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Presságios de um Crime – Toque brazuca em Hollywood!

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Assistindo ao nacional 2 Coelhos, é difícil perceber que trata-se do filme de estreia de um diretor. Não é perfeito, claro, mas a habilidade de Afonso Poyart com a câmera é admirável, e se ali ficou uma ideia do que ele pretendia para sua carreira, em Presságios de um Crime (Solace) isso se escancara. Assumidamente fã do cinema de Steven Spielberg, Poyart chegou a um nível de autoria que poucos conseguem em um primeiro longa em Hollywood, sem esquecer o fator entretenimento.

Joe Merriweather (Jeffrey Dean Morgan) e Katherine Cowles (Abbie Cornish), agentes do FBI, estão atrás de um serial killer que simplesmente faz suas vítimas sem deixar vestígio algum. Percebendo-se incapaz de resolver o mistério sozinho, Merriweather pede ajuda a um amigo e ex-detetive, Doutor John Clancy (Anthony Hopkins). O que a parceira Cowles não sabe é que Clancy tem o dom da vidência, capacidade que utilizará durante a investigação. À medida que o caso progride, os protagonistas descobrem que o assassino é Charles Ambrose (Colin Farrell), também vidente e com os poderes ainda maiores que os de Clancy, criando assim um perigoso jogo de gato e rato.

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É interessantíssimo como Poyart, já na abertura, consegue mostrar que manteve seu estilo de filmagem. O filme começa com um plano-detalhe, focado no olho de uma pessoa, quando um movimento nos distancia de forma abrupta e, enquanto se afasta, revela que aquela é uma vítima do assassino. Trucagens também são sua especialidade, chamando atenção como brinca com o espectador, dando sequência a uma cena para, em seguida, revelar que era na verdade um presságio. Ainda com a câmera, o cineasta mostra versatilidade ao criar uma perseguição de carros – muito bem orquestrada, por sinal – sem tornar a cena confusa para o público. Outra opção inteligente foi filmar a maior parte dos momentos fora das cenas de crime com uma câmera solta, fazendo de maneira mais firme os trechos onde os personagens encontram-se envolvidos pelos crimes, passando a impressão de que estão à vontade naquele ambiente.

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Escrito por Sean Bailey e Ted Griffin, o roteiro acerta ao colocar as convicções dos personagens sempre em xeque, com grandes dilemas morais inseridos para engrandecimento da trama. A construção de personagens se mantém um dos pontos fortes do filme, pois faz com que o espectador compre suas motivações, inclusive a do assassino. Talvez, grande problema aqui é não deixar claro até onde vai o poder dos videntes, pois os mesmos usam seus dons em momentos e circunstâncias diferentes. Existem também alguns clichês de gênero, porém, a forma como são utilizados não prejudica a experiência do espectador.

Dentro deste núcleo principal com quatro personagens, todos os atores estão muito focados, realmente, passando verossimilhança em suas atuações. No entanto, é inevitável destacar Hopkins e Cornish aqui. Enquanto o veterano vencedor do Oscar constrói um ex-detetive amargurado com o passado e de olhar melancólico, a jovem passa a ansiedade de sua personagem em seus gestos e na fala rápida.

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O trabalho de som é extremamente funcional. Conforme os personagens entram em lugares perigosos, a música segue crescente e aumenta a expectativa e tensão. Enquanto isso, o trabalho de fotografia de Brendan Galvin também é muito eficiente, sem nunca expor os ambientes dos crimes a uma luz forte demais, ressaltando uma sensação de medo e claustrofobia.

Presságios de um Crime não é só mais um de exemplar qualquer Hollywood, pelo menos não para nós brasileiros. É mais uma afirmação de que existe, sim, muito talento por aqui, provando também que ainda é possível fazer cinema de gênero com qualidade.

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