é uma grande jogada, comercialmente falando, pois atrai um público que já gosta e está acostumado com o gênero. Por outro lado, coloca um peso absurdo nos ombros da produção nacional, principalmente pelo recente retorno da franquia com Mad Max: Estrada da Furia (George Miller, 2015), aclamado pelo público e boa parte da crítica. Baseado em um conto, criado pelo diretor quando estava na faculdade, e cheio de referências de filmes e quadrinhos, a obra fala sobre um grupo de motoqueiros que tem uma missão religiosa: encontrar a imagem de uma santa que pode trazer a chuva de volta para o sertão, atravessando as paisagens secas e áridas do nordeste e enfrentando inimigos perigosos atrás da mesma coisa.

Reza a Lenda

O filme levou mais de 20 anos desde a sua concepção até chegar às telas. Difícil não associar o nome do diretor com seu homônimo grego, uma vez que sua missão também pode ser descrita como uma odisseia. Com um orçamento de 7 milhões, mais de 500 efeitos visuais, boas sequências de perseguição e de luta, o filme também conta com atores conhecidos do público nacional. Nomes como Cauã Reymond (que participa da produção, inclusive), Humberto Martins, Sophie Charlotte, o sempre competente Júlio Andrade, além de caras novas como Luisa Arraes e Jesuíta Barbosa.

Coletiva de imprensa com diretor e elenco!

Coletiva de imprensa com diretor e elenco!

Por tudo isso, mais uma vez gostaria de insistir: assista a Reza a Lenda!

Apesar de todo o lado bom da produção, preciso ser honesto como crítico e como espectador. O filme não segura o peso, principalmente pela falta de experiência técnica. O diretor vem de uma longa trajetória de filmes publicitários e alguns curtas, com o roteiro do longa Bruna Surfistinha (Marcus Baldini, 2011) como seu trabalho mais famoso até agora. Reza a Lenda é um projeto pessoal é cheio de paixão e excelentes intenções. Na coletiva de imprensa, tivemos acesso a detalhes muito interessantes, como a cultura regional e a forma como a religiosidade e o coronelismo ainda comandam esse universo real, mas paralelo, que estavam na ideia original do filme e que, infelizmente, não podem ser plenamente percebidos na realização do mesmo.O roteiro, que também é assinado por Newton Cannito (Cidade dos Homens, 2004) e Patrícia Andrade (Gonzaga –  De pai para filho, 2011), tem até boas sacadas, como a utilização dos balões de São João, mas apresenta dificuldades na construção de um universo ficcional convincente, por vezes perdendo-se nas próprias regras quando apresenta soluções quase “mágicas” e motivações difíceis de aceitar. Apesar de tudo, é possível acompanhar a narrativa até o final.

Cauã Reymond e Luisa Arraes

Cauã Reymond e Luisa Arraes na coletiva!

A fotografia foi pouco ousada, principalmente para explorar uma região tão poética como o sertão. Depois do que Breaking Bad, a série genial de Vince Gilligan, fez com a paisagem do Novo México, não existe desculpas para ser “econômico” em uma paisagem árida. Os efeitos visuais também precisavam de uma atenção maior.

As atuações foram bem soltas, exageradas ao extremo em alguns casos, mas com bom destaque para o veterano Humberto Martins. Cauã Reymond esteve abaixo de atuações mais interessantes, como na série global Amores Roubados, mas não compromete. Já a trilha musical deixa a desejar, já que é deslocada e irritante em alguns momentos, sem acrescentar a emoção correta à cena.

Reza a Lenda

Enfim, o filme está muito aquém da expectativa para um blockbuster brasileiro, mas merece ser visto, principalmente, pela coragem e pela ousadia do pioneirismo em um mercado tão medroso como o do cinema nacional. Qualidades que os personagens do filme tentaram trazer para as telas, com todas as limitações e desconfianças que alguém que pretende criar algo novo enfrenta. É preciso relevar as comparações do gênero para que ele cresça e amadureça, assumindo que precisamos de mais Homeros, criando e errando quantas vezes forem necessárias.

Apesar de todos os erros e acertos, vale lembrar: assista a Reza a Lenda!

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